8Doors é, sem dúvidas, um jogo sobre lidar com a perda.

Arum é uma menina obstinada que, sem muito mais a perder, embarca nas questões pessoais do mundo dos mortos permeado pela intrigante cultura coreana e nos leva pela sua jornada em busca de seu pai.

Como é de praxe no gênero, o jogo possui mais de um final, com apenas um deles sendo o "bom".

Em questão de gameplay, 8 Doors é um jogo que começa relativamente fácil e tem uma curva de dificuldade que aumenta de maneira justa, talvez a exceção sendo o último ato onde, por uma má escolha, na minha opinião, vemos um surto de dificuldade que, imagino, deveria testar as reais habilidades do jogador.

Apesar dos metroidvanias mais dados à dificuldade serem bem cruéis quanto às derrotas, 8 Doors é consideravelmente leniente para erros e tem uma abundancia de pontos de salvamento para garantir que o jogador não vá ser penalizado por "morrer" no mundo dos mortos.

Apesar disso, o combate ainda é bastante punitivo, com inimigos por vezes sendo posicionados de maneira que uma fração de segundo pode gerar uma dor de cabeça duradoura nos jogadores mais desatentos ou que não se acostumarem rapidamente ao ritmo de jogo.
Além disso, a movimentação do jogo oscila entre forçar o jogador a fazer movimentos precisos e entre dar boas chances de evitar um estrago maior.

Os mapas são relativamente simples e, diferente de jogos como Hollow Knight, aqui, o mapa e nossa posição nele não são um artigo de barganha de gameplay. Uma vez obtido, podemos ter um mapa completo com itens e zonas de interesse marcados nele, desde que tenhamos nos aproximado das áreas demarcadas pelo menos uma vez.

A progressão de Arum é feita de duas formas, uma com o dinheiro dos mortos, sim, nem no purgatório o capitalismo dá uma trégua, e outra com pontos nos dados pelas almas que lá habitam.
As melhorias obtidas com o primeiro são permanentes, enquanto as obtidas pelo segundo podem ser resetadas e rearranjadas conforme necessário, algo que provavelmente será feito algumas vezes na primeira jornada.

Junto de nossa pequena heroína, estará seu fiel companheiro Ducroak, um anfíbio que nos ajuda em combate e na movimentação pelo cenário.
Aparentemente, ele também deveria servir como ventríloquo, já que Arum não diz uma única linha de diálogo o jogo inteiro, apenas sabemos dos seus pensamentos por paráfrases de outros personagens com quem interagimos.

Dependendo da maneira como lidamos com a navegação pelo mapa do jogo, 8 Doors pode ser um jogo curto e difícil, ou um jogo um pouco mais longo, mais fácil e, infelizmente, cansativo.
Arum e Ducroak não são muito rápidos e, a medida que avançamos, os inimigos se tornam mais numerosos e tanto o posicionamento deles quanto de armadilhas no cenário se torna irritantemente grande. Novamente, como parece ser comum ao gênero, os pontos de "teleporte" não são exatamente convenientes e precisamos, muitas vezes, andar por vários cenários para chegar a um objetivo ou item, tornando o backtracking cansativo bem rapidamente.

A história é "contada" de um ponto de vista de um espectador onisciente — o jogador — e avança de maneira simples e até bem explícita.
Alcançar o final ruim provavelmente será a primeira coisa que a maioria dos jogadores fará caso não tenham planejado, desde o início, que irão coletar todos os itens possíveis e fazer todas as tarefas secundarias.
Isso, porém, não sendo o bastante para chegar ao final verdadeiro. Todavia, não quero estragar a sua experiência lhe dizendo o que realmente precisa ser feito.

Em suma, 8 Doors é um bom metroidvania que se orgulha de sua raíz cultural e nos dá uma experiência intensa e reflexiva, com uma leve guinada para o humor que o impede de se tornar sombrio como outros jogos.
Sua gameplay não lhe faz muita justiça, mas é possível chegar ao fim do jogo com persistência e paciência.

Reviewed on Apr 23, 2023


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