This review contains spoilers

Scorn é resumidamente uma experiência poética, violenta, explícita, nojenta, profana e vulgar, mas todas essas coisas fazem desta obra muito boa.

Pela primeira vez acho que vou fazer uma análise com Spoilers, principalmente do final, mas já que é muito interpretativo, acredito que você consegue ter uma boa experiência ainda assim.

Scorn começa com nosso protagonista se libertando de um casulo, provavelmente foi deixado ali após cair em um precipício no deserto. Em sua aventura ele atravessa quebra-cabeças, corredores, inimigos e outras coisas mais pra chegar até... algum lugar...?

vou começar com o básico até chegar na parte dos spoilers, aí vou colocar um aviso bem grande indicando onde você pode parar de ler... ou não... depende de você.

Os gráficos são lindos, mas não só isso, o design e direção de arte são primorosos, são simplesmente pinturas, qualquer lugar que você anda nesse game se for tirar uma print, ela automaticamente vira uma pintura, é sério! O jogo não tem nada verde, nada de plantas ou algo parecido, são sempre vísceras, tentáculos, podridão e algo parasitário como vermes. Scorn segue a arte de Hans Ruedi Giger. que também serviu de inspiração para o Xenomorfo dos filmes Alien.

A arte de Giger segue um estilo daquilo que é orgânico, cheio de tentáculos e texturas que parecem couro e látex, sempre com um tema profano, com referências e formas de pênis, vaginas e posições sexuais.

Destaque para as animações desse game que são primorosas, extremamente bem-feitas e detalhadas. É nítido o empenho que os desenvolvedores colocaram aqui.

A trilha sonora é pesada, cansada, medonha, te passa a sensação de desespero e um ambiente sem esperança, ela encaixa perfeitamente naquilo que o jogo quer te passar e é uma das melhores coisas nesse game.

A gameplay é boa, mas também não é. Aqui na parte de puzzles o jogo brilha, são desafiadores, complicados, muito bem elaborados e bem colocados, em nenhum momento do jogo ele te diz o que fazer ou pra onde ir, simplesmente vá! Isso é muito bom, já não posso dizer a mesma coisa do combate.
O combate é chato, cansativo, e pouco prático. Só tem quatro tipo de inimigos e um deles só apareceu duas ou três vezes na minha jogatina, que é uma piroquinha que fica no teto e joga ácido se você chegar perto.
Só tem quatro tipos de armas e você mal usa elas, mais pro final do game mesmo, ainda assim elas são lindíssimas.

Os inimigos são muito feios, não por causa do tema, mas tem um design muito sem graça, chega a ser irritante ver esses fetos ambulantes que só dá desânimo

DAQUI PRA FRENTE SÓ VAI TER SPOILER

SPOILER DE SCORN
Chegando pra parte da história, aqui temos algo muito interpretativo, a tradução do game é Desprezo/Desdém. Na nossa aventura estamos em um ambiente podre, abandonado que deixou muito de sua história pra nos mostrar, mas nunca falar, não tem uma sequer linha de diálogo, então nos resta observar.

SPOILER DE SCORN
Nós acordamos numa sociedade decadente, niilista, morta, sem esperança nenhuma... estamos sempre sozinhos e essa sociedade sempre "está lá conosco" nos mostrando como eram, mas nunca o que são agora.

SPOILER DE SCORN
Encontramos na nossa jornada apenas 7 seres vivos, o primeiro que chamei de Robersvaldo, os quatro tipos de inimigos, o parasita, o Gerisclêncio e o "boss" final. O Robersvaldo você encontra quando precisa de uma "mãozinha" pra abrir um portão então você pode decidir matá-lo, arrancar sua mão e usá-la pra passar do portão, ou deixá-lo viver (mais ou menos) e esperar esse cara lerdo pra cacete chegar no portão pra abrir.

SPOILER DE SCORN
Lembrando: Você o tira do seu suposto "sossego", arranca parte de suas costas para libertá-lo de um casulo e depois o abandona para atravessar o portão, isso se quiser deixar ele vivo. Acho que matá-lo é uma opção mais "misericordiosa".

SPOILER DE SCORN
Depois disso tudo em um momento do game ficamos desacordados e levados (por alguma coisa) pra nos conectarmos com um ser vivo que aparentemente foi o responsável pelo "apocalipse" nesse mundo. Nos libertamos do casulo, o personagem arranca o cabo de sua barriga que era o que o ligava nesse ser vivo e encontramos o parasita.

O parasita nos abraça e finca seus braços na nossa barriga, durante todo o jogo em momentos específicos ele vai nos dar dano e ao mesmo tempo ele é o que segura nosso inventário.

SPOILER DE SCORN
Aqui você já nota o quão decadente é o contexto desse game, tudo é muito podre, violento e não há nada bom aqui. seguindo em frente você vai resolvendo puzzle atrás de puzzle, matando inimigo atrás de inimigo até chegar no ATO IV, aqui encontramos um ser que chamei de Gerisclêncio, apesar de aparentar ser uma mulher.

SPOILER DE SCORN
Esse ser vivo é gigante e você precisa meio que fazer várias "cesarianas" em várias partes do corpo dele (que por sinal parece barrigas de mulheres grávidas) pra poder abrir um caminho, você entrar nele (que faz parte de uma máquina) e resolver o puzzle. O puzzle é bem tranquilo, o problema é todos os inimigos que são chatos demais pra matar.

SPOILER DE SCORN
Depois entramos na última área do jogo, com várias estruturas daquela arte muito mais aparente que citei anteriormente, encontramos duas figuras femininas grávidas que precisamos alimentar com sangue de fetos para serem "ativadas"

SPOILER DE SCORN
Depois de encontrarmos esses fetos, temos que matá-los esmagá-los e aplicar o sangue do feto nelas, mas pra isso conectamos o feto num corpo ciborgue e aí surge o boss final, que você tem que matar três vezes seguidas pra avançar (três fetos)

SPOILER DE SCORN
Nesse ponto do game o parasita já tá tomando conta do corpo do personagem e nós precisamos removê-lo, o que fazemos com sucesso, mas infelizmente ele foge e não o matamos.

SPOILER DE SCORN
Depois do parasita foder com nosso corpo, quase que literalmente, nós nos conectamos a uma rede roxa que liga várias máquinas de um salão em um castelo que entramos e aí usamos as mulheres grávidas pra nos dar passagem. Essa rede aparenta bastante ser o lugar onde fomos deixados num casulo pela vez anterior.

SPOILER DE SCORN
É aqui que finalmente encontramos a esperança, uma escadaria com estátuas que mesmo tendo um design parecido com as outras, não tem um aspecto tão vulgar, mas sim que aparentam estar sendo consumidas pra um lugar completamente novo.

SPOILER DE SCORN
Aparentemente achamos o "paraíso", um lugar que finalmente poderemos ter esperança e paz depois de tanto sofrimento, mas é tudo em vão já que aquele parasita nos alcança, nos prende em seu casulo como se fossemos parte dele e o ciclo recomeça, estamos de novo sem esperança, de volta ao desprezo.

SPOILER DE SCORN
Minha interpretação: Scorn é sobre uma sociedade sem esperança, completamente perdida nos mesmos erros em um ciclo infinito e que prende aqueles que querem o progresso à estarem junto a eles. Uma sociedade parasita que se perde ao que é profano. O parasita não nos permite ir, não permite chegarmos a um lugar melhor, não nos deixa ser consumidos para o novo, mas nos prende ao antiquado e decadente sistema.

Reviewed on Oct 17, 2022


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