This review contains spoilers

Impossível não ficar triste ao criticar um jogo com uma ideia tão nobre...

Fico muito chateado em fazer esta análise, mas é assim que o mercado se desenvolve e que os produtos de mídia e entretenimento mais poderosos surgem. Além disso, me comprometi a refletir sobre os jogos Indies que tenho jogado e dar meus dois centavos.

“Mandinga: A tale of Banzo” me encheu os olhos com a premissa, quando conheci o jogo, eu estava no meio de um curso de Teologia de Umbanda, então estava imerso em história do Brasil, tradições afrobrasileiras, os próprios mandingas e o impacto do tráfico de africanos escravizados no Brasil. A arte/visual do game é muito bonita e agradável, o que já nos fornece uma boa impressão, a trilha sonora é uma masterpiece, tem até uma versão ao vivo em orquestra no Youtube, mas me parece - e nunca terei certeza - que a trama foi pensada de maneira muito simplista ou com pouco cuidado.

Sabemos que empresas precisam de dinheiro para pagar as contas, então quanto mais abrangente for uma obra, melhor, mas, sinceramente, não consegui entender se com esse jogo, a Uruca buscava conquistar e fortalecer os laços com um público com certa consciência histórica e racial, ou se gostaria de introduzir uma grande massa a esse período histórico e evidenciar a mancha de sangue e vergonha que o Brasil carrega desde o século XVI. Digo isso, pois, na primeira hora, a narrativa não estabelecia tão bem um tom, não era tão acurado, mas por outro lado, tampouco era lúdico.

Em alguns momentos, escritores e roteiristas que buscam reações ou reflexões mais impactantes, vão correr o risco de cairem no erro que esse jogo aqui caiu. Mecanismos de choque são eficientes bem-vindos em qualquer história que exija esse tipo de técnica, um homem escravizado morrendo em meio a um campo de cana é uma cena impactante, simbólica, e palpável, mas não adianta aplicar essa lógica para tudo. Como muito bem pontuado em uma review (Belcchan) no Steam, a motivação para que a história se desenrolasse me transpareceu certa falta de repertório e sensibilidade narrativa. Já é sabido que a subjulgação e violência sexual contra mulher era comum por parte dos malditos escravistas, mas não é sintomático utilizar uma cena como essa a partir da seguinte visão? Quem sofre é uma mulher, mas isso é nos mostrado narrativamente a partir do ponto de vista de homens, para que isso impila os homens a agir como protagonistas e heróis. Mais uma vez, assim como no cinema, a mulher foi um acessório narrativo para dar destaque ao homem e a violência foi só um instrumento para chocar.

Mas surpreendentemente, não foram nem esses pontos que não deixaram que eu passasse de 1 hora de jogatina. A mecânica de batalhas aleatórias não me incomoda, já que o game se inspira em J RPGs, mas o problema é a frequência ABSURDA em que a cada 5 passos, um novo combate começa Isso é torturante ao jogador e, se tiver um propósito narrativo, não funcionou, porque vi relato de outros jogadores que abandonaram o jogo, pois isso o tornou injogável.

O mercado de jogos é competitivo e jogos de impacto, infelizmente, possuem pouco espaço e interesse por parte do público. Se temos a chance de apresentar nossa visão em um produto de entretenimento com impacto social, é importante que façamos com maestria, pois talvez seja uma das poucas chances que teremos de cativar um jogador com um assunto tão espinhoso.

Reviewed on Dec 29, 2023


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