A construção de mundo desse jogo é insana, algo que ficou ainda mais evidente para mim numa segunda playthrough, com mais atenção e paciência. Mais do que um fac-símile da internet do fim dos anos 1990, Hypnospace Outlaw usa sua premissa de história alternativa para criar uma cultura própria, similar mas distinta da nossa. Os habitantes desse mundo têm suas próprias gírias, estilos e movimentos musicais, filmes, quadrinhos, boatos, memes, creepypastas (quero dizer, scaries), RPGs de mesa aventuras de Teatro Interativo, esportes... Os desenvolvedores pensaram em praticamente tudo em excruciante detalhe. Mesmo a forma em que as pessoas desse mundo interagem com sua cultura material foi pensada - depois pesquise no jogo sobre a prática de Tape Xchange e como ela moldou a música desse universo alternativo.

O melhor de tudo é que todas essas expressões culturais são plenamente realizadas no contexto do jogo. Você pode ver e, principalmente, ouvir sobre tudo isso graças à abundância de gifs, clips, stickers, fanart e arquivos de som espalhados por toda a rede onírica ficcional.

Um mundo tão bem construído e desenvolvido não poderia deixar de acabar tocando assuntos e problemas que refletem nosso próprio mundo. Não sei se por acidente ou intenção (apesar de eu achar que é o último), mas Hypnospace Outlaw traz uma excelente reflexão sobre como as corporações tentam se apropriar de nossa cultura e, no processo, minam completamente sua genuinidade, liberdade e criatividade. Mesmo com todos os hackers e trolls, nada é mais danoso para as comunidades online de Hypnospace do que as ações da própria Merchantsoft (a empresa ficcional que criou o sistema) e seus parceiros comerciais. Nesse aspecto, o mundo alternativo e o real são realmente idênticos.

Reviewed on Nov 08, 2021


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