Quando Wolfenstein 3D (1992) foi ter um filho, surgiu Doom (1993). Quando System Shock 2 (1999) foi ter um filho, surgiu Bioshock (2007). Agora, quando resolveram criar um filho pra Half Life (1998), na minha visão, surgiu Prey (2006).

Ok, meio que ativamente todos esses jogos citados influenciaram todos os FPSs e até os jogos de outros gêneros que vieram depois deles, mas Prey é uma evolução quase direta do primeiro Half Life. Todos os elementos do FPS da Valve estão lá de uma forma ou de outra. Desde a estrutura da história/missões e mundo, até elementos de gameplay como a própria gunplay e design das armas, que de certa forma replicam o que foi visto na primeira aventura de Gordon Freeman e, não só isso, mas os evoluem.
Sem falar que esse jogo puxa muitas inspirações na trilogia de Nintendo 64 do Turok (não só por que em ambos os jogos existem indígenas usando armas, longe disso), com elementos de design de H.R. Giger (Alien, Duna de Jodorowsky, etc.) e, especificamente, em Doom 3 (2004), sendo que este último influencia bastante na ambientação escura e no design dos inimigos (principalmente os Bosses).

Por mais que até agora eu tenha pintado o jogo como nada original, ele passa longe de ser apenas um pupurri de elementos de bons títulos do gênero FPS da virada do século. Pelo contrário! Pra sua época, esse jogo tem elementos extremamente originais. Em especial na progressão e nos puzzles, onde a Human Head utilizou de forma criativa as dimensões (altura, largura e profundidade) pra criar os seus mapas labirínticos e desenvolver os quebra-cabeças de caminhar sob a parede/de ponta cabeça, além de se utilizar de portais para os desafios que envolvem perspectiva. Em outras palavras, as mecânicas (na época) únicas trazidas pelo estúdio para compor Prey, foram tão boas que indiretamente (ou diretamente) influenciaram jogos como Portal (2007), Perspective (2012) e Hellblade (2017), além de muitos jogos que se utilizam da perspectiva e gravidade para montarem os seus desafios.

A história do jogo é no mínimo interessante. A forma em que constrói o mistério do que está acontecendo ao longo do jogo é relativamente boa. Mas o que mais me atraiu, foi o jeito em que desenvolveram o conceito de tradicionalidade e modernidade. Onde o Domasi (um descendente de uma tribo indígena norte americana) passa por esse conflito quase que o jogo inteiro. Não só isso, mas a forma Shakespeariana em que contaram a história do mesmo e dos personagens a sua volta é no mínimo corajosa, principalmente pra uma franquia nova.

Prey de 2006 foi um jogo que me surpreendeu. Tudo que foi feito nele parece bem pensado. Desde a ambientação que utiliza de elementos tecno-biológicos até o seu gameplay de combate um tanto quanto confuso e nada original, mas super divertido. Tudo nele exala carinho vindo da desenvolvedora que claramente queria que esse fosse o início de uma franquia de sucesso.
É uma pena que o péssimo desempenho em vendas na época e a ganância da Bethesda durante o desenvolvimento de Prey 2 fizeram com que, não só esse jogo ficasse ofuscado como também esquecido ao longo do tempo, e suas contribuições para a indústria igualmente. Parafraseando Cidadão Kane (1941): “A única coisa maior que ele, é a sua história!”. E talvez essa seja a melhor forma de descrever Prey de 2006, um jogo em que a história dos bastidores é muito mais famosa que o próprio jogo. Quem sabe agora que a Human Head (hoje em dia Roundhouse), que está dentro do grupo Xbox não tenha a oportunidade de fazer o tão sonhado Prey 2 aos moldes do que estavam planejando em 2011… Ou talvez esse só vai ser mais um bom jogo esquecido pelo tempo…

Reviewed on Oct 01, 2023


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