Cyberpunk é um subgênero da ficção científica caracterizado por um foco em alta tecnologia e baixa qualidade de vida.

Eu sou apaixonado por essa temática, acho incrível como é possível enxergar no nosso próprio mundo os embriões de várias idéias apresentadas em histórias desse gênero.

Mundos dominados por megacorporações, gentrificação urbana, propagandas em absolutamente todos os lugares possíveis e imagináveis, cidades cada vez maiores e verticais além de problemas sociais cada vez maiores porém relegados a segundo plano.

Meu nome é Thiago Lopes e o que me cativa em tudo isso é o fato de ser algo perfeitamente factível de acontecer em um futuro não tão distante.

Enquanto nos encontramos cada vez mais afastados de um mundo medieval ao ponto de histórias com essa temática parecerem cada vez mais recheadas de fantasia, a temática Cyberpunk dialoga diretamente com o nosso mundo atual e com os problemas existentes nele.

Se Neuromancer, de William Gibson é provavelmente a obra literária suprema dentro desse gênero, em termos visuais provavelmente a estética cunhada por Blade Runner é o que habita o nosso imaginário coletivo.

Mas na minha imaginação, apesar de Blade Runner ainda ditar o que eu considero como a caracterização de um mundo Cyberpunk, não é o filme que me vem a mente, mas sim o jogo do finado westwood studios.

Esse jogo era basicamente um point and click investigativo, eu lembro pouca coisa da história, mas o que me marcou e me faz lembrar desse jogo até hoje é justamente a sua ambientação, a construção daquele universo e como aquilo tudo era apresentado.

E eu não sei dizer se existiu algum tipo de inspiração nesse jogo por parte do pessoal do Ionlands, estúdio responsável por Cloudpunk, mas o tempo todo que passei com Raina e Camus parecia que eu estava jogando algo naquele mesmo universo. Talvez pela ambientação, ou talvez pelo uso de Voxels nos personagens, mas a verdade é que eu não conseguia parar de comparar os dois jogos.

Cloudpunk é mais um daqueles jogos que te pega de surpresa, apresentado inicialmente como um jogo de entregas em um futuro distópico, rapidamente as entregas deixam de ser o centro da ação e o jogo começa a ganhar corpo.

Mas vamos partir do começo, Raina é uma recém chegada na cidade de Nivalis, e essa é a sua primeira noite trabalhando para Cloudpunk. Um serviço de entregas semi-legalizado sediado na cidade. A bordo de seu Hova, um carro capaz de voar pela cidade e acompanhado por Camus, uma inteligência artificial instalada no Hova e que já foi o seu cachorro, cabe a Raina efetuar as entregas determinadas pelo seu contato na Cloudpunk.

A cidade é gigantesca e a Cloudpunk atende a todas as camadas da sociedade, desde a sua medula, onde vivem aqueles que não podem pagar por moradia até as torres de marfim que perfuram o céu cinzento.

O jogo é baseado em histórias e apesar de muitas delas serem desenvolvidas a partir das entregas repassadas a você por Controle, o seu contato com a Cloudpunk, eu senti que as histórias mais interessantes se encontram ao abordar pessoas aleatórias na rua.

Por se tratar de um jogo pequeno, é claro que o estúdio não teria como criar diálogos para qualquer um que você encontrasse na rua, então só existem algumas pessoas com as quais você pode conversar, mas o trabalho em tornar a cidade de Nivalis em algo vivo é de tirar o chapéu.

O fio condutor da história são as entregas, e em diversos momentos é possível escolher o que fazer com elas. É interessante como o jogo te deixa no escuro sobre a maioria das consequências de suas ações mas ainda assim parece que você realmente está fazendo alguma diferença naquele mundo.

O trânsito é caótico, as pessoas se espalham pelas ruas e interagem entre si, vendedores, traficantes de droga, oficiais da Corpsec, empresa responsável pela manutenção da lei, humanos, autômatos, andróides, e toda sorte de “pessoas” se encontram espalhados pela cidade e adicionam uma camada a mais na ambientação do jogo.

A cada entrega Rania é recompensada com créditos que podem ser usados para abastecer o Hova, comprar modificações que melhorem a sua performance ou até mesmo itens cosméticos para o seu apartamento.

Pilotar o Hova de Raina pela cidade é extremamente divertido, os controles respondem como esperado e o fato de não precisar se manter em uma pista pré determinada causa uma sensação de realmente estar livre naquela cidade.

Ao estacionar o Hova é possível caminhar pela cidade e recolher cada um dos coletáveis que se encontram espalhados pelo mapa. Também é nesse momento que se torna possível conhecer pessoas e saber mais sobre a história delas. É nesse momento também que surge a minha maior crítica ao jogo, sua câmera esquizofrênica.

Durante a pilotagem do Hova a câmera funciona muito bem, possuindo até mesmo a opção de mantê-la presa a traseira do carro ou soltá-la para que você observe o mundo a sua volta. Mas ao descer do carro os ângulos de câmera passam a ser fixos, o que acaba causando “brigas” sérias entre a câmera e os controles. Nada sério, mas incomoda e acaba impedindo que você observe melhor o cenário em alguns momentos.

O que é uma pena, porque o jogo é lindíssimo. Ele possui uma estética diferenciada, tudo no jogo é construído com Voxels. Pra quem nunca ouviu falar em Voxel, ele seria o equivalente 3D ao pixel. Minecraft por exemplo é outro jogo totalmente construído com Voxel.

Mas o visual de Cloudpunk é realmente um show a parte. O que o estúdio conseguiu fazer com essa tecnologia, a paleta de cor utilizada, a iluminação do cenário e o uso inteligente de partículas criaram um visual de tirar o fôlego. Eu tirei diversos screenshots e se eu pudesse pedir só uma coisa pros Devs seria um modo foto.

A trilha sonora também é muito bem feita e trabalha totalmente a favor da ambientação. As vozes também são muito bem feitas, apesar de ser nítida a diferença de qualidade entre personagens principais e secundários. Mas para um jogo que podia facilmente ser apenas legendado, o esforço de fazer com que todos os diálogos fossem dublados é louvável.

Além disso, o jogo já foi lançado com as legendas totalmente em português e a localização se encontra muito bem feita.

Cloudpunk já estava no meu radar a algum tempo por conta do seu visual, mas ainda assim acabou superando muito as minhas expectativas. Visual belíssimo, narrativa que prende, excelente trilha sonora, voice acting de qualidade mas o que realmente me prendeu foi a sua ambientação.

Eu curti demais o jogo e assim como o jogo de Blade Runner fez parte do meu imaginário durante anos, eu acredito que por enquanto, quando eu pensar em um universo Cyberpunk vai ser o jogo da Ionlands que me virá a mente.

Reviewed on Sep 22, 2023


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