Ruined King conta uma história magnífica sobre Runeterra (universo fictício de League of Legends), com mérito semelhante aquele alcançado por Arcane, como série. O jogo é devidamente imersivo ao longo da história construída, e estratégico e divertido na gameplay. A ambientação das regiões é construída de maneira incrível, com cenários muito bem detalhados e fiéis à originalidade; além disso, as trilhas sonoras são impecáveis, representando muito bem o devido momento/cenário — você consegue traçar um perfil de Águas de Sentina ou das Ilhas das Sombras apenas pela música. Parabenizo ainda a dublagem brasileira, que aqui está imersiva e bem trabalhada como nunca, todos os personagens têm vozes maravilhosas.

Obviamente, existem algumas frustrações com o jogo, desde decisões do roteiro até a falta de algumas ferramentas na gameplay, além de alguns poucos bugs, mas isso não frustrou minha experiência ao ponto de merecer um destaque por aqui. Em resumo, definitivamente recomendo; zerei 2 vezes e estou plenamente satisfeito com o conteúdo explorado e as horas de jogo obtidas. Por fim, ainda divido os pontos positivos e negativos em duas seções um pouco mais detalhadas: Gameplay e História.

GAMEPLAY
Como RPG de turno, Ruined King é bastante satisfatório, estratégico e talvez desafiador. Digo talvez porque em alguns combates, o próprio jogo parecia sinalizar que seriam bastante difíceis, mas no final não era pra tanto. Porém, a dificuldade máxima (heroica) realmente é digna de ser um bom desafio pro jogador, porém mais no início do que no fim — mas tudo isso é meio subjetivo, pois cada um terá uma experiência diferente quanto a isso. A exploração do mapa é relativamente divertida, contando com vários puzzles, tesouros e caminhos extras que te recompensam por explorá-los, e realmente são satisfatórios de se fazer. Fora isso, existem inúmeras possibilidades de você montar sua equipe: são 6 personagens, cada um com suas habilidades e runas que podem ser modificadas ao gosto do jogador — é muito difícil não encontrar uma combinação que não seja o que você deseja no time.

Por outro lado, ressalto que nem tudo no jogo é intuitivo. É verdade que a grande maioria de puzzles e missões você consegue resolver por intuição, cuja solução se encontra em enigmas e algumas dicas fornecidas, configurando assim uma ótima experiência. Por outro lado, algumas coisas requerem que o jogador seja vidente, ou busque na internet como resolver, porque o jogo não lhe ajuda em nada disso. Por exemplo, a coleta de alguns dos ingredientes para as armas lendárias é quase uma piada: não tem intuição no mundo que descubra onde encontrá-los: como por exemplo descobrir onde encontrar o Escudo do Braum, ou achar os cofres para enfrentar o Saltador do Véu. Além disso, não custava nada ter um minimapa né? As regiões do jogo tem várias curvas, subidas e descidas — eu poderia me locomover melhor, e ter uma jogabilidade mais dinâmica, sem ter que pressionar M toda hora.

HISTÓRIA
Ruined King não tem um contexto muito legal pra ser apresentado, considerando que a Riot Games nos apresentou uma história mequetrefe e preguiçosa para fechar algo que levou anos para construir (evento dos Sentinelas da Luz de 2021). A partir disso, a imagem do Rei Destruído já não era das melhores entre os jogadores; porém, Ruined King faz esquecer toda essa tragédia e contar uma nova trama bem mais sólida e fiel à identidade de cada personagem componente, apresentando muito bem os seus dramas e os motivos para estarem ali. Inclusive, a maneira de entrelaçar todas essas histórias, bem como a interação construída entre os personagens, é digna de mérito — principalmente considerando a desconexão entre alguns deles. Além disso, a maneira que eles agem frente determinadas pessoas ou situações é completamente de acordo com o que conhecemos previamente sobre o campeão. Mas claro, eu digo isso porque sei um par de coisas sobre o universo de Runeterra; entretanto, para quem não conhece esse universo ainda, Ruined King é um ponto de partida válido para mergulhar nesse mundo, e que consegue despertar interesses pelas histórias envolvidas.

Porém, nem quase tudo são rosas; um ponto que me deixou incomodado durante o jogo é o próprio Viego (O Rei Destruído) não parecer uma figura tão importante assim. Considerando que o jogo e a imagem de capa remete ao próprio, ele só é MENCIONADO lá pra metade da história, e sua participação ativa também é um pouco frustrante. O Viego merece o medo e perigo reconhecidos pelos outros personagens, mas para o jogador isso não surte tanto efeito. A trama construída deixa transparecê-lo como só mais uma arma da Névoa, controlado por ela, quando na verdade ELE a controla. Ou seja, a história acaba por trazer o Viego para ela (a história), quando eu acho que deveria ser o contrário: o Rei Destruído deveria ser a base para a história fluir. Portanto, na ótica desse jogo, o despertar do Rei Destruído parece só mais um evento potencialmente perigoso liberado pelas Ilhas das Sombras, não correspondendo tão bem à imponência e ameaça inerentes que o personagem deveria representar.

Mas enfim, o grande triunfo de Ruined King é podermos experimentar a criatividade artística sendo expressa sem os interesses corporativos genéricos que tanto vemos no League of Legends em si. Por mais jogos sobre Runeterra como esse, e menos LoL na vida de todos.

Reviewed on Dec 02, 2023


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