Alan Wake foi meu primeiro jogo da Remedy. joguei quando tinha uns 17 anos no Xbox 360 e eu sempre tive curiosidade em tentar ele de novo pra ver se a minha opinião sobre ele mudou com o tempo. na época eu gostei muito do formato episódico televisivo, dos elementos metalinguísticos, do conceito do combate e da premissa da história. acho que a coisa que tinha me deixado conflituosa era o final ambíguo mesmo, ainda mais que eu não tinha acesso às DLCs que dão uma expandida nos eventos finais (aparentemente. ainda não joguei elas). não ajudava muito que essa era a época que eu adorava assistir críticos de mídia que se importavam mais em reclamar de coisas irrelevantes e apontar "erros" do que realmente apreciar uma obra artística pelo que ela é (Zero Punctuation, AVGN e o Nostalgia Critic eram os meus favoritos), então coisas como "plot holes" e se algo é "pretensioso" ou não ocupava espaço demais dentro da minha cabeça. por conta disso a minha impressão de Alan Wake era penetrada nessa conceitualização de YouTuber que farma engajamento espalhando negatividade. "Alan Wake é legal, mas é pretensioso", disse uma versão de mim que não tinha gostado da leve ambiguidade da frase final dita no jogo e que tinha testosterona demais no corpo pois NINGUÉM SE DEU O TRABALHO DE FAZER UM FORCEFEM EM MIM.

bom. hoje eu posso dizer que eu gosto muito de Alan Wake. na verdade bem mais da segunda metade da trama do que da primeira. é uma história que começa relativamente lenta e dependente demais em sequências de combate básicas não muito empolgantes, mas que vai se desinibindo em termos narrativos e de gameplay. a minha namorada e eu jogamos juntas (simultaneamente, em computadores diferentes) e ela comentou que teria abandonado na primeira metade se não fosse por estarmos jogando juntas, por conta dos momentos com longas sessões de combate na floresta sem quase nenhuma progressão narrativa, que por vezes duravam mais de uma hora (a gente estava fazendo esse esquema com Kingdom Hearts Birth by Sleep e ela eventualmente dropou, o que JUSTO). mas a gente ficou bem empolgada quando passou da metade, quando alguns detalhes da história são revelados e algumas setpieces interessantes acontecem.

jogando pela segunda vez eu percebi o quanto que eu gosto do combate desse jogo (talvez mais do que ela). a menção à Kingdom Hearts é apropriada visto que é baseado no conflito entre luz e escuridão, mas de uma forma mais literal: você aponta sua lanterna para um inimigo defendido pela escuridão por alguns segundos até o escudo ser destruído, o que os torna vulneráveis à armas normais. eu aprecio mais ainda quando esse tema de luz é usado nas armas, como as flare guns e as granadas flashbang, uma pena que os limites da verossimilhança acaba limitando a quantidade de armas que facilitam essa conexão. mas o que mudou nessa segunda vez foi que eu gostei mais da história, parte porque eu percebi o quanto que o Alan Wake é escrito como um escritor meio fraco e egocêntrico, com uma das personagens secundárias ainda comentando sobre a sua "propensão excessiva à fazer analogias", o que é uma das múltiplas alusões que o jogo faz à Max Payne e ao Sam Lake, o roteirista da Remedy (que também assina o roteiro desse jogo). o termo "pretensioso" não aparece muito na minha cabeça hoje em dia (ter tido contato com múltiplos filmes feitos por estudantes de cinema no meu tempo na faculdade de audiovisual meio que resetou minhas definições) mas mesmo assim, dizer que Alan Wake se encaixa nisso é meio ridículo. vou me dar um crédito (eu não faço isso o bastante, de acordo com a minha namorada), a minha alfabetização literária deu uma evoluída forte nesses anos. um jogo discutindo sobre o processo criativo e refletindo sobre como criar algo diferente logo após ter criado duas das melhores obras da história de sua mídia traz suas complicações emocionais pro estúdio (a produção desse jogo foi de fato BASTANTE conturbada) é algo que eu consigo engolir melhor hoje em dia depois de REALMENTE absorver o que significa dizer que "videogames são mídias artísticas" e depois de descobrir que fazer arte e lidar com as expectativas das pessoas que irão interagir com a sua arte é uma das coisas que mais destacam como todo mundo nesse planeta é diferente. aquilo que funciona pra você pode não funcionar pra mais da metade da população mundial, e tentar prever essas expectativas é extremamente contraprodutivo.

enfim. Alan Wake não é perfeito, mas é uma coisinha especial para mim. mesmo com as frustrações que vez ou outra vieram eu ainda considero ele uma das coisas mais únicas que eu já experimentei nessa mídia, ainda mais quando você considera que ele foi feito quando videogames se tornaram a mídia que mais movimenta grana no mundo, o que fez um monte de investidor ganancioso entrar na indústria e começar a forçar departamentos criativos a sempre tomarem as decisões mais seguras e pouco interessantes possíveis para atingir apelo em massa, algo que rolou bastante na geração PS3/X360 e meio que continua até hoje, com múltiplos estúdios criativos (e massivamente premiados!!) sendo fechados por não atingirem expectativas injustas vindas dos caras da grana. e mesmo dentro desse cenário caótico Alan Wake 2 ainda pode ser criado, não comprometendo em absolutamente nada em sua visão (e deixando racistas MUITO putos da vida)? agora sim o meu interesse na Remedy se tornou em admiração profunda. eu tô bem interessada no que as DLCs tem a dizer sobre si próprias e talvez até dê uma chance para Alan Wake's American Nightmare, mesmo com a noção de que ele pode ser uma experiência bem frustrante. era pra eu ter feito uma piadinha derrogatória à Max Payne 3 em algum momento nesse texto mas eu não consegui incluir. PENA

Reviewed on May 26, 2024


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