O salto tridimensional pelo qual o gênero de plataforma passou nos meados dos 1990 parece não ter existido aqui. Antes, Klonoa utiliza a terceira dimensão para ampliar as possibilidades do que se podia fazer em sidescrollers bidimensionas. Chamá-lo de um platformer 2.5D é, ao mesmo tempo, um desserviço e preciso. Por um lado é totalmente inadequado agrupar Klonoa com jogos como NSMB, que simplesmente colocam polígonos numa visão lateral e dizem "trabalho feito". Por outro, nenhum outro game faz mais jus a tal rótulo. Seus níveis circulares e espiralados, que usam e a abusam das múltiplas perspectivas que o eixo Z adiciona, estão justamente nesse espaço transitório entre as dimensões. Os polígonos não são um mero artefato estético dentro de um game que seria nada menos que um sidescroller padrão: eles permitem a criação de níveis criativos, dinâmicos e que são um puro deleite de se atravessar.

O que não quer dizer que as possibilidades estéticas trazidas pela tecnologia 3D sejam irrelevantes ou ignoráveis, muito pelo contrário. O jogo é simplesmente lindo de morrer. As torres e espirais que permeiam esse mundo, com todas suas vivas cores e cheios de personagens que esbanjam carisma, parecem ter saído diretamente de um sonho. Um sonho que você percorre junto de Klonoa, vivendo junto com ele cada momento de sua história simples mas genuinamente emotiva.

Klonoa parece ser a materialização de um dos caminhos não percorridos pelo gênero de plataforma — caminhos suprimidos e abortados pelo surgimento paradigmático de Super Mario 64, que numa tacada só criou uma cisão entre jogos de plataforma 2D e 3D e definiu o molde que os jogos tridimensionais seguiriam dali em diante. "Parece" porque sua própria existência é a prova material de que o caminho em questão foi percorrido e, mesmo que a estrada seja remota e tomada um pouco pelo mato, ela nos leva a lugares quase oníricos de tão fantásticos.

Reviewed on Nov 24, 2021


1 Comment


2 years ago

Sim, mas as duas coisas não são mutuamente exclusivas XD