O que faz dos jogos arte? Essa é uma pergunta muito importante, porque definir jogos como linguagem artística implica necessariamente na forma no qual criticamos. Pode parecer inútil para pessoas que não fazem crítica de jogos, mas o que falo aqui no sentido de "crítica" abrange também a opinião do jogador acerca do jogo. Inevitavelmente, todo esse pensamento implica na seguinte questão: o que tem de específico nos jogos que outras formas de arte (audiovisuais ou não) tem?

Ou, em outras palavras: Por que "Gris" é um melhor argumento para jogos serem arte do que qualquer coisa que o Neil Druckmann fez ou fará na vida? (não que Uncharted ou The Last of Us não sejam arte ou não sejam bons) Trata-se do game design, das "regras" do jogo que são propostas e que propõe a arte e a narrativa.

O design de níveis labiríntico que brinca com o eixo de outros jogos de plataforma 2D ("mover-se da esquerda para direita", técnica histórica de plataformas tradicionais, historicidade que também é um elemento importante para definir uma expressão como arte. Aguarde os próximos capítulos...) te encoraja a se perder no mundo, a investigar e arriscar a sua gameplay, e que reflete os constantes reveses que a personagem principal sofre na busca por colorir o seu mundo e conseguir a sua voz de volta.

Além disso, o ritmo proposto pela introdução das novas habilidades que a protagonista adquire ao longo de sua jornada é impecável. Parece sempre que elas são exploradas ao seu máximo em uma gama de diferentes situações. Isso sem contar como é feito o tutorial aqui: sem segurar na mão do jogador, apresentar um simples obstáculo de gameplay que faz o jogador entender a habilidade e a sua relação com os elementos do cenário.

Assim, acredito que o jogo se mantém muito mais por suas regras do que por qualquer intermidialidade possível com o cinema e sua linguagem e mostra muito bem o porquê jogos conseguem se manter por si só como forma de arte: porque podemos enxergar expressão, provocação, demonstração, contação, através dessas regras somente (mas não necessariamente). E, com base nisso, é que vou começar a discutir nas minhas próximas críticas (Alpha Protocol, KOTOR II, DOOM, Metal Gear Solid, na ordem que eu for terminando) uma outra questão da arte e a sua relação com os videogames: onde está (ou o que é) o autor nos jogos?

Nick Gamer voltou, amigos.

Reviewed on May 06, 2024


Comments