Desde o começo da minha jogatina eu soube que esse jogo entraria para os meus favoritos da vida. Eu tinha receio de jogos com combate por turno e isso fez com que, por mais que eu me interessasse muito por divinity original sin, outro grande jogo da larian, eu nunca tomasse a iniciativa de jogar. Por sorte, baldurs gate 3 saiu muito da bolha e incentivou milhares de pessoas a jogar, inclusive eu, e agora virei uma player que reclama de jogos que não são de turno hehe.

Tenho tanto a dizer sobre esse jogo, eu poderia ficar horas e horas conversando sobre ele, mas vou tentar abordar os pontos mais importantes que mais me marcaram e que fazem ele ser tão único e um must play pra quem gosta de videogame.

A começar pela gameplay, como eu disse, é tão boa que da vontade de jogar só jogos de turno. Ao contrário do que pode se pensar, as batalhas não deixam de ser épicas, emocionantes, tensas e desafiadoras por serem de turno. Pelo contrário, cada vez mais no jogo elas se tornam mais complexas e exigem muita estratégia e tática, o que é MUITO recompensador. Quantas vezes eu não dei reload em uma luta para pensar melhor e aplicar uma estratégia diferente e saí vitoriosa, muito satisfatório.
Outro ponto muito importante da gameplay são os dados. Parece simples, mas eles fazem toda a diferença e remetem a uma verdadeira experiência D&D. A tensão e antecipação que a animação dos dados rolando traz é muito única e o número tirado pode significar uma brusca mudança no que você vai ter que fazer ou no que você vai ver.
No mais, o jogo é extremante imersivo e divertido. Tem centenas (literalmente) de horas de conteúdo e não fica chato e repetitivo em momento algum. Se eu pudesse eu jogaria mais milhares de horas.

Agora, o elemento que considero mais importante para esse jogo ser o que é e para ter me marcado tanto é aquilo que somente videogames podem nos proporcionar no que toca ao entretenimento: tomada de decisões.
Já vimos e jogamos muitos ótimos jogos que envolvem decisões, mas nenhum atinge o nível de BG3. Isso porque as consequências de suas escolhas nesse jogo são seríssimas e mudam completamente o rumo da história e até da gameplay. Os desenvolvedores não estavam pra brincadeira e construíram inúmeras ramificações diferentes para cada escolha, por menor que ela seja. E não se engane, não são decisões fáceis. Muitas delas me travaram e me deixaram extremamente desconfortável com medo das consequências, pois raramente é uma escolha entre certo e errado. Algumas também dependem de atenção e percepção da história que está sendo contada e do mundo para o que seria considerado o melhor resultado. Enfim, o jogo nunca será igual para todos, cada um terá sua própria história. Chega a ser assustador o nível de liberdade que BG3 dá ao jogador, oferecendo pouquíssimas barreiras e recompensando a criatividade. Às vezes da até medo de quebrar o jogo de tão livre que é.

Nesse ponto, por vezes me senti meio sobrecarregada com a quantidade de resultados possíveis para cada ação minha. Sempre fui uma jogadora que faz de tudo, explora tudo para não perder nenhum conteúdo dos jogos e em BG3 não foi diferente. Principalmente no começo, eu tinha uma ânsia por tentar ver tudo que pode acontecer fazendo aquele ou este caminho ou voltar atrás para conseguir um resultado “melhor” em alguma escolha. Porém, parte importante de minha experiência foi aprender a aceitar minhas decisões e suas consequências, sem vontade de voltar atrás. Entender que eu não estaria “perdendo” nenhum conteúdo fazendo tal escolha, mas que eu estaria construindo o MEU próprio caminho, minha aventura, minha história sendo uma druida cavalona boazinha. Mais pro final do jogo, eu estava muito mais segura de minhas decisões, do papel que escolhi, do meu role play em si. De certa forma, eu tive meu próprio arco de personagem enquanto jogadora, materializado pela querida druida que criei e isso, que é em grande parte proporcionado pela importância que cada escolha tem, fez a minha experiência com o jogo ser especial e muito minha.

Claro que nada disso estaria completo sem o outro elemento que considero o diferencial do jogo: os personagens.
Por menor que seja a aparição de algum personagem, todos eles são muito interessantes e interagir com qualquer um deles nunca é cansativo. Aliás, o jogo é tão bem escrito que nenhum diálogo, nenhum texto é desinteressante, até porque existe uma constante sensação durante o jogo inteiro de que tudo o que o jogador faz é importante e irá afetar a história de alguma forma. O jogo reage como nenhum outro a você e as suas decisões. Isso valoriza tanto o player por sua curiosidade, paciência e exploração, quanto o próprio jogo, pois o deixa interessante o tempo inteiro. Eu mesma, em 150 horas de jogo, nunca me senti entediada jogando e eu jogaria tranquilamente mais tantas horas quanto fossem possíveis.
A história principal de BG3 em si não é a mais inovadora e impressionante de todos os tempos, apesar de contar com alguns ótimos plot twists, mas ela se torna muito especial por conta de seus personagens. Aqui se aplica a máxima de que o que mais importa, no fim das contas, é o caminho e, principalmente, as companhias que levamos nesse caminho.
E que companhias! Choca o quão bem escritos são os personagens principais (principalmente os companions de origem), quantas camadas e complexidades eles tem e o quanto cada um se desenvolve ao longo dos atos. Todos eles estão de alguma forma ligados à história principal, mas têm suas quests individuais que, sendo sincera, eram as que mais me empolgavam.
Wyll tem uma jornada de propósito e responsabilidade; Gale e Astarion abordam liberdade e poder; Lae'zel e Shadowheart trilham o caminho da identidade e autoafirmação; Karlach tem um arco sobre finitude. Todos eles podem ter destinos diferentes a depender das escolhas do jogador, e a maior prova do quão bem escritos eles são e do quão genial é BG3 é que algumas decisões vão contra tudo o que o personagem construía até aquele momento, mas mesmo assim fazem sentido, são críveis e verossímeis. Inclusive a decisão envolvendo Shadowheart no final do ato 2 é o que me fez realmente cravar isso e o quanto o jogo pode ser completamente diferente a depender de suas escolhas. Momentos assim têm que ser muito bem construídos para serem críveis para ambos os lados da escolha feita.
Inevitavelmente alguns personagens têm mais destaque que outros (especialmente se o jogador romancear um companion), mas, no geral, considero muito bem equilibrado e desenvolvido os arcos deles e me importei muito com todos. Aprecio como eles são completamente diferentes no começo e no final da aventura e como seus desenvolvimentos envolvem mudanças físicas algumas vezes. Os personagens são a alma desse jogo e vão te acompanhar por mais de 100 horas. No fim, eu senti que estava despedindo de grandes amigos após uma épica e longa aventura. Sem palavras para o Epílogo, inclusive, apenas lágrimas emocionadas.
Destaque absoluto para os atores que deram vida aos personagens, que trabalharam tanto para entregar com tanto carinho cada linha dos incontáveis diálogos.

Por se tratar de uma review, nada mais justo que abordar alguns pontos negativos que identifiquei no jogo que, pasmem, foram pouquíssimos. O primeiro é que o início do Ato 3 é um pouco sobrecarregado com muitas coisas para fazer e interagir. Não estou dizendo que é inflado, pois não acho que seja, pois tudo ainda é muito interessante e relevante, mas assusta um pouco de início pela quantidade, mas logo as coisas vão se encaixando. O segundo ponto negativo é que a trilha sonora do jogo é muito mal aproveitada. A trilha é INCRÍVEL e os momentos em que ela é bem aproveitada são MUITO MARCANTES (vide Raphael's final act e musiquinha da nightsong). Acredito que poderiam ter encaixado algumas músicas mais vezes e feito ainda mais momentos únicos. Recomendo a todos escutar a trilha sonora completa no Spotify.

Enfim, sem mais delongas (depois de muitas delongas), eu poderia falar sobre esse jogo por mais centenas de páginas, mas acredito que só jogando para entender completamente o sentimento que é jogar BG3. É grandioso, marcante e feito com tanto carinho que é confortante ver que jogos assim ainda PODEM existir, mesmo diante do cenário apocalíptico da indústria dos games. Referenciando o jogo, não nos esqueçamos que o inferno é a Casa da Esperança. BG3, sem dúvida, ajudou a resgatar a esperança que tenho no futuro dos jogos. Só tenho a agradecer por todos que participaram do desenvolvimento desse jogo e me fizeram ter essa experiência, de sentir como a protagonista nas rédeas da MINHA própria história.

Infelizmente, toda grande aventura tem que acabar, mas algumas ficam para sempre em nossos corações. Baldurs Gate 3 com certeza ficará no meu.

Reviewed on Feb 17, 2024


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