Um jogo desse tipo ter sido financiado é uma bênção.
Em uma era de reprodução de fórmulas bem sucedidas visando lucro, Pentiment decide, por causa de sua produção extremamente autoral, ser um jogo histórico. E isso não é apenas um detalhe.
Pode-se dizer que ele é um RPG onde jogamos com um pintor numa cidade medieval, mas passa muito longe das fórmulas padrões.
No lugar de lutar, nós andamos pela cidade investigando coisas. Em vez de fazer missões secundárias, nós comemos com os habitantes. A estrutura de RPG é, então, usada para conversar de outra forma com o jogador e com o mundo. Por isso, durou pouco tempo até que eu me sentisse completamente imerso no "roleplay". Me importava com as pessoas. Queria saber o dia a dia delas. Seus problemas e esperanças.
Ao mesmo tempo, o jogo articula um trama de mistério, onde nossas escolhas têm importância. Devo dizer que foi outro triunfo dele, já que fiquei tão preso nesse emaranhado de narrativas que no final não era mais sobre justiça, mas sobre contenção de danos a minha escolha, o que reflete o próprio personagem principal.
E tudo isso acontece nessa cidade que parece real. Realidade que transparece não apenas de bons diálogos, mas de narrativas visuais, como vestimentas, modos de falar, comidas de cada casa. É DE UMA RIQUEZA TREMENDA.
E tudo isso num contexto histórico que dialoga com nosso presente, quando, por exemplo, usa características de personagens para dialogar com pensamentos contemporâneos.
Além disso, a noção histórica do jogo está até na forma que a trama é contada. Um de seus temas é o poder da História, suas narrativas, perigos e importância. Ademais, a trama é contada de uma forma que percebemos, aos poucos, que não se trata do jogo do personagem principal, mas o jogo da cidade enquanto um ser histórico.

Genial. Simplesmente uma obra prima.

Reviewed on Feb 08, 2023


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