Moonleap é um jogo brasileiro de puzzle muito bem trabalhado. O jogo começa com o início de um poeminha, então você se encontra na seleção de fases, bate na porta da fase que você quer entrar (no caso a única possível é a primeira) e o jogo de verdade começa.

As fases iniciais são propositalmente simples pra te fazer entender, sem a necessidade de um tutorial, as principais mecânicas do jogo: você se move, pula e quando você pula as coisas mudam. E assim as fases vão progredindo, cada vez te ensinando mais coisas e, a cada algumas fases, você passa para outro mundo onde são introduzidas novas mecânicas. Por exemplo, se você cair em um buraco, você volta de cima do mapa, os caracóis são plataformas enquanto dormem, mas te matam enquanto estão acordados, e você vai absorvendo essas informações para resolver os puzzles dos níveis seguintes (muito bem trabalhados por sinal). Existem 4 mundos no total. É perceptível o esforço colocado no level design desse jogo.

Os controles são a coisa mais intuitiva possível, você anda e pula, simples, mas é impressionante o quão certinho o código de movimentação e de colisão são feitos. Seria uma mão na roda ter acesso a esses códigos. E é legal considerar esses pequenos detalhes quando se leva em conta que foi um jogo desenvolvido inicialmente para uma Game Jam no GameMaker.

Os gráficos em pixel art são bonitos demais, não sei se quem fez foi o GuSelect ou se teve envolvimento do Gabe Fern, mas isso tá incrível, desde o personagem ao cenário, o sombreamento das folhas no tile set dos primeiros níveis, muito bom. É interessante que nos créditos ele também colocou os softwares em que foram feitos, no caso da arte, no Aseprite, isso é muito bom pros desenvolvedores independentes que se inspiram no jogo.

Se você for um explorador ou tem essa vontade de tentar ao máximo quebrar jogos fazendo coisas inesperadas, uma hora ou outra você vai achar um segredo. No jogo existem 4 fases secretas (só encontrei 2 delas jogando da primeira vez, não pesquisei nenhuma) e 4 segredos (tinha encontrado só um, mas não soube resolver), uma fase secreta e um segredo em cada mundo. As fases seguem o padrão, são bem elaboradas, mas a última fase secreta é impressionantemente difícil; não sei qual era a maneira certa de passar, fui da maneira mais porca possível - tem um bichinho que anda de um lado pro outro e nessa fase as coisas não mudam quando você pula, mas sim quando você vira o personagem de lado - eu fui virando de um lado pro outro pro bichinho continuar perto da plataforma da qual eu teria que pular, uma hora deu certo. É meio difícil de explicar em palavras, mas qualquer pessoa que tenha jogado essa fase vai entender o que eu quis dizer. Quanto aos segredos, são interessantes de se resolver. Um deles eu vi no Twitter sem querer (o da biblioteca), o "Roda, Roda, Vira" eu consegui por mim mesmo, o da velocidade dos pulos eu tive que pesquisar (mas eu juro que eu tentei, fiquei muito tempo pulando aleatoriamente vendo as luzinhas acenderem até a terceira ou a quarta) e a do Twitter é meio que obrigatório pesquisar.

O jogo é curto, zerei em um único dia, tomou pouco menos de 2 horas, e só fui jogar outro dia em dezembro pra pegar todas as conquistas (dito e feito) e pra ter mais algum embasamento pra essa review. Tomou pouco mais de 3 horas no total.

Depois que você passa os 4 mundos, abre-se uma porta na qual você é levado para uma sequência de "fases" (creio eu que feitas na mesma room da seleção de fases no GameMaker), cada uma com uma mecânica de cada um dos mundos que você acabou de passar, e conforme você vai passando-as aparece uma frase nova que constitui uma nova parte do poema introduzido no começo do jogo, e então você termina o jogo com o final do poema, terminando o jogo lindo, redondinho.

Quando você zera o jogo, aparece uma tela mostrando quanto do jogo você terminou, quantas das fases você completou, quantos corvos você pegou (não mencionei na análise, mas são tipo coletáveis, são legaizinhos de pegar), indicando assim quão perto do 100% você tá, o que, pra mim, é muito bom, odeio quando eu tento fazer 100% de um jogo, fica em 96% e eu fico sem saber o que falta.

No mais, é incrível a história de Moonleap; como um jogo brasileiro feito em um tempo limitado em uma plataforma que pode ser parcialmente acessada gratuitamente, o GameMaker, para uma Game Jam tomou proporções como essas: um jogo redondo perfeitinho na Steam, com port pra Nintendo Switch e Mobile em mais de uma língua. Enquanto aspirante a game dev e alguém que tá estudando GameMaker, esse jogo chega a ser inspirador. Além de tudo, sempre bom apoiar a indústria brasileira de jogos. Jogo belíssimo, meus parabéns ao GuSelect e toda a equipe envolvida.

"Depois das nuvens, o sol.
Do inverno, a primavera.
Depois da chuva, o arco-íris.
Pois de mudança é feita a vida.

Depois da noite, vem o dia
que a treva então desfaz.
Depois dos altos e baixos da vida
conforto e doçura da paz."

Reviewed on Dec 30, 2023


Comments