Praticamente um turismo virtual pela noite de Tóquio, combinado com uma trama sobrenatural fortemente conectada com o folclore japonês. Inclusive, a direção artística escolhida para retratar os Visitantes me agradou bastante. Seres dismorfos de pele pálida e sem nenhuma expressão facial, com tons de azul pra reforçar sua natureza espiritual. E os mais ameaçadores costumam vestir vermelho, deixando bem claro que você está em perigo. Os yokais - criaturas que realmente existem no folclore deles - seguem mais ou menos a mesma linha. Aliás, sempre que eu encontrava um novo yokai, dava um Google pra compará-lo com a versão das pinturas japonesas. Por essas razões, Ghostwire: Tokyo é um jogo extremamente convidativo, te ganha com os olhos. Mas arrisca te perder nas primeiras 15 horas, quando os principais problemas começam a aparecer.

1. A história principal é bem água com açúcar e o seu desenrolar não é lá muito imersivo. É verdade que o excesso de atividades secundárias atrapalha o foco na main quest, porém a mesma não se ajuda. Ela te faz dar uns rodeios pelo mapa que várias vezes você se pega pensando o que diabos está fazendo ali.

2. As side quests em geral são simplórias e repetem a mesma estrutura, embora algumas se destaquem por um ou outro elemento criativo. Mas de especial mesmo só consigo apontar a quest da escola (Fear for the Children). Ela é tão especial que chega a ser a melhor coisa do jogo. Uma pena que eles pouco exploraram essa vertente do survival horror, pois foi onde Ghostwire mais brilhou. O universo desse game seria um prato cheio pro gênero...

3. No começo o combate é tão limitado que chega a ser chato, ao ponto de você evitá-lo sempre que possível. Felizmente as coisas melhoram significativamente quando você desbloqueia novos recursos e vai ficando mais poderoso. Não é como se a dinâmica de combate mudasse completamente, mas só de você ter outras opções além do poderzinho mequetrefe de vento... fora os talismãs e o aerial quick purge que permitem bolar umas boas estratégias de luta. O mesmo vale pra exploração nos telhados: fica gostoso absorver espíritos depois que você sumona tengu e aumenta o glide.

Dito isso, eu dividiria minha experiência em duas partes: as 15 horas iniciais, focando em completar missões e tendo que lidar com um gameplay limitado que me afastou do jogo por 1 mês; e as 30 horas restantes, quando decidi investir cada vez em melhoramentos ao perceber que eles tornavam a jogatina mais prazerosa. Bati max level ainda no Chapter 4 e a essa altura, Ghostwire já havia se tornado um comfort game para mim. Eu chegava do trabalho e só queria relaxar pulando de telhado em telhado, coletando os espíritos que eu via pela frente e limpando torii gates pra ir atrás de mais Jizo Statues pra ficar mais forte. E no meio desse caminho eu fazia algumas missões. Não sou o cara dos coletáveis, mas aqui fazer isso compensa demais. Espíritos, magatamas, investigation notes e estátuas aumentam sua "qualidade de vida".

Ghostwire: Tokyo tem um teto de qualidade muito bem definido. Objetivamente, não consigo visualizar algo além de um bom jogo. Contudo, lembrarei com muito carinho das horas que passei vagando pelos becos e telhados de Tóquio.

Trivia
- Acabei salvando 78% dos espíritos da cidade, muito mais do que eu projetava lá no início do jogo. Achava que não bateria nem 50%, mas como descrevi acima, as coisas mudaram de figura.
- Completei quase todas as missões secundárias. Fico devendo na purgação de fotos e no hide and seek (fiz 1 de cada).
- Técnicas de combate que mais usei: charged de água pra hordas, fireball pra peixe grande, stun talisman pra parar o danado do Sanguine, exposure talisman de vez em quando, aerial quick purge + grapple para os grupinhos de Retributions, muita paciência contra o Silent Gaze e sempre no wire in contra a Ice Bride. Parry? Mal usei.
- Se o design dos Visitantes e dos yokais é memorável, o dos bosses é uma mistureba esquecível. Só Ko-omote salva. Além da decepção estética, as batalhas em si são fraquíssimas. Confrontos com os Visitantes mais cascas grossas vão ficar na minha memória muito mais que as boss battles. Muito mais.

Reviewed on Mar 31, 2024


Comments