This review contains spoilers

Meio complicado comentar sobre minha leitura de Spec Ops: The Line que não seja somente um repeteco do que já foi coberta pela dúzia de ensaios e artigos discutindo sobre suas mensagens e críticas, e com razão. É um clássico subestimado de seu tempo, que, já era necessário em sua geração, num cenário de mercado tomado por jogos de tiros militares altamente propagandistas de um patriotismo norte americano e com um grande reforço a opressão, violência e dominação de povos estrangeiros, e ainda mais conscientizador num cenário atual onde os EUA e outras potências mundiais financiam guerras a custo de milhares de vidas. É um jogo que, inclusive, é diretamente inspirado em clássicos "anti-guerra" como Apocalypse Now e Heart of Darkness, e que bebe muito bem dessas duas fontes.

Inicialmente apresentado como mais um TPS militar comum, Spec Ops passa de uma operação de resgate heroico em Dubai até que a primeira virada de chave moral dos personagens ao perceberem que estão matando americanos em território estrangeiro. E assim, o esquadrão Delta afundam em Dubai assim como seus valores e éticas. Crimes de guerra rolam à solta, decisões morais são tomadas, por mais que, no fim das contas, não seja necessariamente correto, uma onda de destruição e violência torna Dubai vítima de muito mais coisas além das tempestades de areia, tudo isso enquanto você é a pessoa que aperta o gatilho.

E nisso, eu acho que Spec Ops The Line acerta muito mais do que eu esperava. Minha primeira grande surpresa, é que, na verdade, é uma obra até que, bastante sensível em como retrata essa guerra. Eu jurava que seria um jogo que apelaria para um Torture Porn para tentar nos simpatizar com a situação, mas pouco vemos, por exemplo, de violência direta contra os emiradenses. Spec Ops faz um ótimo trabalho de criar a noção do que os guerrilheiros e o próprio jogador causa para a população local a partir das decisões do roteiro que impactam toda a escala do lugar, como o caso de que assaltarmos a reserva de água do lugar e no meio da batalha, os caminhão-pipa são destruidos, deixando a população para morrer de sede em questão de poucos dias.

Também curto os detalhes pequenos durante a gameplay para contribuir a decadência da missão. Além da nítida deterioração visual dos personagens, Walker, o protagonista, fica mais agressivo em seus comandos de equipe com o passar do jogo, da mesma forma que executa seus inimigos; as mensagens de dicas do loading se tornam cada vez mais metatextuais e o cenário da tela de menu passa a ficar mais destruído com o progredir dos capítulos.

De resto, não quero empurrar o texto com a barriga, até porque eu fiquei uns dois dias pensando o que escreveria nele que agregasse em alguma coisa, mas bem, joguem Spec Ops: The Line. É um jogo muito corajoso e extremamente importante que exista, mesmo que inventem de tirar das lojas e tentem afastar as pessoas do acesso a um dos clássicos do gênero. E lembrem-se, você ainda é uma boa pessoa.

Reviewed on Feb 04, 2024


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