Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker's Memory - 8/10

tl;dr: Pra quem gosta de bate e espera, tem erro não, vai firme. E a história é boa.


A Bandai não me ajudou. Removeram o primeiro jogo Cyber Sleuth da PSN, causando um aumento astronômico do preço da mídia física dele e isso me obrigou a jogar apenas a "sequência" que, na realidade, tem seus eventos ocorrentes em paralelo com o primeiro jogo. Inclusive, isso parece ter sido uma forte crítica pois muitas pessoas esperavam um jogo novo e o que saiu parece ser até menos que uma DLC por ter literalmente os mesmos cenários e mesma mecânica/gameplay do anterior com poucas adições a não ser o fato de contar uma história bem diferente. Sei que ambas histórias se colidem em alguns pontos e inclusive dividem personagens mas não vou poder comentar sobre porque a Bandai não me ajudou.

Meu interesse nesse jogo surgiu não só por gostar de RPGs de turno mas também de ter jogado Digimon World 3 na minha infância/adolescência e gostado bastante. Já fazia tempo que eu queria jogar outro Digimon e esse, apesar de algumas decepções em relação do DW3, não deixou de atender minhas expectativas.

Sabe aquele dizer que em todo RPG você resgata um filhote de gatinho no primeiro capítulo e no último derruba um Deus? Bom... DSCSHM parece escapar dessa fórmula de alguma maneira. Sim, seus inimigos vão ficando gradativamente mais forte mas não tive a sensação de estar enfrentando um super monstrengo imbatível no final. Até porque, de certa forma, o objetivo não é salvar o mundo. Ou é. Não consigo detalhar sem spoilar muita coisa, então confia: tudo vale a pena. A história do jogo começa com seu personagem indo atrás de quem hackeou sua conta no mundo virtual chamado EDEN que é uma espécie de rede social em realidade virtual. Nisso, você se junta a um grupo de hackers que te ajudarão e descobre que hackers tem acesso a locais "próprios" do EDEN e que também usam Digimons (monstros digitais, quase que literalmente né) a seu favor. Aos poucos, o protagonista se encontra cada vez mais enrolado nesse embate de hackers cheio de clichês de personagens misteriosos, reviravoltas esperadas e nem tão surpreendentes (com algumas exceções) e uma conclusão que dividiu opiniões de acordo com o que li. Eu adorei.

O jogo possui duas dificuldades de combate entre normal e difícil. Joguei no normal e, tirando o começo do jogo e algumas batalhas opcionais, acabou sendo bem fácil. Mas não acredito que isso seja culpa da dificuldade do jogo, mas sim de meu grind proposital atrás de um time maneiro. Como mencionei, eu tive um pouco de dificuldade nas primeiras missões opcionais, portanto parei e grindei. Talvez exagerei, mas não me importei, eu estava gostando do time que estava montando. O sistema de digievolução baseado nos mais variados status que cada monstrinho tem é legal e adiciona uma boa variedade nas suas estratégias de desenvolvimento. Muito satisfatório ver meu pequeno Tentomon se tornar um TyrantKabuterimon e meu Kyubimon seguir o lado negro da força para se tornar o Kuzuhamon. Sem contar também a felicidade de poder ter um BlackWarGreymon como eu tinha no Digimon World 3... Mas "sacrificá-lo" para fundi-lo com o BlackMetalGarurumon e obter o Omnimom Zwart. Com o objetivo de alcançar certos digimons em meu time e algumas facilidades nas mecânicas que o jogo oferece, o grind foi um pouco longo mas satisfatório. Conclui a história com cerca de 90h e a platina com quase 130h.

Por falar em facilidades nas mecânicas... É capaz que esse jogo agrade até quem não é muito fã de encontros aleatórios, afinal, ele oferece uma opção de eliminá-los por completo: basta ter algum digimon tipo neutro levemente forte em sua party. Isso desbloqueia uma habilidade "hacker" que permite tanto forçar encontros sem ficar andando por aí à toa quanto outra que evita todo tipo de confronto a não ser os necessários para progresso na história, claro. Existem outras habilidades usadas em casos mais específicos que foram mal implementadas. Por exemplo, existem alguns terminais onde você só pode usar um tipo específico de habilidade e, mesmo assim, toda vez que chegar em algum deles, você precisa selecionar a habilidade correta senão nada acontece. Não custava nada ativar a habilidade automaticamente já que não dá pra fazer nada com nenhuma das outras.

Existem muitas missões opcionais que contam historinhas diferentes mas, objetivamente, é quase o mesmo. É interessante e as recompensas costumam compensar o trabalho, mas eu achei divertido em geral.

Só mais um detalhe: me lembro de ter lido uma análise em pt-br que deu 1/5 pra esse jogo dizendo que ficou muito perdido e não tem nada que indique o que você tem que fazer. Fiquei me perguntando como que um maluco desses tem coragem de postar uma coisa dessas? Existe um NPC no mundo virtual que, praticamente, o único objetivo dele é te falar EXATAMENTE o que você tem que fazer ou pra onde tem que ir caso você se esqueça e se sinta perdido. Se você se cansou dos diálogos (que são longos até) e não prestou atenção no que foi dito e não sabe pra onde tem que ir, só falar com esse NPC e pronto, problema resolvido. Não tem ponto amarelo, mas tem um NPC que é quase a mesma coisa.

Se você for pé no chão e levemente realista, os gráficos até impressionam um pouco mas deixam a desejar em alguns pontos. A parte que impressiona é que são mais de 300 digimons e que quase todos tem pelo menos 1 ataque especial único, com uma animação única. São diferentes até em alguns digimons que mudam apenas a cor do modelo. A animação do digimon para qualquer outra magia é uma só mas isso não achei ruim. As de ataques especiais que são bem legais mesmo.

Quanto aos modelos dos personagens não tem muito o que falar né? É anime. Tudo exagerado, cartunesco e afins. Só tenho a reclamar mesmo do personagem principal. Ele tem uma cara que NÃO É NORMAL NÃO. Ele fica o jogo INTEIRO assim -> O_O. Me falaram que tem alguma coisa a ver com algo chamado "self-insertion" ou algo assim... Eu sei lá o que é isso, só sei que o cara ficou totalmente estranho e eu não me acostumei com essa bizarrice nem depois de ter terminado o jogo. Vamos criar uns personagens normais, por favor.

Agora a ambientação do mundo virtual deixa a desejar. Em Digimon World 3, o mundo de realidade virtual é praticamente um mundo aberto repleto de biomas diferentes com digimons típicos de cada um deles. É ainda melhor porque, quase que num estilo Castlevania SOTN, existe um outro servidor alternativo que é o mesmo mundo com uma coloração um pouco diferente mas com digimons bem diferentes. Em Hacker's Memory, o mundo virtual é sempre a mesma coisa. Cenário cheio de coisas "tecnológicas" que horas são azuis, horas são vermelhos, as vezes mais escuros e por aí vai. Todo cenário "novo" digital é uma recoloração de um suposto lugar virtual mesmo, sem ambientação nenhuma, sem cidades, sem regiões com vida, nada. Enjoa. Em contrapartida, a ambientação que aparentemente representa lugares reais do Japão no mundo real é muito bem feita.

Eu estranhei um pouco as músicas do jogo mas acabei me acostumando. São um pouco repetitivas, mas mesmo assim não chegou a atrapalhar. De qualquer jeito, os efeitos sonoros são bem satisfatórios. Inclusive a voz dos digimons que é muito melhor que o barulho genérico esquisito que quase todo Pokémon tem em seus jogos. Meu único problema real aqui é não ter a opção de áudio em inglês. Se tivesse, provavelmente eu meteria um 9/10.

De qualquer jeito, esse jogo foi o que me fez decidir: Digimon é melhor que Pokémon. Eu duvido que algum Pokémon tenha ou venha a ter uma história incrível quanto essa sem contar que a liberdade do sistema de digievolução que permite, praticamente, a qualquer digimon se tornar quase qualquer outro em algum momento é um pouco mais satisfatório que a linearidade das evoluções de Pokémon. Eu recomendo muito esse jogo para quem gosta do estilo, não tem erro. Mesmo sem ter jogado o primeiro, foi uma boa experiência. Só fique longe da platina. Aliás, que diaxos esse povo tem cismado com gacha? Os caras enfiaram 700 medalhas em máquinas de gacha virtual na qual você precisa de todas. O drop é aleatório. Algumas são raras. E podem vir repetidas. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA enfim só joga, deixa o 100% pra lá.

A propósito, ele possui um modo online no qual fiquei feliz de poder enfrentar oponentes NPCs para pegar o que era necessário lá. Grato.


Prós:
- História
- Jogabilidade simples e direto ao ponto
- Diferentes sistemas de desenvolvimento de digimon
- Tem até uma certa rejogabilidade caso queira experimentar tipos diferentes de digimon
- Possui opções que facilitam o grind (obrigado PlatinumNunemon que me dão muito mais exp)

Cons:
- O design do protagonista é HORROROSSÍSIMO
- Áudio apenas em japonês (e legendas apenas em inglês)
- Ambientes repetitivos

Reviewed on Dec 08, 2023


1 Comment


5 months ago

Excelente análise amigo, me interessei pelo game, mas antes irei jogar o primeiro