Mesmo sendo um spin-off, consegue ser mais mecanicamente próximo do Civilization original que suas sequências diretas. Há um enorme foco no microgerenciamento de suas unidades e colônias, principalmente no que tange à economia. Se você gosta de passar horas criando cadeias de produção e otimizando a logística de cada parte de seu reino para só depois sair como um rolo compressor expandindo e conquistando tudo, esse game é um prato cheio.

O que de fato distingue Colonization como um spin-off é a temática, passando-se nas Américas entre os anos 1492 e 1815. Apesar de ter um recorte temporal e geográfico específico, Colonization não é especialmente mais "histórico" que Civilization. Ambos são igualmente mitológicos em sua abordagem — a série original se baseando em mitos nacionais, o spin-off no mito da colonização das Américas como um sonho em busca de liberdade e autoafirmação. Esta mitologia se expressa mecanicamente de diversas formas, com "liberty bells" sendo um dos recursos essenciais que suas colônias têm que produzir para poderem se expandir e limitando as condições de vitória do jogo unicamente a declarar independência da metrópole.

Mitologias são explicações narrativas de origem que têm alguma base histórica, mas não são história — antes, elas a sanitizam e simplificam, tornando-a mais "palatável". O mesmo processo está presente em Colonization. Não há menção à escravidão africana ou indígena e as relações entre as colônias e as metrópoles são tratadas de forma completamente unilateral. Tudo o que foge do mito da colonização como um projeto de liberdade é suprimido.

Não quero de forma alguma dizer que "é um jogo problemático, logo é ruim". É um jogo de estratégia viciante como qualquer Civ e que usa muito bem uma mitologia histórica para moldar sua narrativa e mecânicas. Mas é interessante ver que mitologia é essa, como ela é utilizada e que limitações ela cria.

Reviewed on Aug 16, 2021


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