“A minha humanidade estava à venda... e eu a vendi”

Em meio ao terror psicológico à lá Silent Hill, Distraint engaja uma reflexão acerca da desumanização na sociedade capitalista. Acompanhamos Price, um corretor de imóveis, que frustrado com a própria miséria, busca suceder na vida. Porém, para alcançar tal sucesso Price deve colocar em balança o valor das pessoas, pondo em cheque suas vidas em favor dos patrões, que sob pretensões gananciosas, flertam com Price uma vida exorbitante repleta de riquezas, sob a promessa de lhe dar a “sociedade” tão desejada. Nessa busca pela “sociedade”, Price questiona suas próprias ações e cria um sentimento de culpa, como se ele fosse responsável pelo rumo das vítimas. O jogo segue este conceito, agregando o horror como manifestação da culpa de Price com as vítimas de um sistema de desumaniza as pessoas.

É recorrente no jogo essa reflexão sobre os valores das pessoas, que agregados ao mercado, torna-se mais um produto descartável do que um humano em si. Price não só deve vender a sua humanidade para conseguir o sucesso, como também deve desumanizar os seus clientes. É algo que é tão recorrente porém tão pouco sentido. Estudamos, fazemos vestibulares, entramos para a universidade para então sermos empregados à uma empresa, tudo isso sob os charmes e as luxúrias prometidas pelo sistema. Nesse ritmo aos poucos esquecemos dos outros; vamos perdendo a empatia e aos poucos se rendendo a este sistema. No final, viramos máquinas que reproduzem este ciclo vicioso de falsas promessas. Em síntese: nas ruas, nas escolas, nos trabalhos tornamo-nos uma máquina deste sistema alienador e perdemos aos poucos a empatia pelo outro. Price, do mesmo modo que é uma vítima, também cria novas vítimas. Ao final o que resta ao Price é nada, apenas a culpa e a frustração persistem em sua vida.

Em conclusão, Distraint questiona os nossos valores, bem como dos outros, e ao final pergunta: “Vale a pena vender a humanidade?”

7/10

Reviewed on Jun 05, 2022


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