Saya no Uta é uma visual novel clássica de terror da Nitroplus e uma das obras responsáveis por colocar o escritor Gen Urobuchi sob holofotes. É um romance que emprega um estilo de terror bem cru, do tipo que foca mais em aterrorizar o leitor com as situações e elementos perturbadores apresentados em cada cena do que com o suspense e o desenvolvimento da tensão (como é o que acontece em Higurashi, por exemplo).

Na história, Fuminori Sakisaka passa a enxergar e sentir o mundo como se tudo fosse feito de carne apodrecida. Não importa se ele está dentro de sua casa, na rua, ou na floresta: tudo é feito de sangue, vísceras e gordura. Até mesmo as outras pessoas, sejam desconhecidas ou amigos próximos, são vistas pelo Fuminori como monstros grotescos feitos de carne exposta. E no meio de um ambiente tão nauseante e enlouquecedor, ele conhece a adorável Saya, a única pessoa que ele é capaz de enxergar e interagir de forma humana.

Além do Fuminori e da Saya, no entanto, a história também é narrada pela perspectiva de outros personagens, em especial a do Kouji, que é um velho amigo do protagonista e possui um papel central na segunda metade do enredo. Essa mudança de perspectivas é muito hábil em apresentar a dicotomia entre o mundo real e o mundo pela visão do Fuminori, oferecendo maior contraste aos atos insanos e vis que alguns personagens realizam na história.

As inspirações no terror cósmico de H.P. Lovecraft também são bem claras. Toda a ideia de humanos serem levados à loucura graças à interferência de seres de outros mundos faz-se presente em Saya no Uta. Porém, o romance conta uma história com muito menos escrúpulos do que Lovecraft costumava fazer: embora cenas de morte e outros atos sanguinolentos não cheguem a ser tão explícitas ou chocantes, as cenas de sexo são. E muito.

Essas cenas são frequentes durante todo o decorrer da visual novel e basicamente todas elas apresentam algum tipo de ato imoral, incluindo estupro e abuso. E ao contrário do que se vê em outras obras do meio, esses momentos estão inclusos diretamente na narrativa e aparecem sem qualquer tipo de alerta. Nesse sentido, o sexo é parte intrínseca do terror que o roteiro pretende construir, mas a forma bastante erotizada com a qual ele é sempre retratado por meio do texto e da arte pode ser repulsivo até demais.

Vale destacar também a fantástica trilha sonora. É cheia de melodias maravilhosamente horripilantes e muita, mas muita distorção, o que combina feito uma luva com o clima de loucura da obra. A faixa Schizophrenia, por exemplo, perfeitamente captura o estado mental do Fuminori. Por outro lado, o tema da Saya é melancólico, assustador e, ao mesmo tempo, reconfortante, representando a personagem de forma ideal.

No mais, embora seja uma visual novel difícil de recomendar devido à abordagem de seu conteúdo sexual, ainda é uma história de terror bastante imersiva e envolvente, fácil de ser lida em um único dia.

Reviewed on Apr 07, 2023


Comments