This review contains spoilers

Essa não é a primeira vez que eu jogo Persona 4, e nem a primeira vez que eu zero essa nova versão, e talvez tão pouco a última vez que eu zero esse jogo. Esse não foi meu primeiro Persona; quando eu joguei ele no PS3 ele era até o meu Persona menos favorito. Mas conforme eu cresci e fui jogando outros jogos e rejogando mais um punhado, esse sempre foi um jogo que cada vez mais de alguma forma veio tomando um lugar no meu coração, e eu não ligo mais pros erros daqui.

Persona pra mim na época do PS3 talvez foi o que me fez consolidar meu gosto com o que eu considero bom em um videogame, mesmo eu não gostando tanto mais assim do título anterior que envelheceu muito mal, que por ironia, seu sucessor envelheceu como vinho. Já existiu épocas que o terceiro game da franquia era meu favorito, e eu não vou tirar mérito algum dele, mas também esse aqui foi o Persona que eu menos gostava, pois é um jogo com um escopo muito mais simplório numa primeira vista se comparado ao seu antecessor. Ao invés de escalar uma torre e lutar contra um grupo misterioso, no quarto jogo somos obrigados a desvendar um mistério enquanto nos aventuramos nas profundezas da mente do ser humano. Às vezes podendo parecer algo trivial, mas com total certeza são pessoas que sofrem com seus próprios problemas e medos na sua própria cabeça. Problemas de identidade, problemas de aceitação, problemas de mostrar quem você realmente é e até problemas que mascaram seu nascimento e de onde você veio. Não importa qual seja o seu em específico, mas com certeza você vai achar um pra se identificar, nem que seja um pouco de cada.

Em momentos muito difíceis da minha vida onde eu procurava minha "raison d'être" sem entender o que realmente isso significava esse jogo apareceu na minha vida mais uma vez. Um significado muito novo que eu não tinha dado bola pra ele quando joguei a primeira vez. A busca do "eu" (ou da verdade) é o que move toda a história, e quando eu não sabia quem eu era e como encontrar aquilo que eu queria ser, esse jogo me pegou. É uma história que na superfície é muito simples, e com problemas de narrativa. É muito fácil não gostar dele pelos desvios que ele dá com o plot principal, mas é o que ele faz pra se tornar algo intimista para com o jogador.

Tem tantos momentos memoráveis nesse jogo que eram só os personagens problemáticos desse mundinho literalmente vivendo que é o que me fez amar e guardar tantas memórias boas desse jogo. Eu não me importo de tirar um dia só pra catar garotas na cidade pra aparecer o verdadeiro last boss do jogo quebrando a moto do Yosuke. Eu não me importo de ir pra praia e ver o Kanji sem cueca. Eu não me importo de tirar dois dias numa viagem sem ter conexão alguma com o plot principal, afinal de contas, é aqui que toda a potência do jogo se encontra. São nesses momentos que a gente consegue enxergar que os personagens realmente tão vivendo. Juntando isso com os eventos de social links a gente realmente consegue entender as dores dos personagens; ninguém é perfeito e talvez nunca será, mas não é por isso que a gente deve se estagnar. A vida é um carro que anda pra frente, nunca pra trás. Se no passado éramos algo, no futuro seremos algo maior, e não é do dia pra noite. Mesmo que você se esforce pra entender quem você é, talvez você realmente nunca entenda de verdade. E isso é assustador, mas ao mesmo tempo é o que te faz ter a vontade de continuar vivendo. A gente tá em constante transformação, vivendo altos e baixos, nós só precisamos viver e tentar encontrar aquilo que nos faz feliz no meio de uma tempestade que tenta mostrar o nosso pior.

É um jogo que eu não consigo mais jogar e ver o final sem me debulhar em lágrimas, porque eu não quero que acabe. Eu quero continuar ali pra sempre, naquela cidadezinha do interior repleta de vida. É um sentimento muito íntimo que poucas mídias conseguem me fazer sentir tão bem quanto aqui. Não é um jogo perfeito, mas é isso que faz ele ser tão bom, pois tal qual os personagens desse jogo, tudo apresenta uma dualidade de erros e acertos. É uma experiência que eu acho que todo mundo deveria ter. Eu amo Persona 4 com todas as minhas forças e eu tenho absoluta certeza que isso nunca vai mudar mais.

Reviewed on Jan 29, 2023


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