A sequência de borderlands, Borderlands 2, é um título demasiadamente dependente do título anterior. Relevando os pontos negativos que isso traz, o jogo consegue apresentar uma história profunda e emocionante em um ambiente biodiverso tomado por bandidos e por uma corporação ditatorial.

Diferentemente de borderlands 1, o segundo jogo da franquia muda sua abordagem em relação a construção do enredo, no primeiro jogo a abordagem é exploratória, um novo mundo onde nada é conhecido e ao decorrer da história o jogador se ambienta ao cenário, aos personagens, ao universo que o rodeia, no segundo jogo o cerne da trama é dado logo de início e a construção se dá por adendos ao passado, tanto os acontecimentos vivenciados no primeiro jogo quanto os acontecimentos descritos pelas personagens principais.

Quanto às personagens principais, vale a pena ressaltar a ideia interessante de utilizar os personagens jogáveis do primeiro jogo e toda a história vivenciada por eles, no caso, pelo próprio jogador, como motor para a história do segundo jogo.

Ao contrário de outras sequências de jogos que fazem referências pontuais às histórias passadas, essa obra embasa boa parte da sua história no jogo anterior, o que tem seus pontos positivos e negativos. Os pontos positivos estão na possibilidade de se criar uma história mais profunda, desenvolvendo e detalhando cada personagem, enriquecendo o enredo e o universo do jogo. Pelo lado negativo, os jogadores que não jogaram o primeiro título terão certa dificuldade de entender boa parte da história, pois apesar de apresentar uma sequenciamento com início, meio e fim, o jogo necessita demasiadamente de uma base presente no primeiro jogo, com isso, extrapola os limites da obra proposta e se confunde em alguns momentos com um apêndice do primeiro jogo.

Essa abordagem de apresentar o ponto principal da trama do jogo logo de cara é diversas vezes perigoso, pois sempre é necessário retomá-la ao longo da história para que ela não seja esquecida e se torne banal, para isso as informações acerca desse cerne precisam ser disponibilizadas aos poucos e com certa frequência fazendo uma construção progressiva desse objeto da trama. Borderlands 2 faz isso com maestria, onde com a narração do marcus e a cena inicial do trem é apresentado o vilão do jogo, e com isso a progressão para se chegar nele e o enfrentar é progressiva. O vilão ao longo da história sempre continua a tentar matar e atrapalhar o jogador a realizar as tarefas, isso somado com as missões secundárias que apresentam o passado dele, alimentam a figura de vilão que é apresentada no começo do jogo, e como isso ocorre ao decorrer da história a figura dele sempre fica presente na memória do jogador e não é banalizada.

Em relação a ambientação, o jogo nos apresenta um cenário bem mais desenvolvido em comparação com o primeiro jogo, lá onde tudo é meio monocromático esteticamente, onde sempre é passado a ideia de aridez, seca e escassez, no segundo título há uma reviravolta estética, onde os cenários se divergem com frequência, ainda mantendo, em alguns momentos, a atmosfera árida, mas à enriquecendo com biomas de geleiras, vulcânicos e até rodeado por minerais alienígenas. A fauna apresentada nesse jogo é muito mais rica, ainda utilizando os animais característicos do primeiro título e adicionando vários outros, essa diversidade da fauna acompanha a diversidade dos biomas. Essa remodelação estética é gratificante pois há a sensação de realmente existir um planeta gigantesco que está repleto de mistérios e precisa ser explorado.

O cartoon como escolha estética para a produção do jogo se comunica muito bem com a parte cômica, uma das marcas registradas da sequência, pois é mais fácil para o público ligar o cômico com o cartoon, dado todos os desenhos infantis que a maioria das pessoas consomem desde a infância. Esse casamento de gênero com estética, é melhor desenvolvido nesse jogo, as piadas não se destoam do jogo, não parece que em algum momento específico foi dita uma piada especificamente para o jogador, ela é sempre inserida no próprio contexto do jogo e na construção das personagens.

Há presente no jogo uma abordagem intimista em relação aos personagens secundários e npc’s, isso se dá pela melhor construção das missões secundárias - principalmente se comparado com o primeiro jogo -, aqui você adentra na pessoalidade de vários personagens e conhece mais sobre sua história de vida, relacionamentos e aflições.

Ao analisar os problemas do jogo, é necessário entender a abordagem expositiva do enredo, onde se tem a trama principal exposta e a história gira em torno de acontecimentos para concluir essa trama. O problema está no fato da trama ser baseada demasiadamente no passado dos personagens e no primeiro jogo da franquia, criando um apêndice do jogo um, borderlands 2 não é uma obra fechada em si, ela depende demais de seu antecessor, por vezes parece quase um borderlands 1.5, e quando a obra tenta ganhar sua identidade própria ela deixa de explicar muita coisa que se passa no passado das personagens e esse, provavelmente, é o motivo da necessidade de borderlands pre-sequel.

Acerca das DLC’s elas apresentam uma abordagem diversificada, e vale a pena discorrer separadamente sobre cada uma delas.

A primeira DLC lançada, a da Capitã Scarlett exibe características recorrentes no jogo base, biomas e fauna diferenciados, personagens malucos porém não mais que o próprio enredo, na dlc um novo continente é apresentado com uma história linear e meio previsível mas sem deixar de ser interessante, é exibido novos inimigos, monstros e um veículo. Porém todo esse novo conteúdo é simplesmente diferente e novo, nada além disso, isso acontece porque nesta dlc não existe quase nenhuma ligação com a história ou personagens do jogo base, portanto não demonstra grande relevância para o escopo global da obra.

A DLC do Mr. Torgue’s é uma clara referência para a arena da Moxxi, uma das dlc’s do primeiro título da franquia, isso tanto pelo da história girar em torno de lutas em uma arena tanto pelo fato da estética árida característica do primeiro jogo. Essa dlc me parece seguir uma ideia parecida com as dlc’s do borderlands 1, pois exibe uma das corporações vendedoras de armas de pandora que nunca havia sido apresentada antes, além das referências já citadas. Os personagens secundários do jogo base são utilizados e aprofundados, além de trazer uma história intrigante como uma clássica “jornada do herói”, acredito que esta seja uma das melhores dlc’s do jogo.

Em Sir Hammerlock’s Big Game Hunt a fauna que é expandida no jogo base ganha novas proporções, utilizando o personagem do jogo base Sir Hammerlock’s, um exímio explorador e caçador, o jogador é posto em um ambiente de caça a monstros exóticos, esse foco da trama é dividido com a busca a nave caída da hyperion do professor Nakayama. Esta divisão da trama tem alguns pontos negativos, pois, diversas vezes elas não conversam entre si, o enredo tenta abordar os dois pólos de maneira cômica mas se perde na execução e isso torna a ideia de “grandes caçadas a monstros exóticos” um fiasco. Citando alguns pontos positivos, o que mais me impressiona nesta dlc é a imersão proporcionada pelo ambiente, você realmente se sente em um novo continente, os inimigos como nativos tribais, os monstros exóticos e a própria elaboração estética dos mapas realmente passa a sensação de um lugar exótico e inexplorado. O borderlands sempre entrega grandes inimigos e desafios no final de cada dlc mas esse “vilão” por sua própria personalidade, atitude e o fim que ele encontra o torna um dos personagens mais toscos e engraçados da história.

Tiny Tina’s Assault on Dragon Keep é de longe a melhor dlc do jogo, explorando quase todos os personagens apresentados no jogo base - lembrando bastante a dlc do claptrap no primeiro jogo -, apresenta uma abordagem de rpg dentro de um rpg, o jogador se vê jogando um jogo de Dungeons & Dragons narrado por Tiny Tina, uma menina psicopata de 13 anos, essa breve descrição já deu a entender os absurdos que acontece nessa “campanha” jogada pelo jogador, os paradoxos engraçados que acontecem tem sentido pois são a ideia de uma criança maluca “tornando realidade”, tipo um dragão aparecendo do nada na sua frente e te matando em um hit. Como um belo RPG de D&D o cenário medieval é explorado e bem implementado, os inimigos característicos não deixam nada a desejar, a estética é perfeita para a proposta da DLC. Juntando todos os pontos positivos já expostos, a dlc ainda apresenta um lado mais intimista das personagens no momento em que elas têm que lidar com os sentimentos de perda e dor, isso tudo dentro de um processo de aceitação com a cinematic final. A DLC é sensacional, é uma história que precisa ser contada pois ela reflete um dos pontos principais da história do jogo base, não é atoa que no ano de 2022 essa dlc tem um continuação como um jogo solo.

Ps: Adorei o fanservice do retorno a fyrestone e as missões secundárias características do primeiro jogo.

Reviewed on Jun 13, 2023


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