A projeção que pauta "Watch dogs" na minha recepção sensitiva, é um tanto tardia. Por imposições e uma ausência regular me dissociei do jogo, enquanto potencialidade constante, mutilando parte da sua experiência, portanto, a legitimidade dessa análise pressupõe um processo de distanciamento mesmo que compulsório que me alienou da coesão direta do jogo. No entanto, sinceramente, Watch dogs é um jogo medíocre, exercido em uma maleabilidade mecânica ortodoxa - quase que contraditória no que se retem o processo de corporificação da relação de espaço e personagem -, proferindo seus sistemas em arremedos de uma síntese do design, e apreendendo sua maior especifidade em uma densidade parcial no que se configura a agência do gameplay, no caso, a dinâmica de hackeamento. Até mesmo a narrativa em suas divagações extensivas se aparta de qualquer singularidade tão efetiva, partilha daquele niilismo urbano que emite os corpos de transgressão do espaço, onde o protagonista precisa ser a manutenção dessas contradições, mas claro, de forma despolitizado, flertando com percepções mais sofisticadas de forma muito pontual, além que o próprio hackeamento já é uma subversão dos sistemas de poder, no sentido que subtrai, mediante, a aparelhagem, sentidos obstruído e elitizados do espaço público, onde no jogo serve tão somente para desencontros sem qualquer unidade que incite uma justaposição com a narrativa e a mecânica,  linguagem sistemática tão palpável de confecções de discurso e frontalidade. Digo também que é um tanto niilista, porque ao fim do jogo, descobre que toda sua premissa partilha em um despropósito, sua incitação primária que é a morte da sua sobrinha foi totalmente arbitrária, sem qualquer cumplicidade com as tensões reais que cerceava a narrativa do jogo e mesmo o jogo expondo esse esvaziamento, não coopta ele mesmo de forma crítica, aterradora e mais como forma de justificar e naturalizar esse agente de manutenção do espaço público que é o Aiden, um vigilante hacker que em tal definição em suas predisposições históricas e nos entornos culturais da contemporaneidade foi expropriado de suas tensões de outrora, que era, mediante, os aparatos dominantes de sedimentação e asfixia dos sujeitos, reverter e transgredir pelo mesmo sistema, que aqui é essa figura dissonante, fruindo na periferia dos sentidos, sem entender as implicações reais que cerceia os espaços, agindo tão somente como uma abstração de um agente institucional que preda, enquanto, projeção coercitova os infratores no âmbito social de forma sintomática, sem, por fim, acometer as causas e os condicionantes que mobilizam essas aflições.

Reviewed on Apr 12, 2024


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