Conceitualmente, eu achei Starfield um jogo maravilhoso; agora, mecanicamente, temos apenas um RPG da Bethesda com um ritmo de jogo muito esquisito.

De forma alguma esse texto será minha análise final do jogo: completei a main quest, fiz algumas side quests, namorei a Andreja, e nesse balaio tenho apenas 40 horas, o que é bem pouco se tratando desse tipo de jogo. No entanto, existem algumas coisas que gostaria de comentar sobre o jogo base antes de entupir isso aqui de mods.

Starfield é um jogo muito engraçado agora que a gente pode olhar para trás e ver toda a trajetória da Bethesda até chegar aqui. Na época eles falavam muito que a ideia estava demorando para progredir porque eles não tinham a tecnologia necessária para fazer o jogo que eles queriam, e eu entendo completamente o que se passava na cabecinha do Todd Howard. No entanto, em uma ironia 'Interestelar' (filme de 2014) da vida, o produto final acabou chegando um pouco defasado no ano de 2023.

Não é de hoje que a Creation Engine, a engine dos RPGs da Bethesda, se mostra algo defasado que parece que está segurando o jogo à base da fita adesiva e cola bastão. Felizmente o lançamento foi longe de ser um desastre com os famosos festivais de bugs com os quais esses jogos são conhecidos, mas ainda temos alguns problemas que existem desde sempre e que ainda não foram corrigidos: os NPCs ainda parecem muito mecânicos, alguns objetos não se comportam da forma como deveriam no mapa, e ainda vamos ter alguns crashes. No entanto, como grande ponto positivo temos o fato de que a Bethesda conseguiu fazer seu melhor sistema de combate até hoje, já que o tiroteio desse jogo é bem gostoso e bastante satisfatório. Se você também é véio de guerra nos jogos da empresa, convenhamos, a Creation Engine veio para ficar e não vai ter nada que possamos fazer quando a isso, mesmo com discordâncias, esse é um ponto passivo, estamos jogando esses jogos por buscando uma coisa maior.

A graça dos RPGs da Bethesda é você criar a sua própria história e viver o seu personagem a fim de se expressar durante a gameplay para moldar a história e o mundo à sua maneira. A graça aqui é se perder nesse mundão sem porteira. Depois de Morrowind essas características começaram a se perder nos jogos da empresa, chegando no desastre (criativo, não financeiro) que foi Fallout 4, um jogo com um enfoque narrativo mais cinematográfico e que tenho sentimentos mistos, já que marcou não só para mim, mas para todos os fãs, o que seria o início da queda da empresa que começou a tomar várias decisões criativas duvidosas e de implementação medíocre. Starfield veio para resolver isso e resgatar com maestria a essência de um RPG da Bethesda? Sim e não.

A exploração é tratada de uma forma muito esquisita nesse jogo. Como boa parte desses planetas são gerados proceduralmente, temos um mundo muito vazio que exige uma exploração mais contida. Os planetas possuem pontos de interesse que em si são bem ricos de coisas para se fazer e quem vão puxando várias side quests para você continuar a jogar, mas no momento em que saímos deles, as coisas ficam bem monótonas. Quando você começa o jogo, você ainda não saca isso muito bem, e como as pessoas tem mais familiaridade com No Man's Sky, isso faz com que joguem Starfield dessa mesma maneira, só que isso está errado, e não é difícil ver as pessoas odiando e dropando cedo o jogo devido a essa questão. Starfield não é No Man's Sky, e acredito que se o jogo tivesse um tutorial mais eficiente e direto ao ponto, esse tipo de coisa não aconteceria. Quando você se acostuma, a exploração se torna natural, mas até surgir esse "estalo" na sua cabeça, demora um bocadinho.

Fico feliz que o menino Todd Howard percebeu que em Fallout 4 ele errou, foi moleque, e tentou corrigir o problema do "roleplay" em Starfield. Nesse jogo é possível resolver seus problemas de várias formas possíveis, com algumas quests contendo até mesmo várias ramificações interessantes com base nas suas escolhas, perks, características de personagem, seu pano de fundo escolhido, entre outras coisas; com a conclusão de algumas quests depois dando às caras novamente já que houve um esforço de tornar esse um mundo vivo em que as pessoas respondem às atitudes tomadas pelo jogador. Eu gostei dessa abordagem, e só isso já me valeu o jogo, já que sei que a Bethesda está ouvindo a rapaziada e está tentando resgatar aquilo que faz seus jogos serem tão especiais.

Outra coisa interessante é que, depois de Morrowind, essa é a melhor main quest que a empresa já fez para seus RPGs (lembre-se que Fallout: New Vegas foi desenvolvido pela Obsidian). Ok, é verdade, a forma como alguns diálogos são escritos podem ser bem esquisitos, além de que as coisas demoram muito para engrenar; são críticas justas, mas no momento em que o jogo mostra todas as suas cartas, a experiência fica muito interessante.

Starfield tem essa aspecto Jornada nas Estrelas em que o espaço carrega vários mistérios e a humanidade precisa descobrir o que tem lá fora e se aventurar. No meio disso encontramos várias questões filosóficas para tentar explicar o fascínio com o espaço e com aquilo que é grande demais para a compreensão humana. O jogo trabalha de forma muito interessante essa comparação da efêmera vida humana em comparação à imensidão do universo. A história do jogo traz esse sentimentos de angústia em não saber o que nos espera lá na frente, os arrependimentos que carregamos em nossa vida, o que a gente tem o potencial de ser, o que poderíamos ter sido, e o que nunca fomos.

A minha interpretação da história é que a beleza da vida está nas pequenas coisas e que o progresso que alcançamos como humanidade deve vir de maneira coletiva, e não individual. Somos quem somos porque temos os nossos, e antes deles houveram outras pessoas que caminharam para que estivéssemos aqui. Todos nós temos o privilégio de viver todos juntos nesse exato momento do espaço-tempo, e esse tempo que passamos juntos é o que torna tudo tão especial. Acho muito interessante a forma como isso é integral para a história do jogo, sendo o principal motivo para tornar o nosso personagem tão especial ao contrário de antagonistas como o Caçador e o Arauto. Acho muito interessante o "desfecho" da main quest porque é algo muito pessoal, e a experiência com certeza vai variar de pessoa para pessoa.

Aqui eu poderia reservar um espaço para meter o pau no jogo em várias coisas que achei que foram implementadas de forma medíocre, ou então explicar várias mecânicas legais como o modo de criação das naves, mas isso não importa tanto para o tipo de texto que quis escrever.

No final da primeira etapa dessa minha jornada com o jogo eu só posso dizer que: Starfield são os amigos que fizemos pelo caminho.

Reviewed on Sep 24, 2023


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