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This review contains spoilers

Type-0 é um Final Fantasy experimentativo como vários outros, mas este aqui passa longe de ser de uma boa maneira.

A história se passa no mundo de Orience, que está dividido em quatro nações: Rubrum, Milites, Lorica e Concordia. Cada nação é controlada por um cristal, fonte de poder mágico e política. O jogo segue um grupo de estudantes da Academia Peristylium Suzaku, uma escola militar em Rubrum. Estes estudantes são membros da Classe Zero, uma classe de elite composta por 14 membros, que são os grandes responsáveis por mudar o panorama inteiro de uma guerra.

Agora, se você conhece a lore da Fabula Nova Crystallis, sabe que as coisas começam a complicar. Pois se você não é uma das 5 pessoas no mundo que decorou essa lore e não está acostumado com os termos l'cie, focus e afins, você vai começar a se perder logo de cara. Você tem todo um pré-conceito de background para que a história nos jogos onde ela está presente se desenvolva. O problema é que boa parte dessas informações sequer está presente no jogo (você vai ter que ler alguma página de wiki para ter contexto) e lidar com história de guerra não é tão fácil quanto parece com o tanto de informação que é jogada, e aqui não é diferente, e fica mais difícil quando boa parte dessas informações (e praticamente todos os personagens) são informações que serão encontradas só nos menus. Nem mesmo os personagens principais escapam disso. São 14 personagens que têm muito pouco tempo de tela, são extremamente unidimensionais (Menina fria de cabelo cinza #1 e #2, bonitão alto e irritado, presidente de classe, etc.) e que além da falta de desenvolvimento ser um problema, boa parte das cutscenes do jogo você vê mais personagens secundários e vilões (que também têm pouco desenvolvimento) do que os próprios personagens com quem você passa horas e horas jogando.

O gameplay do jogo é simples. Um loop onde você possui uma determinada quantidade de tempo livre (que varia de capítulo para capítulo) até o dia da missão que faz a história principal avançar, e nesse tempo livre você pode explorar a academia dos estudantes. Existem poucas atividades que fazem você gastar esse tempo: eventos (personagens com exclamação acima da cabeça), sair para explorar o overworld, e as expert trials; missões que como o nome diz, estão lá para você jogar quando estiver com mais experiência no jogo (de modo literal, porque elas começam a aparecer com requerimento de level muito acima do seu). Durante as missões ou a exploração do overworld, você escolhe 3 personagens ativvos na sua party enquanto os outros são substitutos. Cada personagem tem uma função clara, alguns com afinidade para magia elétrica, outros suporte e também podem ser divididos entre ranged e melee, mas mesmo assim você pode customizar as habilidades deles e transformar qualquer um deles no papel que você quiser à medida que você os deixa mais fortes. Quer transformar o Ace em suporte? Sim. Queen em uma máquina melee? Pode. A customização é válida e até legal de se fazer. Só que vários dos mapas possuem inimigos em lugares que você não alcança com personagem melee. A mesma coisa vale para a vasta maioria dos Bosses, o que faz você ter uma preferência por personagens ranged, quando você perceber o Ace ou o King serão bem mais úteis pra sua party do que outros personagens. O jogo também recomenda a cada início do capítulo seus personagens estejam em um nível recomendado para essas missões. Você tem 14 personagens jogáveis, mas só os 3 ativos na batalha recebem experiência. E aí você está incubado com a responsabilidade de manter esses 14 personagens todos com seus níveis devidamente equilibrados, e por mais que o gameplay das batalhas seja rápido e legal nas primeiras horas de jogo, isso fica maçante rápido demais. Você vai passar mais tempo repetindo missões anteriores ou fazendo grind no overworld do que avançando na história. E aqui é a fonte do jogo: Ele gira em torno desse grind. O grind fica aparente e repetitivo rápido demais. Existe uma maneira de quebrar esse ciclo, mas isso é mais abusar de uma feature do jogo do que jogar o jogo em sí. Para jogar sal na ferida, em 3 dos 8 capítulos do jogo possuem bosses que você não pode derrotar na primeira playthrough, eles simplesmente vão aniquilar sua party sem te dar opção, e a pergunta é: eu fiquei todo aquele tempo fazendo grind para ser humilhado desse jeito? A resposta é: Sim, e não adianta chorar porque vai acontecer mais de uma vez.

Junta um gameplay focado nesse eterno loop de repetir missões e subir de nível dos personagens com uma história muito convoluta e complexa, e um elenco muito grande personagens sem nenhum desenvolvimento. E a receita do desastre está aqui: Fica difícil demais avançar em Type-0 e é muito provável que lá pelo capítulo 4 você já queira deixar o jogo de lado. E caso não deixe, fica muito difícil se importar com o destino dos personagens nos capítulos finais. Você sabe exatamente para onde o rumo dos personagens vai chegar. E apesar disso, você quer se importar com eles, você quer simpatizar com eles. Mas do começo ao fim, é muito difícil se importar com 14 personagens sem quase nenhum desenvolvimento, que você os conhece tão pouco além de alguma peculiaridade particular e isso em um RPG onde você passa tanto tempo fazendo grind, chega a ser um tapa na cara do próprio jogador.

Tirando os problemas, o fator Final Fantasy ainda está presente nesse jogo. O combate é divertido apesar de simples, as cutscenes de FF são um primor em qualquer jogo e aqui não é diferente. E a OST não fica atrás em momento nenhum. O problema é que o jogo não vive só da música e das cutscenes, e o gameplay do combate envelhece rápido com o grind excessivo que tem que se fazer. Estes pontos não seguram Type-0. Eu poderia falar das sidequests, dos chocobos, e das SO's que te punem por não fazer algo extremamente específico dentro das batalhas, e como você tem que fazê-las pra receber boa parte das armas e algumas summons que o jogo oferece. Mas acho que já ficou um texto grande demais para o que merece este jogo.

Type-0 foi um jogo que envelheceu muito mal. E a menos que você seja um fã muito obcecado por Final Fantasy e que já jogou tudo o que é possível da série, fica difícil recomendar esse aqui.