é claro que depois de cinquenta anos de treino hoje a gente considera videogame algo "intuitivo", mas não é uma prática psico ou fisiologicamente natural. minha mãe sofria muito quando tinha que apertar pra frente e o botão de pulo ao mesmo quando eu tentava fazer ela jogar donkey kong country 3, e isso não quer dizer que ela era incapaz ou que o jogo "não ensinava direito", mas sim que ela não havia praticado tanto quanto eu. a graça de unlimited saga é que ele é impraticável, inacostumável, mesmo se você gostar de videogame, gostar de rpg, gostar de jogo por turno, gostar de jogo de tabuleiro ou gostar de outros saga.

não dá pra dizer que ele foi feito pra alguém. intuitivamente ninguém vai orbitá-lo. nem mesmo os criadores! foi um esforço tornar ele tão obtuso quanto é, uma filosofia de atrito, documentada. não acho nem que é um jogo que o kawazu fez pra si mesmo. entretanto, também não é um exercício de hostilidade: o jogo é super agradável esteticamente. ele te chama e te acaricia, te dá a tal da dopamina em todos os momentos de aposta, se revela, mas sua profundidade é tamanha que sempre vai faltar algo para você conseguir entender completamente. ele te manipula em seus mistérios, no que deixa de revelar, nos seus resultados imprevisíveis, nas maldadezinhas ocasionais e nos presentes inesperados.

é legal também que a única cena super animada e elaborada seja no mesmo lugar para todos os personagens — eu sempre ficava ansioso pra chegar em regina leone pra ver como iam mostrar o festival dessa vez. serve como o núcleo de familiaridade entre todas as histórias, visto que o contexto sinestésico delas também varia muito. você aprende bastante cada vez que completa uma, mas nunca o suficiente pra próxima ser fácil ou só uma lapidação de conceitos.

todos os momentos de unlimited saga são como jogar videogame pela primeira vez. eu nem lembro como foi essa sensação de verdade porque na minha cabeça eu já nasci usando uma meia do Sonic, mas agora consigo sentir esse ataque meio esquizo aos sentidos que é apertar um botão e sentir que tenho que lutar com minha própria mente com o qual já tinha me acostumado como se fosse novo. sensação de projeção astral em outro mundo onde não existe nenhuma convenção artística e tudo é cognitivamente violento. não gostaria de morar lá, mas visitar é sempre uma diversão.

Reviewed on Dec 09, 2023


4 Comments


4 months ago

por que donkey kong country 3 é uma experiência pra pais tão em comum? kkkk é o único jogo que eu tentei fazer minha mãe jogar também

4 months ago

O JOGO DE TABULEIRO VIRTUAL MUITO REAL

4 months ago

@totolecc minha mãe e vó adoravam assistir o jogo "dos macaquinhos", acho que é por ser tudo bem colorido e visualmente intuitivo (eles querem banana, o barril que tem o outro fica se mexendo e fazendo barulho de macaco, etc)

@YSTMaster o melhor é que também não tem como adaptar prum tabuleiro de verdade

4 months ago

É a parte que mais amo do unlimited