Chapeuzinho Vermelho é um conto popular que passou por várias iterações ao longo da história, mas a Tale of Tales conseguiu extrair um resultado muito intrigante, agoniante e, em termos de design, inteligentíssimo.

Chapeuzinho segue o caminho do bosque para visitar a avó, apesar da advertência dos perigos de sair do caminho. Chapeuzinho é ousada e pega rotas alternativas. Nela, ela se depara com um Lobo que descobre o destino final da Chapeuzinho, chega lá primeiro, se disfarça da avó e engana a Chapeuzinho, que é salva por um caçador.

Esse é talvez o conto mais simples da Chapeuzinho, mas essa história possui várias versões em seus séculos de existência, algumas que abordam temas muito mais sombrios. São esses temas que encontraremos em The Path.

The Path é um "slow game," um jogo a se queimar lentamente enquanto aproveitamos o caminho, ou no caso desse jogo, a falta dele. Isso é uma provocação clara aos termos do game design, o que eu aprecio e não me surpreende vindo da Tale of Tales.

Vamos começar pelo tópico "caminho" em game design. Se torna quase um mantra. Temos caminhos principais, secundários e atalhos. É esperado um comportamento padrão de quem joga, e os designers precisam ser oniscientes e prever os passos e as posições para garantir o ENTRETENIMENTO. É uma tarefa injusta para as duas partes.

Mas The Path desconstrói isso com uma ordem a ser quebrada e usa a história da Chapeuzinho Vermelho para ilustrar a vontade rebelde dos jogadores em descumprir ordens e explorar tudo, menos os caminhos.

A analogia aqui te coloca na pele de 6 personagens diferentes, cada uma com um conjunto de traumas e memórias que transformam elementos característicos do conto, como o lobo, o lenhador e a casa da avó.

O mais interessante é que, diferente do conceito de caminho alternativo no design que geralmente te entrega uma mecânica concreta, aqui em The Path os caminhos alternativos não entregam uma recompensa, mas um desfecho sinistro em cada uma das 6 personagens. Exploramos o medo e os traumas em diferentes versões do "Lobo" e de outros personagens. Desde os mais clássicos até as iterações mais bizarras, como um lobo que abusa da Chapeuzinho, que ilude a Chapeuzinho, que a alicia em atos ilícitos e muito mais. Mas tudo isso é contado de forma obtusa e abre muito para interpretação.

Esse jogo brinca com um conto famoso, com game design e com nosso imaginário.

Reviewed on Sep 07, 2023


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