Poucos jogos assumem para si a proposta e ambição de ser um "simulador de vida" e, mesmo com todas as suas limitações, The Sims 3 é o maior e o melhor expoente do gênero.

Antes de tudo creio que produzir uma crítica à The Sims 3, ou qualquer outro jogo da franquia, se utilizando de "parâmetros tradicionais" e uma lógica padrão de avaliação de jogos de simulação é um tanto quanto equivocado. As mecânicas e sistemas de The Sims podem parecer simples e rasos para o jogador de simuladores médio, mas The Sims funciona de uma forma muito singular que busca produzir um fantasia (ou fantasias) muito específicas. A complexidade e longevidade das mecânicas de certa forma pouco importam, além de que elas trabalham de forma mais silenciosa que o normal, os seus pontos brilhantes não são tão aparentes, mas qualquer alteração feita sem muita ponderação acaba por criar uma experiência simplesmente desagradável, como em The Sims 4, que é um lixo.

The Sims 3 é simplesmente perfeito em sua proposta, o esforço mais refinado da série e que se mantém muito agradável em tempos atuais, a ênfase no aspecto social da vida, os avanços gráficos e mecânicos que melhoram a qualidade de vida da fórmula, é até difícil falar algo sobre esse jogo que não seja apenas elogios repetitivos.
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A CASA DE BONECAS

Muito mais sobre aquilo que o jogo te deixa fazer e os desafios mecânicos que ele proporciona, The Sims é, em sua essência, sobre a fantasia de simular uma vida, uma aventura, principalmente para o público que passa por uma socialização feminina.

Algo que se repete muitas vezes nas descrições sobre The Sims é:
"É como brincar de boneca virtual"

Assim, pelo menos ao meu ver, o mérito de The Sims 3 está na sua capacidade de gerar cenários e situações que em muito se assemelham à uma brincadeira de bonecas e os cenários que nelas são imaginados. The Sims 3 pode não contar com desafios ou sistemas super complexos e imersivos, mas essa é a intenção.

Assim como Doom te dá fantasia de ser um super soldado lutando no inferno ou Fallout te dá a fantasia de um sobrevivente num mundo pós apocalíptico, The Sims busca a fantasia do "imaginar uma vida", imaginar uma família, criar uma casa, ir ao trabalho, cozinhar, uma ludificação da vida cotidiana que muitas vezes é ignorada.

A "fantasia do cotidiano" por algum motivo é tratada necessariamente como inferior ou chata se comparada à maioria das outras, mas ela também age como uma válvula de escape e até mesmo celebração e representação de elementos tradicionais da socialização feminina que, não por acaso, também são tratados com menor importância na vida real.
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POTENCIAL E CAPITALISMO

Por mais que a versão base de The Sims 3 por si só já seja o melhor expoente de seu gênero, não é difícil ver uma problemática muito grande em como The Sims 3 se vende como produto e experiência.

No "boom" dos conteúdos extras pagos para download e da internet nos jogos num geral, The Sims 3 foi completamente REPARTIDO e vendido separadamente, decisão não tomada pelos devs do jogo, o pessoal da Maxis, e sim pela MALDITA EA Games. Por mais que a versão base de The Sims 3 seja um ótimo jogo, ter que não ironicamente pagar 1500 reais para ter tudo que um jogo de 2009 pode te proporcionar é simplesmente abusivo e qualquer chance de piratear algo da EA é uma oportunidade a ser capitalizada.

Expansões como a vida de universidade ou a temática da Isla Paradiso são adições muito interessantes e bem trabalhadas, mas estão presas atrás de um paywall absurdo que só se intensificou na indústria.

Reviewed on Apr 16, 2024


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