(Review escrita em 2015)

Rocket League é a sequência de Supersonic Acrobatic Rocket-Powered Battle Cars, exclusivo de Playstation 3, e combina dois elementos de gêneros diferentes e os mistura para criar uma agradável experiência multiplayer. Nele você controla um carro e deve cooperar com seu time para levar a bola no gol do adversário, enquanto defende o seu próprio gol. Como é esperado de um jogo de esportes, ele não apresenta um modo história, quase toda a diversão está no modo multiplayer online ou splitscreen com até 4 amigos. Há ainda um modo campanha single player, onde você joga com times de AI para ganhar um campeonato, mas não há diferença nenhuma entre esse modo e o multiplayer em questões de gameplay, esse modo pode servir para se familiarizar com os controles do game antes de pular para o modo online. Ainda há um modo de treinamento e tutoriais se você ainda tem problemas com os controles. O multiplayer online é o foco do jogo e apresenta diferentes modos de jogar, 1x1, 2x2, 3x3 e 4x4. Partidas de 2x2 são as minhas favoritas, pois as de 1x1 tendem a ser meio monótonas. Em 2x2,você pode chamar um amigo pelo skype, e poderão colaborar um com o outro com facilidade algo que não se vê em 3x3 e 4x4. Entrar na party de alguém ou criar uma é extremamente fácil, apenas dois ou três cliques e pronto, e há servidores para todas as regiões que deixam as partidas livres de lag. Esses fatores são essenciais para o jogo funcionar bem online, ainda mais um focado completamente no multiplayer como Rocket League, a Psyonix fez um ótimo trabalho para certificar de que estava tudo funcionando antes de lançar o game. As músicas que tocam em Rocket League são apenas no menu principal e ausentes durante as partidas em si, provavelmente para incentivar o jogador ouvir as músicas que ele gosta enquanto joga.

Os gráficos do jogo são bem bonitos, as texturas estão ótimas e as partidas estão travadas em 60fps, essencial em um game rápido como esse. Você pode personalizar o seu carro como bem quiser, mudando o seu modelo, cor, pintura, roda, turbo, entre outros. Com exceção dos modelos dos carros, a customização é puramente cosmética, sem nenhuma interferência no gameplay. Os modelos dos carros possuem algumas diferenças quanto as hitboxes, controle e velocidade, mas elas são tão pequenas que o jogador casual dificilmente as nota. Já o jogador competitivo pode escolher o carro que bem preferir, mas isso não vai mudar o jeito de jogar. Não é como, por exemplo, escolher um personagem em um jogo de luta, todos os carros podem fazer as mesmas coisas de maneiras ligeiramente diferentes. As mudanças são tão pequenas que meses depois do seu lançamento todos acreditavam que não haviam diferença alguma entre os carros, pois os desenvolvedores não tocaram a respeito do assunto. Essa grande semelhança entre todos os carros traz aspectos bons e ruins: Ela não dá nenhum tipo de vantagem ao jogador, o que balanceia a partida, mas a semelhança absurda entre os veículos deixa as partidas bastante simples, e isso afeta algumas coisas que eu vou me aprofundar mais tarde. Outro fator cosmético são os estádios, que funcionam exatamente iguais em questão de gameplay, diferente de seu antecessor, Supersonic Acrobatic Rocket-Powered Battle Cars, que possuía fases completamente diferentes uma da outra. No entanto, os desenvolvedores podiam ser um pouco mais criativos na hora de montar os estádios, fazê-los diferentes acrescentaria diversidade ao jogo e aumentaria o skill ceiling, com estratégias diferentes para estádios diferentes. Entretanto, eu consigo ver porque eles não fizeram isso, se as fases fossem escolhidas pelos jogadores, a fase pode não agradar alguém, e escolher as fases aleatoriamente só pioraria o problema. Além disso, um time poderia focar apenas em uma estratégia e jogar exclusivamente em um mapa, o que torna a variedade de mapas inútil. Talvez isso poderia ser evitado mudando pequenas coisas na fase, e não o layout inteiro, como em SARPBC. Coisas pequenas como o posicionamento dos turbos e algumas mudanças no formato do campo poderiam criar uma experiência mais variada para os jogadores mais casuais, enquanto aumentaria o skill ceiling para os jogadores mais sérios.

Embora o jogo seja extremamente similar ao futebol à primeira vista, você perceberá que ele é muito mais simples que ele ou qualquer outro esporte. Sem faltas, sem escanteios, sem juiz, só uma regra: acerte a bola no gol adversário em 5 minutos. O objetivo é bastante simples, mas os métodos para atingi-lo e as opções que o jogador tem é o que tornam as partidas divertidas e interessantes. Como você controla um carro, você óbviamente não tem tanto controle sobre a bola quanto tem com seus pés, o que muda o jogo bastante. Sem total controle sobre a bola, você precisa focar em coisas como o ângulo do “chute”, seu momentum, o momentum da bola e as posições dos demais jogadores. Por causa disso, todo toque na bola é tratado como um chute ao gol, diferente do futebol normal, onde você pode driblar os oponentes manejando a bola com seus pés. Graças aos seus motores de foguete, os carros podem executar diversas manobras aéreas para acertar a bola, e é aí que o game começa a sair do tema de “futebol” e se tornar sua própria ideia. Jogadores mais experientes podem “voar” por um grande período de tempo e executar manobras aéreas, se ele possuir o boost e a habilidade necessárias para isso. A gravidade baixa da bola é um jeito de incentivar essas manobras aéreas, e também dá um tempo ao jogador para decidir se ele vai optar por usar seu boost no ar ou esperar pelo bola pacientemente no chão. Essas decisões podem parecer simples, mas em certos momentos você precisa fazer decisões rápidas para impedir um gol, e essa decisão pode fazer a diferença. Um dos motivos de Rocket League ser tão divertido é porque o ele é cheio de momentos satisfatório quando você calcula a trajetória certa da bola para salvar o seu time, ou quando você gasta todo o seu boost para empurrar a bola no gol do adversário, são momentos cheios de adrenalina e no geral extremamente prazerosos de se ter jogando. Seus controles são perfeitamente programados para simular o "peso" um carro, sem se tornar desnecessariamente “mecânicos” a ponto de fazer alguém desistir de jogar. No início não é tão fácil controlar seu carro da maneira que deseja, e realizar acertos aéreos estão praticamente fora de cogitação. Claro, você vai pegando o jeito com o tempo, mas isso foi porque o jogo te entreteve o bastante para você melhorar. Se ele fosse lançado com os mesmos controles, sem a apresentação e polimento que Rocket League tem, muita gente provavelmente pararia de jogar antes de pegar o jeito dos controles. Esses controles são o que tornam os gols ainda mais satisfatórios, ainda mais contra um time defensivo. Você possui várias maneiras de movimento, acelerando com turbo, executando manobras no ar, entre outros, a opção de dirigir nas paredes foi outra boa idéia implementada no game. Por ser difícil de realizar, nem tanta gente opta por tentar fazer uma jogada pelas paredes, mas isso abre espaço para aqueles que conseguem começar jogadas sem problema nenhum e pegar o adversário de surpresa. Essa mistura de opções variadas e controles bem feitos resulta em um gameplay que entretém tanto quem joga quanto quem assiste, por isso o jogo é até hoje um dos mais vistos no twitch e no YouTube.

Em um jogo como Rocket League, trabalho em equipe é essencial para ganhar uma partida. Colaborar com o seu parceiro é importante para que vocês não entrem no caminho um do outro na hora de atacar, nem para não deixar entradas para o ataque do oponente na hora de defender. Por isso vários times acabam criando estratégias a seguir, onde cada um possui uma certa "função" no jogo. Uma dessas estratégias, e a mais comum, envolve um carro ficar de goleiro e o resto cuida de fazer os gols, enfraquecendo o ataque para cobrir a defesa. Há times que preferem ir com todos os carros na ofensiva, aplicando pressão no time do oponente e tentando cobrir todas as opções de gols possíveis, e consequentemente deixando suas defesas vazias no caso de um contra-ataque. Do outro lado temos times que de começo jogam defensivamente, forçando o ataque adversário, e aproveitam de um erro de ataque do oponente para fazer um contra ataque. São times pacientes que precisam capitalizar em cima de um erro do oponente e é o que mais precisa de comunicação entre os jogadores devido ao tempo de transição entre a defesa e o ataque. Claro, ninguém está restrito à essas estratégias, em certos momentos até bater constantemente no carro do outro time chega a ser uma estratégia legítima, não há como cobrir tudo que ele pode fazer. Eu acho que é até possível dizer que a margem entre jogar casual e competitivamente é menor que o usual. Não quero dizer que o seu “skill ceiling” é baixo, é mais o “skill floor” que é mais alto devido aos controles, e isso deixa as duas partes da comunidade mais próximas uma da outra do que em outros jogos competitivos, em termos de gameplay. Isso é bom porque isso mantém a fanbase unida, evitando as clássicas discussões entre a parte casual e a competitiva sobre o "jeito ideal de jogar". Além disso, assim existem mais jogadores com níveis semelhantes aos seus, resultando em um matchmaking melhor. No entanto isso pode significar que, devido à simplicidade de Rocket, não há mais espaço para melhoras além do que já está lá, pois todos os estágios e carros são exatamente os mesmos. Isso não seria algo tão sério para quem joga, mas sim para quem o assiste, pois as partidas seriam muito semelhantes e, com o passar do tempo, monótonas, e sem audiência esse game não faria tanto sucesso no cenário competitivo. O jogo é bem novo para pensar nessa escala, então eu posso estar bem errado, mas ainda assim é algo interessante a ressaltar. Enfim, o matchmaking é rápido e funciona bem, com partidas livres ou rankeadas divididas em 6 servidores (1 para cada continente, 2 para a América do Norte). Quando um jogador sai no meio da partida, uma carro com Inteligência artificial (AI) entra no jogo no lugar e joga até outro jogador entrar. A AI faz bem o seu trabalho na maioria das vezes, mas de vez em quando ela comete erros que nem o pior dos jogadores fariam, o maior exemplo sendo gols contra. Por outro lado, há vezes onde a AI executa jogadas impressionantes que deixaria qualquer um boquiaberto. Embora ela seja meio desajeitada, jogar com a AI é divertido e muitas vezes não chega a atrapalhar o jogo.

É surpreendente ver como Rocket League conseguiu tanta fama nesses últimos meses. Talvez seja porque no seu mês de lançamento não foi lançado nenhum jogo triple A, o que fez ele chamar mais atenção. Talvez seja porque ele estava de graça na PS+ do mês de Julho para os usuários do PS4. Talvez seja porque ele era barato na Steam, porque ele é bem leve quanto à memória, porque apresenta crossplay entre as duas plataformas, ou por tudo isso. Rocket, na minha opinião, merece toda a atenção que ganha, é um game simples, fácil de jogar, muito bem apresentado e incrivelmente divertido com amigos. Talvez ele seja muito simples para torneios mais sérios, mas isso não passa perto de ser um problema para quem gosta de jogar por diversão. Recomendo a todos a pelo menos tentarem o jogo, ainda mais com um ou dois amigos.

Reviewed on Nov 03, 2020


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