Passei 7 horas jogando a campanha de Shadow Warrior 3 no Hard e eu diria que valeu bastante a pena. É um jogo cheio de falhas, tanto em termos de game design quanto técnicos, mas a jogabilidade é ao mesmo tempo tão sólida e engajadora que torna a experiência um verdadeiro deleite.

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Eu quero começar falando dos maiores problemas do jogo, assim já tiro essa questão do caminho. A versão de PC é atormentada por uma série de erros técnicos que afetam drasticamente a curtição em diversos momentos:

- As horas iniciais são recheadas de travadas sempre que um novo shader precisa ser compilado pela GPU (o que acontece independentemente das capacidades do hardware), já que o jogo não os compila de forma antecipada;

- As cutscenes são pré-renderizadas numa qualidade extremamente porca a 30 quadros por segundo e, para piorar ainda mais, a reprodução é completamente inconsistente e engasga a todo momento;

- A única tecnologia de upsampling presente é o FSR 1.0 que, como se sabe, apresenta um resultado final super insatisfatório independentemente da resolução.

Por outro lado, a despeito desses problemas e da performance um tanto questionável da Unreal Engine 4, o jogo é visualmente muito bonito. A direção de arte é excelente em todos os sentidos, desde as paisagens asiáticas de cair o queixo, ao design dos inimigos e das armas, tornando os gráficos seriamente impressionantes em diversos momentos.

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Em termos de jogabilidade, esse é provavelmente o melhor da série sob a alçada da Flying Wild Hog. Lembro de quando eu joguei o primeiro título e fui incapaz de avançar muito de tão entediante que era. Este terceiro é o oposto disso!

O sistema de combate é consideravelmente bem planejado, ficando num meio-termo entre Doom 2016 e Doom Eternal. O jogo possui algumas arenas até mais interessantes e um combate mais dinâmico e intenso do que o FPS de 2016, mas não chega perto de ser tão polido, marcante ou profundo quanto Eternal. Nem todas as mecânicas funcionam tão bem (o gancho é desengonçado e pode facilmente matar o jogador se usado de forma ofensiva contra inimigos), mas o saldo geral é positivo.

Também de forma semelhante a Doom Eternal, há uma quantidade bem pequena de munição disponível em cada arma. Para contrabalancear isso, o reabastecimento de recursos se dá de duas formas: atirar em inimigos com as armas fornece esferas para recuperar a vida do jogador, enquanto matá-los com a katana distribui esferas de munição. Essa dicotomia no gerenciamento de recursos garante ao loop de combate bastante dinamismo e um quê de estratégia que funciona muito bem, ainda mais considerando que ambas as esferas precisam ser coletadas de perto, forçando o jogador a ficar cara a cara com os monstros e amplificando a intensidade do combate.

As armas possuem combos muito sinergéticos (amo remover o escudo dos Hattoris com o Basilisco para, em seguida, prendê-los com o shuriken e finalizá-los com a shotgun) e, mesmo que não sejam muito diferentes das vistas em outros jogos do gênero em termos de função, usá-las é divertido para um caramba. Fora isso, todos os inimigos têm comportamentos únicos e complementares, com alguns deles sendo extremamente criativos (como o Slinky Jakku, que sempre foge do jogador enquanto deixa serras pelo ambiente e, até mesmo, o primeiro chefe do jogo).

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E outra coisa muito legal são as armadilhas presentes em algumas arenas específicas, que podem ser usadas pelo jogador contra os inimigos. Essas arenas, além de darem maior variedade às lutas, ainda permitem que o level designer lance um monte de inimigos fortes ao mesmo tempo sem tornar o combate frustrante para o jogador. É demais!

O jogo também tenta variar um pouco o ritmo fazendo uso frequente de sequências de plataforma. Certas vezes elas entregam algo bem divertido e são momentos bem-vindos para recuperar o fôlego das lutas, mas outras vezes elas enchem bastante o saco (e eu diria que, no geral, Doom Eternal também se sai melhor nesse aspecto). Lá para o final do jogo, por exemplo, tem uma fase inteira que é basicamente só isso e é, por consequência, bastante sem graça.

Ah, e um adendo: o roteiro do jogo é tenebroso. Acho que ninguém em sã consciência escreveria diálogos tão vergonhosos achando que estava sendo engraçado quanto os desse jogo. Eu diria que não chega a atrapalhar tanto, mas como o Lo Wang abre a boca com frequência mesmo durante o gameplay, às vezes incomoda um pouco.

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De toda forma, Shadow Warrior 3 é muito legal (e não merece as resenhas "mistas" na página da Steam). A campanha é um pouquinho mais curta do que eu gostaria, mas ao menos o suporte pós-lançamento trouxe conteúdo extra em forma de uma dificuldade a mais (Hardcore) e um modo "survival", dando um pouco de sobrevida ao jogo. É, valeu a pena.

Reviewed on Sep 21, 2023


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