This review contains spoilers

Uma das maiores análises sobre jogos que já fiz (contém spoilers)

A vingança é realmente a solução para se livrar perante a tanta dor causada por alguém? Toda ação gera uma reação. É o que diz a Lei de Newton e o ditado popular. Seja por algum tipo de esperança diante da sensação de impunidade ou simplesmente pela vontade de ver o malfeito desfeito, a ideia sempre é de que a fatura, em algum momento, vai chegar. E será pesada ou não, de acordo com a gravidade dos atos cometidos. Este jogo é sobre o ódio, TLOU 2 não é uma experiência comum. É uma jornada intensa e auto reflexiva, que não é divertida o tempo inteiro e nos faz questionar não só as decisões da protagonista, mas também como nos sentimos sendo cúmplices de tudo o que acontece, na verdade não existe vilão, você mesmo é o vilão dessa história tomando decisões que elas nunca tomaria. Isso é aprofundado ainda mais, quando vemos os dois lados da moeda, tanto quanto pela Ellie e a Abby que acredito mesmo depois de anos, ainda vai ser um debate imenso de quem está certo, ou quem está errado.

Nas primeiras 15 ou 18 horas, vemos a "degradação" de Ellie. Ela vai até o fundo do poço, cega pelo ódio, deixando um rastro de corpos para trás. Ellie é implacável, tortura pessoas para conseguir informações e, ainda que se sinta mal por isso, não para. Não ouve os amigos, ignora aqueles que a respeitam, e não vê outro caminho que não aquele que decidiu tomar. Ela iria parar até estarem todos mortos. Na outra metade da história, acompanhamos alguns dias na vida de Abby, imediatamente após ela conseguir sua vingança contra Joel. E a vida dela continuou. Ela não está se deleitando com a morte de Joel, nem caçando ninguém… está seguindo sua rotina, contribuindo com sua comunidade e com seus amigos. (O que deixa claro como um é muito o oposto do outro)

As diferenças entre as personalidades de Ellie e Abby também afetam a jogabilidade com cada personagem. Enquanto Ellie tem mais vantagem em combates furtivos com sua faca e arco e flecha, Abby pode carregar armas mais pesadas, como um rifle automático e um lança chamas. Mas, calma, pois isso não significa estar limitado a somente um estilo de jogo. É possível escolher diferentes caminhos na árvore de habilidades e jogar de outras formas. Isso fica ainda mais claro quando o próprio jogador, vivência isso.

Ellie não via mais sentido na vida, depois da cena do hospital, ela queria ter um propósito, salvar a humanidade, ela seria reconhecida, ela queria ter um mérito alcançado, mas será que tudo isso ia realmente acontecer? Será que Joel realmente deixaria? Ele deixou sempre claro que nunca faria diferente, e vendo que ela não foi capaz de perdoar ele foi impactante e um peso de culpa carregado de decepção e uma mágoa que nunca irá sair. A construção de personagem pelo ponto de vista dela, é incrível como conseguem deixar tudo emocionante

Eu como jogador, não queria nem saber do lado da Abby, depois de ter matado um dos personagens mais carismáticos do jogo e sendo a figura principal para a construção do enredo cativando e entendendo o sofrimento de um relacionamento até que esquisito e bem confuso, no momento que "expulsam" ela pois ela só trazia desgraça aos outros me deu um peso na consciência de odiar essa personagem, perceber que ela também é ser humano e que não é carregada de maldade como qualquer um poderia imaginar de um "rival". Além disso entender toda a sua história, fez entender tudo o que ela passou no fatídico dia do hospital que é recorrente com um trauma que foi superado pois um foi capaz de se vingar já o outro lado a história é diferente. (O que o efeito borboleta é capaz de fazer...)

Ellie poderia ter colocado um ponto final na história, e dado cabo de Abby. Mas, no último momento, ela hesita. Talvez por arrependimento, talvez por saber que não era isso que Joel iria querer, talvez por não ter, afinal, se deixado corromper por completo pelo “lado sombrio”. Agora, Ellie estava fisicamente fraca, perdeu todos aqueles que amavam, está mentalmente e emocionalmente quebrada, e a solidão sendo mostrada na última cena é uma bela (e triste) metáfora do estado de espírito da protagonista o que me fez emocionar ainda mais tendo em vista que abordou um dos medos constantes e fortes que não só eu, mas qualquer ser humano pode ter.

A sensação de terminar esse jogo é muito reconfortante, tirar um peso nas costas é inexplicável. Muitos momentos de angústia, desespero e tristeza, por mais que seu final não tenha tido o mais feliz, para quem termina (no meu caso) foi uma paz , e dificilmente eu passarei por isso de novo com um jogo.

Eu chorei, e muito e ainda mais digo leve, que a jornada emocional e intelectual proporcionada por "TLOU 2" é verdadeiramente inesquecível, não é a toa que ganhou o GOTY. Sem dúvidas é o meu jogo favorito. a forma como ele aborda temas complexos e desafia os jogadores a refletirem sobre moralidade, vingança e redenção é um testemunho da maturidade da indústria de jogos. Este jogo não apenas entretém, mas também estimula a empatia e a autorreflexão, mostrando o potencial dos videogames como meio de contar histórias profundas e significativas. Nunca vai existir outro jogo capaz de proporcionar o que a sequência de TLOU 1 e 2 foram capazes de fazer, esse jogo vai envelhecer muito bem e fez história na minha vida

Reviewed on Nov 30, 2023


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