Umurangi é sobre ser o último a ver o mundo morrer, apagar as luzes antes de sair. O verbo é ver, literalmente, pois o que podemos fazer é apenas presenciar e registrar, em filmes que ninguém verá. O plano de fundo toma inspiração muito clara e direta do Terceiro Impacto de Evangelion, com um vetor anti-colonialista havaiano dando uma direção política interessante ao fim do mundo que retratamos - os heróis e os vilões não são óbvios, e o fim sempre é uma bagunça. Diante da impotência, apenas nos resta viver: dançar, pintar, encontrar na comunidade uma euforia que acompanha e precede um luto contínuo - alguns já se foram, e o seu futuro não existe mais.

Ainda que não seja do tipo de vaguear por mundos digitais, me senti um pouco comprimido pelos objetivos rígidos de cada fase: tire X foto com Y lente. Sinto que foram colocados para guiar o seu olho por pontos de interesse, porém achei que, ligados a um timer e a alguns bugs no reconhecimento das fotos, distraem o jogador de absorver totalmente o ambiente e tirar as fotos que realmente quer tirar. Como tiramos essas fotos por dinheiro que não temos como gastar em funcionalidades de gameplay, há quiçá um certo comentário sobre como até no fim do mundo: a última geração ainda precisa de freela pra viver.

Quando se trata de fotografia, sou uma batata. Não entendo de composição, edição, lentes e boas práticas. Ainda assim, gosto de tirar fotos, especialmente quando consigo através delas capturar uma sensação, ou uma narrativa - ainda que através de um olho destreinado, com resultados porcos que muitas vezes só fazem sentido para mim. Umurangi Generation me deu um cenário cativante para fazer isso, e até me ensinou um pouquinho sobre como tirar fotos de um jeito em que ainda seja meu. O mundo deles pode ter morrido, mas fica nas minhas memórias e na galeria, desconfortavelmente enfiada no fundo de users\[username]\AppData\LocalLow\ORIGAME DIGITAL\Umurangi Generation. Imagina como foi achar isso no Steam Deck.

Reviewed on Sep 09, 2023


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