Narrative: 5 - Gameplay: 5 - Visuals: 5 - Soundtrack: 5 - Time: 5
Stars: 5
Horizon Zero Dawn, desenvolvido pela Guerilla Games, representou para mim o início de um novo console, o PS4. Esse universo diferente, que mistura e brincao com dualidades, mesmo na própria concepção artística do jogo, me encantou muito. Mundo pós-apocalíptico mas primitivo, altamente tecnológico mas tribal, metálico mas animal e por aí vai. Todas essas dualidades são visualmente exploradas pelo game de maneira muito orgânica. É claro que é o máximo enfrentar um tiranossauro rex robótico com um arco e flecha igualmente tecnológico, mas mais do que isso, o jogo não entrega esses elementos, que já são incríveis por si próprios, de graça – ele faz muito mais que isso.
Antes de entrar no elemento que, para mim, configura o principal ponto forte de Horizon Zero Dawn (naturalmente, o roteiro) queria desenvolver ainda algumas impressões que tive acerca dos outros elementos do jogo. O visual do jogo é absurdamente incrível, sendo que ainda hoje (abril de 2019) é uma experiência deslumbrante. É claro que aqui e ali o motor do jogo não acompanhou o desenvolvimento, deixando de renderizar uma textura ou outra, corpos frequentemente ocupam o mesmo espaço, etc; mas nada que comprometa o bom desenvolvimento da experiência.
Eu, de largada, já sou enrolado para terminar os jogos que começo, mas falando de mundo aberto, a coisa fica muito mais séria. Jogos de mundo aberto, para mim, são jogos especialmente delicados. Games como: Red Dead Redemption, qualquer um da franquia GTA, Spider Man e Final Fantasy XV, sempre acabo seguindo o mesmo modus operandi (começo o jogo, fico ultra empolgado, faço um milhão de side quests, namoro a ideia de fazer 100% do jogo, canso da repetitividade das missões, largo o jogo por vários meses). Esse modelo de comportamento chega a ser quase um ritual religioso de tantas vezes que o pratiquei e, infelizmente, Horizon não conseguiu escapar dele. Afinal de contas, comecei o game em setembro de 2017 e só o terminei em abril de 2019. Entretanto, devo dizer que isso não foi uma falha do jogo, visto que ele apresenta um dos gameplays mais interessantes – e viciantes – que eu já vi.
Por mais simples que o gameplay seja (foca em atirar projeteis nas máquinas, se esquivar com frequência e fazer ataques corpo a corpo eventualmente), o jogo explora com maestria as diferentes abordagens possíveis para os diversos tipos de máquina. Ao apresentar uma espécie de grimório das máquinas, podemos aprender sobre suas fraquezas e decidir qual abordagem é mais adequada, permitindo uma gama bastante extensa – e divertida – de possíveis de tratamento. Essa variabilidade interna com grande qualidade é uma das grandes virtudes do jogo, já que, caso você se canse de matar determinada máquina daquela forma, você sempre pode mudar o seu equipamento e tratar todo o ataque de maneira completamente diversa. Diferente de jogos como Assassins Creed: Revelations (que também apresenta uma extensa gama de abordagens possíveis sem, entretanto, ser tão divertido ou recompensador, já que os adversários não apresentam um desafio real para o jogador veterano) Zero Dawn genuinamente te desafia, o que resulta em uma experiência mais enriquecedora.
Agora, o roteiro é realmente brilhante. Ele se limita permanecer dentro da fórmula mitológica da Jornada da Heroína, consagrada por tantas outras histórias. Ainda que alguns possam depor contra a história de Horizon, justamente por se limitar a uma fórmula narrativa declarada, essa estrutura não é só muito bem aproveitada, como também é mobilizada com inteligência, sabendo justamente quando e onde subverter ou expandir o modelo. Sim, a jornada de Aloy não é revolucionária, todo o arco pode ser previsto de antemão, mas, ao incorporarmos Aloy (o que é absolutamente facilitado pelo seu carisma e personalidade envolventes), essa jornada ganha um bom peso. Isso se deve ao esmero e cuidado com qual o modelo é aplicado. O chamado da heroína, anunciado profeticamente desde o início da narrativa – e mesmo os receios apresentados nos subsequentes momentos de aperto – é real, subjetiva e objetivamente relevante. Nós nos importamos com Aloy, compartilhamos das mesmas opiniões e, efetivamente, fazemos escolhas de como abordar seus diálogos.
Enfim, em toda a trajetória que enfrentamos para descobrir a origem/identidade de Aloy – a busca essencial de todo herói – somos compelidos também a salvar o mundo e toda a humanidade. Acredito que a organicidade do roteiro e seu brilhantismo está justamente no encontro desses dois motivos, épicos e mitológicos, da busca pelo eu e da guerra contra o mal – ou contra o “fim”. Aloy, pelo seu carisma, prólogo e jogabilidade incrível, é mais do que suficiente para nos cativar em sua jornada; o mundo, entretanto, nos conquista por outras vias. Toda essa atmosfera pós-apocalíptica, a mistura dialética do tribal com os avanços tecnológicos, nos deixam curiosos para entender e compreender o funcionamento de todo esse universo. A busca pela identidade da heroína-mito Aloy, passa, portanto, pela descoberta da origem – a gênese – do próprio mundo de Horizon Zero Dawn. A jornada para o autodescobrimento nos conduz ao descobrimento da própria história e isso é muito recompensador em termos de narrativa. Enquanto somos carregados pelo mistério de quem é Aloy, somos introduzidos pouco a pouco e, de diversas maneiras (arquivos de som, texto e hologramas), ao mundo que precedeu Horizon – o nosso próprio mundo.
A riqueza das origens do universo é absurda: toda a construção da problemática tecnológica que cercaria a humanidade, o contexto perigosamente semelhante ao nosso que precede o desastre, a doce ironia da busca pelo conhecimento acarretar em consequências arrasadoras, o sistema GAIA e seus arquétipos baseados em deuses gregos personificando diversas funções, a lista vai longe. Tudo isso contribui para uma imersão fantástica em um universo, meio ficção científica meio mitológico, que nos conta uma das melhores jornadas virtuais. Horizon Zero Dawn e Aloy, definitivamente, se tornaram um dos meus jogos e personagens favoritos.

Reviewed on Jul 14, 2023


Comments