Insano que já vai fazer 10 anos desde que Eiji Aonuma apareceu com uns matos verdes atrás dele falando do futuro The Legend of Zelda para Wii U. Bizarro como fases da sua vida vêm e vão mas certas coisas nunca mudam, né?

Bom, na verdade mudam sim. Quando coloquei minhas mãos em BOTW lá em 2017, não consegui tirar minhas mãos daquele trombolho que era o Wii U Game Pad até explorar cada cantinho daquela Hyrule e descobrir como seria o desfecho daquela intriga que durou 100 anos. E salve alguns problemas com a narrativa e a dublagem, foi um momento muito especial da minha vida, que eu carrego comigo até hoje.

Desde então já se passaram quase 6 anos; tempo o suficiente para querer revisitar algo tão importante, até mais de uma vez. Fato é, toda vez que tentei, não consegui. Percebi uma coisa: a maravilha que esse senso de descoberta lhe faz sentir tem prazo de validade. Talvez tenha sido por conta da minha teimosia em fazer tudo que já havia feito novamente, de resgatar aquilo que havia sentido anos atrás, em vez de tentar aproveitar de um jeito diferente. Talvez seja por que após o período da lua de mel, os problemas ficam mais aparentes. Quer qual seja a resposta, acho que é claro que eu não conseguiria desbravar aquele jogo novamente; não tão cedo.

Bom, a última vez que eu tentei foi há quase um ano, animado para o lançamento para sua sequência. Foi a tentativa mais eficiente, mas que ainda me desgastou. E hoje percebo que isso foi um erro, pois quando Tears of the Kingdom foi lançado, não durou muito até esse me desgastar também. E isso me machucou.

Depois de meses tentando e tentando jogar, totalizando 35 horas dispersas ao longo desse tempo, decidi fazer uma promessa de ano novo. A única. Tears of the Kingdom seria o primeiro jogo que eu terminaria em 2024.

E ouviram minhas preces.

Com mais de 90 horas de jogo, posso dizer finalmente que terminei TOTK, e que é um dos melhores jogos que eu já joguei.

Não sei por que esse 180° aconteceu, mas me apaixonei profundamente pela ideia de aprofundar mais esse mundo, revisitá-lo após tanto tempo. Isso é intensificado pelo fato do tempo cronológico entre os dois jogos ser (ou aparentar ser) similar ao tempo real entre seus lançamentos, fazendo me sentir parte desse mundo, de certa forma.

Acho que o principal motivo é o fato desse jogo ser a realização do conceito de BOTW. É uma sequência em todos os sentidos, e não só me entregou o que faltava, mas também o que eu não sabia que estava faltando.

É basicamente um “conserto” de um jogo que já era excelente. É o BOTW mas com um mundo expandido, com o dobro de inimigos e funcionalidades que cresceram exponencialmente; isso tudo torna o loop de gameplay, que não sofreu muitas mudanças diretas, muito mais robusto, complexo e acima de tudo, DIVERTIDO.

A história dessa vez é intrigante, e é a realização da ideia que tiveram em seu antecessor. O fato da narrativa ser construída em torno de um mistério importante casa muito mais com a estrutura com foco em exploração; a busca por respostas se alinha com a busca pelo desconhecido (ou pelo conhecido transformado).

O fato dessa Hyrule ser extremamente viva ajuda bastante. Não é muito diferente de seu predecessor nesse sentido, mas é gratificante ver personagens reagindo às mudanças no mundo, e às suas ações. Até coisas breves como comentários sobre o clima adicionam muito à imersão. Os diálogos são bem escritos, e os personagens que os protagonizam, carismáticos.

Nessa meada, as quests secundárias melhoraram MUITO. Me senti instigado a fazer a maioria, e ver como cada uma impacta o mundo, mesmo que minimamente, é suficiente para me motivar a querer terminar todas eventualmente.

O fato das ferramentas serem intrigantes me motiva da mesma forma; as shrines desta vez são muito mais bonitas, divertidas e variadas (tanto que já havia feito a maioria antes de terminar o jogo). Sua integração com as lanternas das profundezas também foi uma surpresa agradável.

Sobre as Depths: muito se comenta, bem e mal; eu pessoalmente sinto que poderiam ter sido melhor utilizadas, mas elas cumprem bem seu papel: fornecem algo diferente ao se exaustar com a superfície ou o céu; existem como um ambiente novo e assustador onde você claramente não é bem vindo (penso na superfície como o território onde os monstros são invasores; já as profundezas são território de monstros onde VOCÊ é o invasor); e por fim, se casam com a narrativa de diversas formas, desde a ambientação até às suas origens.

Meu único problema real está na navegação de inventário e botões; o famoso “jank”. Em especial as habilidades que são desbloqueadas após concluir as dungeons principais; ativá-las é um porre e isso me fez usá-las muito menos do que gostaria. O principal culpado é o fato disso ser uma elaboração de um jogo de 2017; para um jogo que passou tanto tempo em desenvolvimento (e especificamente em polimento), poderiam ter modernizado os controles dessa forma; isso também contribuiria para uma maior diferenciação de seu predecessor.

Falando em dungeons, senti que foram bem satisfatórias e relaxantes, mesmo que breves. Eu gostaria de um número maior, mas estou satisfeito com o que fizeram. Também não vou julgar o jogo usando os antigos como parâmetro; faço isso com BOTW por serem tão conectados (como OoT e MM) mas prefiro pensar em como seus aspectos servem à soma de suas partes, em vez de como eles se encaixam nas minhas noções pré-estabelecidas.

Enfim, Tears of the Kingdom foi de uma decepção para o que provavelmente se tornará um dos jogos mais importantes da minha vida, e por isso agradeço muito. Por um momento achei que Zelda não significava mais a mesma coisa pra mim; ainda bem que não é verdade.

Reviewed on Jan 16, 2024


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