De certa forma, esse game me remete um tanto ao barroco, não só pelas pinturas espalhadas que, ao menos em rápidas olhas, pareciam ser desse meio, mas principalmente, pela forma que as coisas se comportam. Uma tragédia, que sem grande dificuldade, pode ser lida como uma punição ao pecador, afinal, o grande ponto desse enredo, é o homem ressuscitando mortos. A expressão de dor e a forma que os corpos se movimentam, principalmente dos zumbis, cria essa imagem um tanto barroca pra direção de arte.

Mas esse apelo, realmente, meio que para nesse ponto tudo. Os zumbis, são os reais protagonistas desse jogo todo, não é à toa que encaram essa estilização, que de certa maneira, beira o religioso; no fim, tamo falando de um apocalipse. A forma que eles se movimentam, sua IA muito bem construída, cheia de estados que se alteram de forma fascinante, dão um tom ameaçador, que fazia tempo que não via.

Nesse quesito, o jogo consegue, de certa forma, adentrar um terrorzinho gostosinho, com alguns sustinhos aqui e ali, fora atmosfera angustiante que paira na delegacia. Com momentos, onde sua mise-en-scene, trabalha suas ideias não só pela gameplay, mas também pelo seu level design. Como exemplo disso, podemos imaginar o momento que os cachorros surgem na campanha do Leon B: o caminho todo, até eles se soltarem, já deixa claro o que vem logo em seguida, não só isso, ele de certa forma, talvez em um nível menor, ainda ajuda a construir uma estratégia inconscientemente de como lidar com essa futura ameaça.

Contudo, nem tudo são rosas e, talvez como um fruto da sua própria condição histórica, ele nunca consegue chegar no seu ápice e em alguns momentos, beira ao idiota. Acho que o mais afetado nisso, é a exploração que soa dispensável e pouco estimulada, principalmente depois da delegacia e no seu retorno, é puramente pra resolver um puzzle e voltar avança e não verificar as demais portas. Não é algo que eu sentia no RESIDENT EVIL 2 (1998), mas nesse daqui, o “explorar”, parece mais opcional do que algo essencial. No esgoto em diante, isso é ainda mais deixado de lado e parece muito mais um: descobre o caminho certo e seguia sem desvios.

O fato de nem ter uma interação entre Claire e Leon, faz tudo parecer menos interessante também, pois aqui, diferente do original, parece muito mais necessário você retornar pra lugares, seja por causa de atalho ou por ta sendo perseguido pelo Mr. X, porém, zero encontros. O que atrapalha muito a campanha B.

A sensação inicial da segunda rota, é que ela não se justifica, depois isso some, porém, o gosto de que ainda é um extra fica até o fim. Não importa o que fez na campanha A, na B, ela não vai ter efeito e muitas vezes, vai precisar fazer as mesmas coisas que fez na anterior, mesmo sendo, em teoria, ao menos, outro momento do jogo. Ruim não é, contudo, não é algo essencial pra experiência como um todo, é um extra.

Mr. X, é ainda menos presente na rota B também, ao menos na que eu fiz: Leon B. Porém, não faz tanta diferença, já que ele não é tão ameaçador como faz parecer, é relativamente fácil contorná-lo e seu real problema, é mais bloquear sua passagem do que qualquer outra coisa. Mas longe disso ser algo ruim, amo a forma que ele é feito aqui, porém, tinha espaço pra ser mais, bem mais.

Nessa questão de dificuldade, só senti isso na campanha do Leon, na da Claire, sempre tinha armamento mais do que o suficiente pra tudo, na do Leon, era um pouco mais escasso e às vezes, realmente não tinha nada no avançar. O que é legal, contudo, só isso também, é legal. Sendo quase o que penso desse game num geral, é bom, mas nada memorável.

Reviewed on Oct 04, 2023


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