"Não existem finais prematuros. Não existem decisões erradas. Existem apenas novas perspectivas e começos. Esta é uma história de amor."

Conheci o jogo ano passado pela demo. Gostei tanto da proposta que nesse momento achei melhor ver ele só pela superfície para então mergulhar de cabeça na versão final que felizmente saiu esse ano.

Slay the Princess é um jogo curto ao estilo visual novel com foco no fator replay. As diversas escolhas do jogador moldam os vários cenários e resultam em diversos "finais" possíveis. Uma mistura interessante do terror, do erótico e da metalinguagem. Uma história aberta a diversas interpretações.

A narrativa aqui é um pouco diferente das VNs tradicionais, o que fazemos na verdade é explorar vários cenários diferentes divididos em blocos e que mudam de acordo com as escolhas tomadas, e aí sim, no final de 5 ciclos, vamos para os finalmentes do jogo em que tomamos a nossa escolha do que vamos fazer para decidir o destino de tudo. A quantidade de escolhas e desdobramento de eventos em cada um desses cenários é a graça do jogo e o que contribui para que ele seja jogado diversas vezes já que a princesa vai se transformando de acordo com as nossas ações.

Como o jogo opta por utilizar a metalinguagem para contar essas histórias, temos bastante o uso de metáforas e símbolos, e na maior parte das vezes as coisas são retratadas de forma muito abstratas ou então diretas até demais. Minha sensação é que o jogo acaba se perdendo um pouco na sua loucura e se atropela para passar a sua mensagem, que apesar de um pouco óbvia, pode acabar sendo um pouco esvaziada de significado nessa forma como o jogo funciona, apesar de que acredito que muitos jogadores consigam criar vários significados diferentes já que essa história possibilita com que possamos olhar para nós mesmos e na forma como interagimos com as pessoas.

O jogo é curto, mas depois de rejogar diversas vezes e fazer todas as 97 conquistas na steam, eu sinto que as propostas e ideias se tornam cansativas devido a essa natureza repetitiva.

A estagnação e a mudança são temas muito recorrentes e muito ligados aos atos de matar ou salvar essa princesa metafórica. Como não entendemos muito bem da primeira vez onde isso está nos levando, ficamos com um pouco de medo de se arriscar e tentar coisas novas, com a voz do narrador pesando em nossas escolhas por ser a nossa única referência nesse início de jogo. O que fica de Slay the Princess para mim é que essa é uma história sobre como as nossas interações tem impacto na vida das pessoas, e que nesse mundo de incertezas devemos seguir em frente e se tornar a mudança em que acreditamos.

O que realmente se sobressai para mim, no entanto, é o estilo do jogo. As artes são feitas à mão e são muito lindas, com as várias princesas sendo uma mais visualmente interessante que a outra, fora as músicas que também são muito boas. Além disso, tenho que tirar o chapéu para os atores de voz que conseguem te fisgar de uma maneira muito interessante, ficando evidente que esse projeto foi feito com muita paixão.

Falando nisso, a paixão está aqui em todo lugar, principalmente nos cenários mais violentos. Slay the Princess não possui cenas de nudez, mas com certeza é um jogo extremamente erótico, com esse elemento sendo trabalhado no subtexto. Em vários cenários temos essas cenas com os personagens brigando e se matando de todas as formas possíveis, mas a forma como isso é colocado em prática exala erotismo. A princesa demônio e a princesa mãos de lâmina são as minhas favoritas, e com certeza possuem os cenários mais divertidos de se explorar. Isso somado aos elementos de terror é o que torna essa uma experiência que me marcou bastante nesse ano de 2023. Com certeza o GOTY de quem gosta de mulher doidinha.

Uma história interessante, mas um pouco problemática; e um estilo de narrativa de terror único e que exala tesão. Gostei muito de Slay the Princess, mesmo com todos os seus defeitos.

Reviewed on Nov 04, 2023


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