Tinykin, o segundo título do estúdio indie frances Splashteam, traz uma proposta completamente diferente do primeiro jogo da empresa, Splasher, nessa nova obra há o resguardo do 2D mas esse é complementado com o cenário 3D que juntos constroem uma mistura interessante, uma verdadeira viagem entre “dimensões”.

A história apresenta Milo, um arqueólogo que tenta descobrir a origem de sua civilização, sua teoria é que o universo cartoonizado e 2D em que as pessoas vivem não é a origem dos seres humanos, para buscar a verdade esse jovem arqueólogo viaja entre dimensões e chega a terra, mas somente em um fragmento desta, um fragmento realmente minúsculo, uma casa. Com essa premissa a obra consegue misturar o 2D desse universo de Milo com o 3D de uma casa real. O que auxilia na casa como background de toda a história é o fato de Milo ser um ser minúsculo, mais ou menos do tamanho de uma formiga, logo o universo de uma casa se torna gigantesco e com diversos espaços para serem explorados.

A obra vem propor um jogo de plataforma com puzzles, utilizando o 2D em conjunto com o 3D, tudo isso embasado em uma história surreal e um tanto divertida. O objetivo do jogo é claro e direto, reconstruir a ferramenta que permite a viagem dimensional, para isto é preciso recuperar determinadas partes da ferramenta, o que entrega a premissa de explorar os diferentes ambientes da casa. Esse microuniverso da casa é bem explorado pelos desenvolvedores ao adicionar vários insetos e apresentar a relações entre eles, criando uma ambiente vivo que precisa de interação.

Essa proposta intimista acaba por delimitar bem o escopo da obra, as possibilidades do que pode existir estão presentes no imaginário do jogador a todo momento, que são os móveis, itens, peças e cenários de uma casa. O interessante é trabalhar com tudo o que está disponível e torná-lo importante de alguma forma, a obra consegue fazer isso com maestria ao dividir o objetivo principal em partes que são conquistadas ao conquistar as diferentes fases disponíveis. A construção das fases também é interessante, ao invés de um puzzle fechado e linear, é sempre apresentado uma fase “gigantesca”, aberta e livre, o jogador pode começar resolvendo os puzzles por onde ele quiser, o objetivo daquela fase é apresentado no começo por uma cinemática e a partir dali a liberdade reina, dando ao jogador o papel de decidir e decifrar.

A jogabilidade é simples porém divertida, soluções comuns de um “planador” que são as bolhas de sabão e o sabão para locomoção mais rápida pelo mapa e para utilizar a tirolesa são ideais recorrentes mas não menos necessárias. A ideia um tanto inovadora são os tinikyn, uma grupo de bichinhos minúsculos e coloridos que tem funções específicas para realizar, os rosas para empurrar objetos, os vermelhos para explodir objetos, o verde que funciona como uma escada, o amarelo para criar caminhos e o azul para conduzir eletricidade, cada um desses é apresentado em uma diferente fase, o que auxilia na sensação do novo e desconhecido que o jogo carrega até o final. Esse elemento causa uma variabilidade muito bem vinda em relação a outros jogos e em relação a resolução dos puzzles. Outro elemento da jogabilidade que é importante e é o mais básico de todos é a câmera, a necessidade de virá-la a todo momento, já que o personagem 2D está em um cenário 3D, a movimentação se compromete propositalmente para criar uma dificuldade um tanto ideal na resolução dos puzzles.

A abordagem direta da obra tem tanto lados positivos como negativos, o positivo é que essa proposta acaba por tornar o enredo mais simples, não precisando de um trabalho mais elaborado para que tudo faça sentido, não há plot twist, surpresas, e nenhuma emoção exagerada ao longo do percurso. O lado negativo é a consequência da simplicidade, a obra se não fosse pela jogabilidade e estética dificilmente reteria a atenção de qualquer jogador, uma casa em miniatura já foi explorada não somente em diferentes jogos mas em diferentes mídias, esse aspecto não surpreendente.

Esteticamente a obra é muito bonita, o cartoon empregado é muito bem desenvolvido, o cenário 3D está impecável, o trabalho é muito bem feito. A equipe de design está de parabéns, principalmente considerando que no tipo de obra que foi pensado pela Splashteam a parte estética é de extrema importância.

Concluindo, Tinykin é uma exposição de estética + jogabilidade para criar uma obra de puzzle e plataforma, todo o resto é posto em segundo plano e está ali para servir diretamente a esses dois aspectos. No que a obra expõe ela é fantástica, uma estética linda que comunica diretamente com a jogabilidade ao brincar com o 2D e o 3D, e uma jogabilidade diferenciada e progressiva que sempre apresenta novidades ao jogador até o final da obra. O trabalho é bom, mas não é perfeito, há elementos abandonados e deixados em segundo plano demasiadamente, se tornando quase irrelevantes, uma obra que queria atingir a perfeição não pode realizar esse tipo de ação.

Reviewed on Oct 16, 2023


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