Jogo de filho da puta. É um dos jogos mais injustos que eu já joguei, com um level design feito provavelmente por algum corno que acabou de tomar chifre da mulher pra ter tanto ódio acumulado no coração. Eu perdi as contas de quantos buracos no chão eu caí e tive que refazer um trajeto enorme só pra acabar caindo em outro buraco perto do que eu tinha acabado de cair.

Mas ainda sim Strange Journey é um tipo de experiência muito específica que eu aprecio, é frustante de propósito pra emular o desespero de andar em um mundo habitado por demônios. Na maioria dos Shin Megami Tensei, o apocalipse acontece na frente do jogador, ele presencia a destruição de todas as coisas, do universo inteiro, pela tela que o distancia do real e do irreal. Strange Journey não tem um apocalipse, porque a própria humanidade é o apocalipse. Ele utiliza de uma roupagem muito ocidental pra ludibriar o jogador a achar que esse vai ser um jogo de ideais e de promessas, mas na verdade o que ele realmente é, é provavelmente uma das histórias mais anti humanidade que eu já presenciei.

Eu venho registrando algumas coisas em formato de breves comentários enquanto eu estou fazendo a minha odisseia pela série, e uma das coisas que eu já falei é o quão cada jogo é único em temas e discussões mesmo se valendo de uma base universal em sua criação. Pra criar uma história anti humanidade, SJ brinca com essas características compartilhadas pela série pra criar essa narrativa agressiva. Eu normalmente sou um forte seguidor do Neutral porque eu e meus casas somos totalmente fechados com a humanidade. E como de costume, eu segui o Neutral aqui. Só que esse final é uma MERDA. O jogo constantemente mostra que os humanos não valem nem o pão que o diabo amassou, e até eu que sou fechado com a humanidade tive minhas dúvidas na metade pra frente se realmente valia a pena continuar no Neutral. E o final é muito insatisfatório, você se alia com os humanos que trouxeram a própria destruição pro planeta, e o jogo deixa bem claro que a destruição é inevitável e uma hora ou outra vai acontecer de novo. A todo momento ele martela na tecla que não vale a pena fazer isso, que o mundo precisa de novas leis ou uma libertação dos antigos costumes, porque do jeito que tá indo, a humanidade vai ser engolida pelo próprio planeta mais uma vez.

"The Schwarzwelt, born in the Antarctic and threatening to cover the Earth, has vanished. At the moment of its withdrawal, all demons on Earth vanished with it. And so, mankind, in the depths of their despair, reclaimed hope. The Schwarzwelt Investigative Team's incredible report was met with shock the world over. However, it is unknown whether the people understood its full repercussions..."

É um dos jogos com a ludonarrativa mais bem trabalhada que eu já joguei, toda escolha criativa na verdade é uma escolha artística pra fazer esse jogo funcionar do jeito que ele funciona como um pacote completo. A trilha sonora apesar de não ser a minha favorita, é muito marcante, porque ela realmente te faz passar a sensação de perigo e um senso de sobrevivência. Vencer um chefe é lindo, porque todos tem algum tipo de bullshit proposital pra eles realmente parecerem um desafio, mas mesmo assim ele ainda é um SMT, tudo depende de como você se aproxima das mecânicas de combate dele porque você tem todas as ferramentas necessárias pra vencer um chefe.

A única coisa que realmente eu não gostei é a falta do press turn aqui. O press turn é substituído por um all-out-attack de Alagoas. Ao acertar uma fraqueza e se seus demônios forem do mesmo alinhamento que o seu, eles vão dar um dano extra no inimigo. E apesar de entender que isso é uma tentativa pra voltar pro design antigo da série, eu ainda acho muito triste a falta do press turn. Tirando isso? Jogo foda. Kamige.

Reviewed on Mar 04, 2024


4 Comments


1 month ago

Ótima review!! Me fez lembrar de que eu odeio amar este jogo.

Tenho uma relação de ódio e amor com este ai. Lembro muito bem de ter um breakdown emocional jogando o setor Eridanus, mas depois que tive, fiquei pensando sobre a dificuldade do jogo e sobre o quão satisfatório o jogo pode ser em alguns momentos, apesar de serem bem sofridos. É bem corajoso da equipe na época fazer um dungeon crawler que relembrava os inícios do gênero, com sua dificuldade devastadora tanto no combate quanto no fator de descobrir o desconhecido. Se o jogo não fosse tão difícil, ele praticamente só seria um joguinho aleatório da mainline, com arte especial do kaneko e uma história que não teria nem metade do peso que ela tem no jogo final. E me traz algo que me fez amar a atlus, que é o estilo deles de fazerem jogos sempre únicos e sempre para um nicho específico. Resumo da ópera: eu me estressei tanto com esse jogo que meu cérebro se auto programou para gostar de sofrer e agora eu consigo jogar até aqueles jogos fodidos de nes.

KKKKKKKKKK a única coisa que eu odeio de verdade até hoje nesse jogo é o all out attack de alagoas. É um sistema que eu praticamente negligenciei por boa parte do jogo, até em certos bosses e mesmo assim eu não tive problemas. Claro que quando as bullshits começaram eu tratei de usar, mas mesmo assim o sistema parece que nunca dá dano o suficiente ou que passa dos 100 ou 200. Também não gosto do fator "não construir sua build e deixar a demonica construir" porque parece que é trauma dos devs com builds(considerando que no nocturne alguns stats não funcionavam por má programação). Mas como você disse, é um jogo foda e definitivamente um dos melhores da franquia. Recomendei para todos os meus amigos porque eles merecem sofrer com as dungeons igual eu sofri.

1 month ago

o eridanus é literalmente o canto que eu mais gosto do jogo porque ele é o que mais faz sentido em história ser do jeito que ele é, é pra ser o setor final, cheio de buraco fdp e porta escondida, daí quando tu finalmente passa daquela porra da cobra chata pkrl, você descobre que não tá nem na metade do jogo ainda. no exato momento que eu fui puxado pro setor F eu quase tive um ataque cardíaco de tanta raiva, daí eu pensei direito e vi o quão genial esse jogo é por ter feito eu ficar tão puto. eu concordo pra caralho contigo que se não fosse pela dificuldade ele não seria metade do jogo que ele realmente é, porque mesmo curtindo pra caralho a história do jogo eu acho que eu só consegui apreciar justamente pelo quão bem interligada ela tá com a gameplay mesmo. eu acho que eu ainda prefiro o Nocturne porque ele é um jogo que faz muito mais meu tipo, mas eu curti pra caralho o strange journey e me fez me lembrar muito flower sun and rain que coincidentemente também é de DS e é tão fudido quanto (se brincar até mais) e é um dos meus jogos favoritos.

o all out attack de Alagoas só funciona mais no começo sendo bem sincero, que é onde você não dá tanto dano, o problema que arrumar os demônios do mesmo alinhamento é um cu nesse começo, eu acho que o primeiro chefe desse jogo foi onde eu mais morri pq ele fica dando aquele ataque de voltar os demônios pra party e eu não tava dando dano nenhum já que o MC desse jogo é um bosta, mas pelo menos ele me fez apreciar ainda mais o press turn porque eu acho que é minha mecânica de jrpg favorita junto do combate dos Trails. a parte das builds eu acho muito 8 ou 80, no começo eu tava curtindo porque tava me forçando a usar muito bicho que eu nunca usaria só pra pegar as essências e fazer uma build boa mais pra frente, só que quando você vai chegando mais pro final do jogo fica meio inviável ficar usando um time ruim porque você precisa de uma composição boa pra não morrer, daí eu comecei a não gostar tanto assim desse sistema novo de build. eu acho que mesmo com esses problemas de jogabilidade ele ainda dá pra se divertir, acho que um dos únicos que eu detesto MESMO e não consigo me divertir é o primeiro Soul Hackers.

é sempre moralmente correto fazer os amigos sofrerem, então espalharei a palavra do strange journey pelo mundo de agora em diante igual você

1 month ago

O primeiro souls hackers é difícil mesmo, só DEUS sabe o quanto eu sofri tentando fazer um demônio ser meu amigo e não spammar ataque que o boss REFLETE. Sobre as builds, eu também acho que é muito paia, restritivo demais até. Uma das coisas que mais me divertia no Nocturne e nos outros jogos era justamente você poder montar um time bom e, caso no futuro quisesse remontar com os mesmos componentes, mas com umas alterações, você podia. Tem uma coisa de ser parte do jogo você pensar nas suas ações, mas acaba que metade do jogo eu fiquei upando uns demônios que eu não gostava só para ter a resource deles, logo depois largar e voltar com a party normal que eu usava. É um sistema que eu entendo o porque de existir, mas eu prefiro a liberdade que você tem nos outros jogos porque eu acho muito mais satisfatório fazer um time bom e não ficar preso com um só time por causa de uma habilidade que um certo demônio tem e eu não consigo passar(ou recuperar) para outro demônio.

E agora que citou, realmente consigo ver as similaridades entre o FSR e o SJ KKKKKKKKKKKKKKKK. São definitivamente experiências que é muito difícil de eu tocar de novo, mas são uma das minhas favoritas, principalmente como fã da atlus e também do suda51.

1 month ago

basicamente o que senti e vivi com esse jogo, bom comentario yuux