Deus Ex: Human Revolution é a melhor obra de ficção científica Cyberpunk que já experimentei. Praticamente todos os aspectos técnicos e criativos são muito bem executados, considerando desde a gameplay diversa até a construção de uma atmosfera funcional de um futuro distópico e, ao mesmo tempo, verossímil dentro do que aborda. Existem alguns pormenores que podem frustrar a experiência, principalmente em torno de ferramentas que envelheceram mal, porém dá para ignorá-las na maioria das vezes (pelo menos para mim). Aprofundando um pouco mais nos aspectos do jogo, escolhi dividir em:

HISTÓRIA
Toda a narrativa é bem articulada e sua duração total também está entrelaçada ao desenvolvimento necessário da trama, sem que em nenhum momento ela pareça ser extensa, repetitiva ou desinteressante; a maioria das missões secundárias despertam um interesse para realizá-las em busca da recompensa associada, seja pelo desejo do jogador de extrair conteúdo do jogo, ou apenas a obtenção de créditos e aprimoramentos. Além disso, outro ponto marcante é a maturidade empregue na construção dos dilemas éticos e políticos presentes ao longo de toda a narrativa, permitindo que vários cenários exprimam uma credibilidade que não se limita à reação do protagonista, como também conseguem ser efetivos à moralidade do jogador — ademais, todo esse panorama é mais uma vez rememorado em um dos finais de jogo mais reflexivos que já vi.

Juntamente da trama, a construção dos personagens que a integram é bem dedicada para conferir carisma suficiente a muitos deles, enquanto outros percebe-se opiniões, respostas e uma postura um tanto genérica, como aqueles três mercenários, Zhao e às vezes a Malik. Entretanto, Sarif, Pritchard, Jensen e principalmente Darrow fazem valer sua significância na história através disso, além de outros personagens mais pontuais na narrativa.

Um pequeno parênteses sobre a DLC Missing Link, não tive nenhum problema em ser obrigado a jogá-la no meio da história principal (uma consequência do Director's Cut). Apesar de relativamente longa, a trama mantém uma correlação bem construída com a história principal, além de importante para melhor compreensão de alguns pontos dela. Esquecendo alguns problemas dela relacionados à realização de conquistas (principalmente Foxiest of the Hounds e Factory Zero), é uma boa DLC.

ASPECTOS TÉCNICOS GERAIS
Como já mencionei, a ambientação do jogo é muito bem expressa para a distopia que propõe, onde até percebi (na ambientação) algum nível de semelhança a Blade Runner (1982). As trilhas sonoras são bem inspiradas e em grande parte desempenham muito bem seu papel, onde quer que sejam inseridas. Por outro lado, como já bem conhecido nas críticas negativas, os gráficos estão relativamente datados, em especial aqueles referentes à textura facial, onde também se tem animações corporais bem toscas e bastante limitadas, assim como a variedade de NPCs e outras coisas relacionadas; eu consigo ignorar esses detalhes, mas realmente dão uma quebrada na imersão em vários momentos. Por fim, sobre o lendário filtro amarelo, eu até acho bacana, conferindo uma tonalidade/saturação enjoada que mescla relativamente bem com a realidade distópica intencionada; acabou marcando Deus Ex: HR de um jeito que até senti falta no Mankind Divided.

GAMEPLAY
A jogabilidade é relativamente simples dentro do que se espera de um jogo stealth, porém divertida e até que diversa no que diz respeito às maneiras que o jogador tem para avançar nas missões e cenários gerais: confronto direto, convencimento de NPCs, hack de torres, caminhos ocultos, e obviamente isso é ainda mais enriquecido com os vários aprimoramentos disponíveis. Por outro lado, em tese, Adam Jensen é um agente furtivo, então muitas escolhas acabam realmente sendo favoráveis a esse estilo de jogo; ou seja, é difícil compensar sua fragilidade numa troca de tiros direta com 5 inimigos. Falando neles, principalmente para a jogabilidade stealth, os inimigos têm uma IA bem básica, ruim e bastante previsível, além de pouco realista, o que torna o jogo realmente fácil em muitas situações que não deveria ser. No mais, os quatro chefes também são bem fáceis de derrotar; o minimapa poderia ser mais bem representado, visando oferecer maior utilidade de navegação; e hackear dispositivos não deveria ser TÃO recompensador, de modo que vale mais a pena hackear tudo que vê pela frente do que explorar em busca de códigos e senhas — o que acaba desmerecendo bastante a própria existência desses.

Enfim, é um título memorável e muito bom de experimentar ainda nos dias de hoje. Se você conseguir suportar os aspectos técnicos datados e em grande parte limitados, garanto que todos os outros pontos citados são mais do que capazes de imergí-lo na obra. Embora com uma jogabilidade não tão desafiadora assim (embora isso seja relativo), ainda se tem uma experiência divertida e gradativamente reflexiva dentro do enredo associado.

Reviewed on Apr 27, 2024


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