Splinter Cell é surpreendentemente um absurdo de jogo do começo ao fim, e que tranquilamente consegue competir e superar tecnicamente muitos jogos dos dias atuais.

Eu acho que o primeiro ponto que salta aos olhos logo de cara nesse jogo são seus gráficos. As texturas de altíssima qualidade e - esse que me fez babar o jogo inteiro - aliada a luz dinâmica dos cenários, tornam esse jogo lindo aos olhos até os dias de hoje. A iluminação é pra mim o principal ponto disso, e é simplesmente hipnotizante! Seja as luminárias pendentes que se movimentam de forma realista ao levarem um tiro, seja pelos raios de luz dinâmicos através de persianas e/ou galhos de árvore, tudo relacionado a iluminação é tão realista até para os dias de hoje que a todo momento que eu parava pra reparar nisso, eu só conseguia me perguntar “como a ubisoft conseguiu chegar nesse nível de qualidade técnica logo no início dos anos 2000?”. Nos momentos em que os inimigos trazem luminárias em suas cabeças, esse elemento também se ressalta de forma impressionante. A movimentação do espectro da luz e dos raios da mesma são simplesmente muito bem feitos e fidedignos com a realidade.
A direção de arte, num geral, é espetacular com suas cenas cinematográficas, principalmente que esta traz takes e elementos de obras do cinema relacionadas ao gênero de espionagem e ação da época como Duro de Matar, Missão: Impossível e até Bourne (esse último lançado poucos meses antes desse jogo). Não só isso, mas em muitas fases, graças a escolhas de composição e posicionamento de luz a direção de arte salta de ser simplesmente impressionante pra um patamar quase que pornográfico de tão hipnotizante.
em sua gameplay ele carrega muito dessa veia. No nível normal ela apresenta um desafio na medida certa (pra mim) para um jogo focado no stealth, nem muito fácil mas longe de ser um passeio no parque. Eu encaro que certos elementos da gameplay (como certos equipamentos) estão ali só pra preencher linguiça e que não precisavam existir, pois são completamente inúteis na maior parte do tempo. Mas eu entendo que eles quiseram utilizar de traços de immersive sims da época (a franquia Thief sendo a mais evidente aqui) pra se diferenciar e dar mais complexidade a esse aspecto em relação a franquia em que eles assumidamente queriam bater de frente, MGS.
Como deu pra ver, o jogo se pauta muito no realismo, e a movimentação dos personagens é outro ponto que carrega muito esse toque em sua veia.. Claro que isso tem um pouco mais de limitação de sua época (principalmente em relação aos pontos gráficos aqui citados), mas nada que reduza a qualidade desse quesito. A Ubisoft conseguiu fazer de forma brilhante com que a movimentação do Sam Fisher seja extremamente dinâmica aqui. Seja em momentos em que o protagonista esteja carregando peso (como um corpo), seja pela chuva sob o mesmo e o cenário de algumas missões, seja pela física das roupas e cortinas do cenário ou por simplesmente existirem cacos de vidro no chão, tanto o Sam Fisher quanto o cenário reagem super bem ao que está acontecendo na gameplay e de forma altamente realista.
Outro ponto relacionado a gameplay vem da parte sonora. Os passos aqui são elementos fundamentais para a experiência de se esconder de um inimigo, ao ponto de ter toda uma parte do tutorial relacionado a isso. Não só isso, mas a parte musical também é muito boa. Pra mim a trilha desse jogo consegue dar a nota necessária de filme de espionagem com um tom militar, levando a imersão a um nível muito alto. Ao longo do jogo, esta se repete um pouco acima do que se espera mas ainda assim é muito boa pra compor tanto os cenários quanto a gameplay.

Pra ser sincero, esse jogo tem pouquíssimos defeitos. Eu acho sim que a gameplay se perde um pouco quando o jogo tenta se enveredar mais pra ação e quase abandonando o stealth em certos momentos pós missão 2. Outro ponto que eu particularmente não gosto, é que alguns inimigos são altamente influenciados por RNG (ou seja, têm comportamentos aleatórios). Isso acontece mais quando se chama atenção deles… E ok, traz um grau de os personagens estarem vivos e não serem simplesmente NPCs, mas eu não curto muito, principalmente porque existem muitos inimigos nas fases, o que torna os seus erros um pouco maçantes.
Talvez o que mais me incomode seja a baixíssima precisão da mira. O retículo além de ser extremamente sensível é totalmente impreciso, exigindo (muitas vezes) no mínimo 2 tiros pra acertar um alvo (já que é comum o primeiro tiro simplesmente desviar do alvo, mesmo com a mira estabilizada).
No final, esses pontos não são nada que estraguem a experiência geral.

Particularmente eu detesto quando os jogos tentam ser hiper realistas, pois isto tira a dinamicidade do controle que é algo que eu prefiro sempre ter ao meu alcance. Mas Splinter Cell utiliza isso de forma brilhante, se encaixando como uma luva em sua gameplay cadenciada e que preza pela calma e lentidão do jogador. O jogo constrói com pouco e com extrema qualidade uma atmosfera de suspense e tensão que, ao meu ver, é obrigatória no meio stealth.
No final, Splinter Cell é um jogo muito à frente do seu tempo. A qualidade técnica aqui traga é invejável pra muitos jogos AAA atuais e consegue dar um tapa na cara dos mesmos. É sem sombra de dúvidas um dos melhores de seu gênero, porém, está longe de ser um jogo pra se recomendar pra alguém que queira conhecer e entrar para o gênero stealth, contudo para alguém já inserido no meio e que por algum motivo nunca teve oportunidade de jogar (eu a um mês atrás ksksks), vai ter aqui um prato cheio de excelentes desafios, mesmo depois de mais de 20 anos de seu lançamento.

Reviewed on Oct 16, 2023


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