Bonitinho, mas ordinário.

En Garde! é definitivamente um jogo. Um jogo bom? Não! Um jogo ruim? Também não! Em suma, ele tem ideias legais, mas não executa de uma forma que o destaque no meio da multidão.

En Garde! aposta principalmente no humor, sendo quase uma sátira (proposital) ao Zorro, mas não é algo muito bem desenvolvido aqui. Quando derrotamos um inimigo (por exemplo), ele fica estirado no chão, e se você ficar perto dele, provavelmente ele vai mandar cochichando algo como “Da próxima vez será diferente” ou “Eu poderia ter ouvido minha esposa, e não ter saído de casa hoje” e por aí vai. Por mais que eu goste desse tipo de humor, já que me lembra os grunts de Halo, não é nada muito incrível. Piadocas do tipo ocorrem ao longo da história e em outras partes da gameplay, mas morrem na praia, tal qual as demais piadas.
Falando em história, ela existe, e é só isso mesmo. No primeiro episódio, eu até me esforcei para me importar, mas do segundo para frente eu só larguei a mão, porque não tem nada aqui que seja memorável ou diferente de qualquer coisa já lançada.

Partindo para as reclamações, vamos falar da gameplay. É até legal, nada muito complexo, nem muito profundo e muito menos ruim, e pra ser sincero ele num GERAL é bem ok… O problema vem da execução nas lutas mais avançadas do jogo. Fazendo uma comparação direta, em Batman Arkham (qualquer um dos quatro), quando estamos cercados por vários inimigos, cada um ataca de maneira cadenciada, ou seja, um de cada vez (mesmo nas dificuldades mais difíceis). Já em En Garde! todos os inimigos atacam junto quando estamos cercados, e isso gera a situação mágica de enquanto um te bate com um ataque defensável, o outro usa um indefensável. E ok, existe o botão de desvio além do parry nesse jogo, mas se você está em um canto ou perto de um monte de barris (por exemplo), seu desvio não acontece porque o jogo entende que você está desviando em direção a um obstáculo. E o problema é que isso é EXTREMAMENTE comum, já que as arenas ou são muito pequenas, ou têm muitos desníveis ou têm muitos elementos no cenário que se tornam obstáculos indiretos. Se isso não bastasse, o jogo, durante os combates, não sabe equilibrar a quantidade de inimigos em tela. Em lutas de bosses vai ser comum você, além de enfrentar o chefe, ter que lidar com minions simples e inimigos de armadura/patente mais alta enquanto o chefe vem querendo enfiar a espada na sua barriga, e isso na luta final é intensificado ao quadrado, já que nesta, enfiaram mais inimigos especiais que exigem uma luta mais cadenciada pelo jogador contra os mesmos. Resumindo, vai ser comum você perder uma luta porque o jogo foi MUITO mal equilibrado no combate.
Outro ponto crítico para mim é que esse jogo é mal otimizado. No Steam Deck (onde eu joguei 95% do jogo), mesmo com o indicador de frames interno da Valve me mostrando que estou jogando a 60 FPS, até eu me acostumar, o jogo parecia estar rodando em 40 FPS. Mesmo reduzindo as specs, era muito claro que a movimentação da Adalia estava mais lenta do que deveria ser. Na luta final, mesmo no low, vira um slideshow hediondo no portátil da Valve, me forçando a realizar essa luta em específico no meu PC.
Falando em otimização, eu não entendo como esse jogo é pesado no Steam Deck. Enquanto eu jogava Hades ou Outer Wilds no médio ou até ultra, mesmo que a bateria fosse drenada como se fosse água escoando, era difícil o videogame esquentar de forma perceptível ou ouvir a rotação das ventoinhas, mesmo jogando por mais de uma hora. Com En Garde!, mesmo jogando no low, o Steam Deck parecia estar fazendo um cosplay de drone e levantando voo, de tão barulhento. Não só isso, mas em menos de 20 minutos, o “videogame” esquenta de maneira assustadora, não é algo insustentável (que dificulta o jogador a tocar no portátil), mas é algo extremamente perceptível.
Por fim, eu particularmente acho criminoso esse jogo não ter áudios em espanhol. Como eu disse, esse jogo meio que é uma paródia/releitura do Zorro (que é um personagem criado nos EUA), e como a história se passa em um lugar similar ao México ou Espanha, ter os bonecos falando em inglês (com sotaque) tira um pouco do capricho da história e a torna menos crível, pelo menos para mim. Tá certo que o Zorro em si fala em inglês com sotaque tal qual aqui (pelo menos a versão do Antonio Banderas que é a minha referência sob o personagem), mas já que eles fizeram uma releitura moderna (ou algo do tipo), na minha visão, eles poderiam ter abraçado o idioma e não ter ido por uma linha genérica…

En Garde! (2023) é interessante (eu acho), mas nada de mais. Sua direção de arte é ótima, mas não consegue relevar os demais defeitos do game. A gameplay é genérica e não tem nada de mais. O humor é bobo e divertidinho (no máximo) e também não sobressai sob os demais pontos do game. Eu gosto (e muito) que o jogo seja linear e curto, mas nem isso salva.
Eu vi uma galera comparando esse jogo com Souls, e eu não tenho ideia do quanto daqui foi tirado da franquia da FromSoftware (muito por nunca ter jogado um Souls), mas eu acho bem injusto essa comparação. En Garde!, por mais que tenha parries e lutas de espada tal qual souls, não parece ter em seu conceito a proposta de se comparar ou inspirar diretamente em Dark Souls, Sekiro ou Elden Ring, parece mais um projeto indie em que seu criador estava experimentando conceitos e tentando dar um passo maior que a perna, do que algo maior que isso.

Reviewed on Mar 10, 2024


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