Esse jogo é QUASE, por muito pouco mesmo, perfeito.

Os gráficos estilizados são lindos, e por mais que o remaster tenha problemas gráficos de forma relativamente recorrente, não é algo que realmente incomode.
A gameplay é ao mesmo tempo perfeita e a principal falha desse jogo. Não a parte do FPS, esse por si só consegue ser um shooter de primeira linha (ala Halo 2 no quesito fluidez). A visão em primeira pessoa consegue sozinha apresentar uma ação frenética e ainda assim mesclar o sentimento de terror/horror como muitos jogos do gênero não conseguem. Isso, aliado a ambientação do game que, em conceito, já é arrepiante (principalmente pra quem tem talassofobia), mas na hora da execução cresce e se torna mais brilhante. O jogo consegue apresentar ambientes que realmente mexem com o seu psicológico ao imaginar o quanto Rapture poderia ser linda e assustadora ao mesmo tempo em seus tempos áureos.
Ainda em gameplay, os inimigos desse jogo complementam a ambientação da cidade distópica como nenhum outro minion já criado nessa indústria. Cada inimigo no mapa faz sentido não só pra sua área como no conjunto geral. Inimigos comuns (Splicers) são bizarros, seja por se contorcerem, por aparecerem do nada atirando em você com uma arma automática ou simplesmente por estarem com um grifo eletrificado pra bater na sua cabeça, todos eles servem para contextualizar de forma sensacional as atrocidades que ocorreram em Rapture. Cada tipo de Slicer é único, e como todos falam sozinho enquanto você passa por perto, quer eles estejam ou não na sua visão ou área, eles sozinhos geram de forma eficaz uma paranóia gigantesca (e necessária) no jogador. Ainda sobre os inimigos, é impossível não citar os Big Daddys (Bouncer e Rosies), que são assustadores em todos os sentidos. Por serem grande, eles tornam os cenários já claustrofóbicos, em pequenas latas de sardinha, e se isso fosse pouco, quando você os ataca (já que eles são os únicos inimigos "pacíficos") eles te devolvem golpes tão fortes que facilmente te matam com um ou dois hits- Não tem coisa mais assustadora de você estar sem balas enquanto um mergulhador gigante está te perseguindo que nem uma locomotiva e jogando bomba (ou com uma broca a todo vapor) pra te matar. Fora tudo isso, ouvir o som de baleia de um Big Daddy na sala ao lado ou em meio ao combate, é um aviso gigantesco que você logo vai estar ou já está ferrado, pois eles são verdadeiras esponjas de balas.
Finalizando os elogios, a parte sonora do jogo é impecável. Tanto as músicas, vozes, som das armas, toda a parte de som é fantástica e bem feita. Em especial a atuação dos personagens secundários, que a todo momento te passam uma sensação de desconfiança proposital e, de certa forma, delicada. Eu realmente recomendo jogar esse jogo com um bom fone, no escuro (de preferência a noite/madrugada) e na dificuldade mais difícil. Se tudo antes citado já ampliava a experiência do jogador, nesse cenário em que só tem você e o controle, cada passo, grito, sussurro e golpe impactam como em nenhum outro jogo.

O verdadeiro calcanhar de Aquiles aqui, como dito, está na gameplay. De novo, como Shooter, jogo de horror e até Immersive Sim ele é perfeito, mas os demais elementos que compõem a mesma são ou dispensáveis ou extremamente repetidos (ao longo do jogo) e repetitivos (em questão de execução). Por mais que a influencia desse jogo venha do clássico System Shock 2, ao longo da partida ele te dá tantos poderes e habilidades especiais que no final muitas delas são inúteis, e que, dependendo de como você joga, vai usar uma ou duas e muitas vezes em trechos específicos; Mas o que realmente impede (PRA MIM) desse jogo ser perfeito são as máquinas (sejam de cura, upgrade, torretas inimigas ou recursos). TODAS elas, inimigas ou "amigas" envolvem o Hacking que, se fosse do jeito que é, mas ligeiramente raro no jogo, não seria um problema e até seria divertido pra quebrar o clima de terror/horror do game. Mas o que quebra, é que literalmente a cada esquina tem uma máquina dessas pra você poder hackear, ao ponto de ter uma parte dessa no boss final... E ok, são mecânicas repetitivas mas opcionais, porém eles trazem tantos benefícios ao jogador (pagar menos num item, tornar um inimigo em um amigo ou abrir um cofre) que em vários momentos eu me senti obrigado a entrar nesse gameplay de interligar canos - que eu gosto, mas não a todo segundo em um jogo de horror.

Os debates e conceitos que esse jogo propõe sobre o poder nas diversas formas e facetas que o ser humano busca e inevitavelmente o corrompe a nível mental, físico e espiritual é simplesmente absurdo de fantástico. A gameplay é quase perfeita, divertida e cadenciada. A dificuldade é gostosa, frustrante no nível certo e, querendo ou não, uma grande responsável por seduzir o jogador a se enfiar dentro daquele mundo fantástico e horripilante. No final esse jogo é a prova cabal que video game, é muito mais que entretenimento... Bem Vindo a Rapture!

Reviewed on May 04, 2023


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