2 reviews liked by Ramawga


Eu sempre faço as reviews das coisas que consumo com o intuito de usar como recordação depois de alguns anos. Contudo, mesmo não sendo muito fã de exposição, esse texto vai ter muito de mim, já que acredito que esse jogo está intrinsecamente ligado a mim a partir de agora.

Minha história com esse jogo começa na pandemia, em 2020, em uma época que eu não o conhecia e tampouco falavam sobre remake etc. Não é segredo para ninguém que a pandemia foi um período muito conturbado na vida de todos, de diferentes formas. Com o isolamento, me vi forçado a conviver com meus pensamentos e devaneios entre as 4 paredes do meu quarto. Foi um momento em que a morte, como um conceito e realidade, pairava na vida de todas as pessoas do mundo, indiscriminadamente. Em uma noite qualquer daquele ano, orbitei por muitos pensamentos existencialistas sobre a minha vida, o mundo e o que faria no futuro. Dentre eles, estava uma certeza que sempre esteve presente ali, mas nunca tinha sido compreendida antes: Eu vou morrer um dia. Naquele instante, é como se toda minha perspectiva da vida tivesse mudado radicalmente de uma vez, eu não estava mais vivendo, estava me aproximando da morte, a cada segundo, cada bater de coração, cada aniversário deixou de ser uma comemoração e se tornou um constante lembrete de que as coisas são passageiras e que a existência não é a regra, mas sim a exceção, a qualquer momento que passasse eu poderia voltar ao estado que estava antes de nascer, que seria o puro e absoluto nada. E foi aí, logo no início dos meus 18 anos, que tive minha primeira crise existencial.

Sei que parece infantil, porque afinal, essa é a mesma realidade para todo ser vivo no planeta e com certeza eu já estava ciente do fato antes. Eu já tinha tido muito contato com a morte, já tinha atendido a vários enterros de parentes desde meus 8 anos, mas eu nunca havia de fato processado o que aquilo significava, o vazio. A ansiedade não veio do medo de sentir alguma dor, de envelhecer ou algo do tipo. Eu só tinha medo de deixar de existir, do absoluto nada. Desde então, eu sempre dormi com algum barulho na TV ou algum podcast no celular para afugentar o silêncio. As crises aconteciam poucas vezes, muito esporadicamente, geralmente em momentos que me senti emocionalmente vulnerável, mas elas nunca tinham me largado até hoje.

Mas o que isso tem a ver com minha experiência com o jogo? Bom, tudo.

Persona 3 é um jogo sobre a morte e como ela não pode ser evitada, como estamos fadados a nos despedir de todos que amamos em algum momento da vida. O jogo constantemente aborda temas complexos sobre a natureza humana, sobre o porquê criamos laços com outras pessoas, mesmo sabendo que um dia teremos que nos despedir de uma forma ou outra, mesmo sabendo que vamos sofrer de alguma forma. Sobre como a vida é frágil e como uma pessoa que estava com você ontem, amanhã pode simplesmente ter deixado de existir e nunca mais ser vista. Eu não preciso nem falar que isso me acertou como um trem. Exatamente os mesmos pensamentos e medos que estive nutrindo por 4 anos, estavam sendo enfrentados pelos personagens que estavam bem na minha frente. Eu não vou entrar tanto para não falar muito sobre a história, mas para cada um desses pontos que comentei anteriormente, posteriormente são colocados de frente com outra perspectiva: O foco não deve estar no destino inevitável que todos teremos, mas sim no agora, no caminho até lá. O jogo fala muito sobre aceitar o que não pode ser mudado e que o que realmente importa, é descobrir o que traz significado para sua vida, quais são as coisas que você mais guarda com carinho, as memórias, as pessoas. Não existe um propósito universal.

O motivo do jogo ter mexido tanto comigo, é o fato de eu ter começado e acabado no mesmo ponto que os personagens se encontraram em cada parte da jornada, eu senti como se esse jogo realmente estivesse falando comigo. Por isso, ele é o meu novo jogo favorito, porque ele literalmente mudou algo em mim. Com o tempo, minhas memórias com ele podem acabar se diluindo com as centenas de outras memórias pela vida. Mas uma coisa sempre vai ser verdade. Eu voltei a dormir com o silêncio desde que joguei esse jogo.

- Não podemos escapar da realidade, não é? Acho que só podemos continuar firmes e fortes, né?

- É, acho que sim

curto mas divertido com amigos