This review contains spoilers

No primeiro game dessa mini-trilogia, a protagonista Haru tem que lidar com o fato de que a sociedade não é lá muito gentil ou tolerante com mulheres trans. Lidar com isso é desgastante, o que é refletido no game com suas escolhas ficando cada vez mais limitadas a medida que você se depara com situações confrontacionais. Essas limitações são tanto internas quanto externas: é tanto a sociedade dizendo para Haru "você não pode fazer isso" quanto ela mesma, devido a dolorosas experiências de vida, pensando "eu não posso fazer isso".

Enquanto isso, a protagonista do segundo game Erika, não tem limitações internas. Sua personalidade extrovertida lhe permite sempre escolher fazer ou falar o que quer ou pensa. Mas isso não quer dizer que todas as portas estão abertas para ela, com várias coisas estando além de sua capacidade de mudar - algo que lhe fica perfeitamente claro ao tentar achar algum spa que aceite atender sua amiga trans.

Em contrapartida, a protagonista de "spring leaves no flowers", Manami, aquela que exteriormente parece melhor se encaixar nos padrões sociais cis-heteronormativos, é a que tem mais limitações internas. Enquanto nos dois primeiros games ela parece ser um tanto ingênua, o terceiro game permite-nos ver seu monólogo interno e perceber que ela está perfeitamente ciente das dificuldades de suas amigas. Entretanto, seu misto de ansiedade e vontade de evitar conflitos a impede de falar o que realmente pensa. As opções de diálogo até aparecem, mas estão sempre riscadas e inacessíveis, lhe restando sempre tentar desconversar ou falar alguma coisa genérica no lugar. Essa incapacidade de lidar com confrontos também se aplica a seus conflitos internos - especificamente, como ela lida com sua (a)sexualidade. Não é que Manami não saiba que é diferente; mas para que confrontar essa diferença se até o momento ela conseguiu se "encaixar" na sociedade? É melhor simplesmente fingir que ela não existe - ou assim ela pensa inicialmente.

Em poucos minutos, cada uma das três novelas visuais utiliza o elemento mais básico do gênero, o fato do jogador poder escolher respostas e ações em pontos predeterminados, para explorar tanto as dificuldades que a sociedade impõe sobre pessoas que não se encaixam no padrão cis-heteronormativo quanto pontos cruciais da personalidade de cada personagem representada. Agora que joguei a trilogia completa, fico com a sensação de que os três curtos games não só se complementam como se reforçam mutuamente - narrativa *e* mecanicamente.

Reviewed on Dec 07, 2021


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