Essa vai ser longa.

Em 2016 e 2017 pegaram muito pesado na propaganda. Fizeram uns trailers lindos com músicas lindas e convenceram a galera que tava tudo bem, que não ia ser um flop de mundo aberto. Era um novo Zelda com história e carinho como maioria dos outros Zeldas. Mas eu fiquei cético do começo ao fim. Como que eles iam solucionar o problema de tantos jogos do gênero, onde a locomoção logo fica entediante, até você desbloquear alguma forma de viagem rápida que tira a magia da exploração? O problema de falta de conteúdo ou estagnação no fim do jogo? Qual seria a verdadeira liberdade do jogador? Tinha tanta coisa que podia dar errado.

Filhas da mãe acertaram muito. Escalar tudo que nem uma lagartixa pra então pular e sair voando e depois surfar no escudo adicionou uma estratégia na exploração, um desafio em controlar sua estamina e a recompensa de viajar rápido e descobrir lugares novos. Pontos de referência e NPCs são fáceis de achar e dão vida pro mundo. A liberdade de BOTW virou meu padrão de qualidade. Todo jogo eu tento fazer o caminho contrário que o jogo me recomenda pra ver se ele acerta tão bem como esse.

Acho que há muitas críticas super válidas pra BOTW. Koroks perdem a graça rápido, armas desintegrando em dez porradas é triste, nem todo mini-templo é bom e tem lugares do jogo que não tem muito o que fazer. Mas eu não consigo ignorar o quanto esse jogo me ensinou sobre game design. Sobre como você não é só livre pra escolher onde ir, mas pra resolver problemas. Tem templos que você pode resolver o quebra cabeça dezenas de maneiras diferentes. Há inimigos fortes que podem ser derrotados com criatividade. A física do jogo é ótima, permitindo brincar e coordenar ataques diferentes. Arremessar armas sempre me diverte. Até mesmo os defeitos do jogo não incomodam tanto quando você percebe que tudo pode ter um uso criativo. E é divertido. É um ótimo jogo pra meter o foda-se e jogar como você quiser.

E é BONITO. Zelda costuma ser bonito, e esse jogo é bonito de sua forma única. Por um lado o mundo aberto com música minimalista, por outro as dungeons com temas deprimentes. A história é ótima. As facções do jogo são ótimas. Os personagens são tão bons. Há lugares variados e distintos pra evitar a estagnação, e um trabalho incrível de design de som. Esse é o jogo que eu mais parei pra apreciar as paisagens, ver os dragões voando na distância, observar os moradores do vilarejo, ficar de boas numa praia... A atmosfera é incrível, e eu concordo que de primeira vista não parece tudo isso. Mas é um dos jogos mais zen que a Nintendo já fez.

O boss final decepciona. Mas até aquele momento, maior parte do meu jogo tinha sido a jornada ao invés do destino final, e jornada não decepcionou. Hoje em dia ao invés de lembrar de um chefão fraco eu lembro de quando juntei dois carrinhos de mina e saí voando pelo mapa, ativando torres que faltavam, alcançando lugares absurdos, e apostando corrida com os dragões. Eu lembro que quando eu finalmente consegui sair flutuando pelo mapa eu tinha visto que a magia de Breath of The Wild é respeitar o seu ritmo e oferecer vários desafios opcionais constantemente pra te incentivar a pensar. Você pode ir sim direto para o final do jogo desde o começo. Mas pra quê? Se o jogo te atingir o interesse e o emocional, você é absorvido. Isso é onde maior parte dos jogos de mundo aberto falham. A questão não é tanto sobre o mundo vasto que eles criam, é sobre o jogador.

Reviewed on Mar 19, 2024


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