Hi-fi Rush apresenta a história de Chai, um garoto que sonha em ser uma estrela e decide participar de um programa da Vandelay corporation podendo substituir seu braço inválido por um robótico, porém ocorre um imprevisto nesse momento e um mp4 é adicionado ao seu peito, tornando o mundo desse garoto coberto de ritmo.

A proposta da obra é ser um jogo de ação com um jogo rítmico, a batida está ligada diretamente ao combate, é necessário atacar no ritmo para realizar os combos, os inimigos também atacam em ritmos que ao identificá-los é possível desviar mais facilmente, o pareamento dos ataques também é ritmado, e até os puzzles são conectados as batidas.

A obra em nenhum momento deixa de lado a história, ela é um elemento fundamental no jogo, essa dita uma parte das mecânicas, principalmente a dos aliados de Chai, que podem ser utilizados em combate, que vão sendo desbloqueados ao decorrer da história. Ela acrescenta novos temperos a mecânica durante quase todo o jogo.

A história apresenta uma narrativa padrão e bem previsível, é bem dedutível que Kale é o irmão da Peppermint. O enredo une diversos personagens com necessidades diferentes mas com uma única solução e essa é a cola para unir esses personagens. Chai quer sair da ilha Vandelay, Pepermint quer descobrir onde está sua mãe, Macaron quer ajudar a empresa a voltar para os trilhos e Korsica tem uma dívida emocional para com a empresa. Todos os personagens têm motivações diferentes que se entrecruzam na execução.

Um ponto positivo é a grande quantidade de possíveis personalizações para se fazer no Chai, podendo escolher entre vários ataques e ataques especiais, além das melhorias das paletas e aumento de vida, energia, etc. Este elemento de desbloquear e evoluir o personagem adiciona outros elementos interessantes que diversificam o modo como se constrói as mecânicas de combate, dando variabilidade à essa parte.

Um fator importante em jogo um rítmico é a dificuldade, e considerando que o modo normal representa a dificuldade padrão dos desenvolvedores, a Tango Gameworks faz um trabalho fantástico de leveling design, conseguindo deixar o jogo desafiador sem ser difícil demais, a medida é correta para não estragar a experiência do jogador.

A obra tem um teor humorístico bem presente, ele é gerado tanto pela personagem do Chai que é um brincalhão por natureza que não leva nada a sério nunca, quanto pela ambientação, os robôs dispostos pelos mapas são engraçados, os inimigos e os próprios vilões são bem caricaturados.

Há vários pontos na obra que levam a reflexões bem mais profundas do que se parece em um primeiro momento, principalmente considerando todo o teor infantil e humorístico que circunda a obra, estes sendo gerados tanto pela estética quanto pela personalidade de Chai. E por boa parte das reflexões estarem ligadas ao Chai, quando este tem uma mudança de temperamento fica evidente toda a atmosfera mudando com ele, ainda mais considerando o jogo como um jogo rítmico podendo abusar da parte de som para isso. E isso também facilita na construção da personagem, é fácil construir uma personagem brincalhona que assume papéis de importância e precisa amadurecer para cumprir com suas obrigações.

Em relação aos aspectos sintomáticos a obra debate sobre questões familiares, com a relação do irmãos com a mãe, debate sobre os sonhos das pessoas e o menosprezo passado por aqueles que perseguem seus sonhos, como na figura do Chai ser considerado e relembrado a todo momento como um “defeito”, mesmo que essa ideia não seja por ele ser ingênuo ou não conquistar nada mas sim por ele ser uma falha do projeto Armstrong, há uma evidente relação entre elas. Ainda há uma discussão sobre a escravidão de escolhas, essa pautada no cerne do enredo, o stigma, que ao invés de tentar controlar a mente das pessoas para dominar o mundo ou criar um exército, tem como objetivo fazer com que as pessoas parassem de reclamar dos produtos Vandelay e somente comprassem sem questionar, é um tapa na cara de oligarcas, pois, talvez, isso apresente o verdadeiro desejo destes e não o desejo que muitos conspiracionistas preveem.

A ambientação é fantástica, não somente por construir uma ilha tecnológica com um grau surpreendente de elementos mas por ter cuidados com diversos detalhes, o que mais me impressionou é a divisão dos chefes estar ligada diretamente a história, pois Kale ao assumir a empresa abre mão de desenvolver produtos que ajudem as pessoas e foca-se exclusivamente no lucro. Então a chefe de assuntos gerais Rekka é a primeira boss, o Zanzo chefe de tecnologias é o segundo pois a tecnologia não era importante, a venda delas sim. Korsica a chefe de segurança a terceira, a Mimosa, chefe de marketing a quarta, já que para o objetivo de Kale o marketing seria de extrema importância e o boss mais avante tirando Kale é o Roquefort o chefe de finanças que é o que realmente importava para o CEO. Então todo o jogo é pensado para construir um ambiente que corrobore com a história sendo contada.

A jogabilidade é boa pois Hi-fi Rush não se contenta com algo simplório. Com a presença de diferentes combos e a mecânica de chamar os amigos para ajudar Chai, ainda há momentos de acerto de um grupo de teclas específicas alá Osu, e os diferentes bloqueios para os inimigos elites e para os bosses que vão a fundo na ideia do ritmo. Outro ponto destoante da obra são as batalhas com chefes, a Tango Gameworks consegue criar batalhas únicas, todos os 7 chefes apresentam batalhas com mecânicas únicas, que não se repetem em nenhum outro, sempre apresentando algo novo e diferente que desafia o jogador.

A estética cartoon combina demais com os absurdos tecnológicos e a fantasia presente no Hi-fi Rush, o cartoon atende a necessidade da obra e ele em si é maravilhoso, é muito bem trabalhado com as artes que parecem ser retiradas de desenhos animados e com isso transformam a obra em algo singular.

Concluindo, Hi-fi Rush não inova na narrativa porém ele modifica a história para se diferenciar e debater algo incomum, também não há inovação na construção da personagem pois são utilizados artifícios básicos que quase caem em clichês. A real diferenciação é como é utilizado toda a jogabilidade para transformar a obra em algo singular, mesclando de diferentes formas a ação com o ritmo, seja a estilo Osu ou Hextec Mayhem. Com isso a Tango Gameworks produz algo que vale a pena ser consumido e apreciado.

Reviewed on Jun 13, 2023


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