O destruidor da sua produtividade.

Eu sou entusiasta de boas ideias e em Loop Hero encontrei um conceito interessantíssimo e único que me surpreendeu demais e que destruiu minha produtividade enquanto jogava. Desenvolvido pela Four Quarters, temos aqui uma verdadeira mistureba de vários gêneros e que, por incrível que pareça, todos conversam muito bem entre si e sem deixar de ser um jogo simples.

No mundo de Loop Hero, somos introduzidos a um mundo caótico e esquecido pelo tempo, no qual o vilão Lich aprisionou o planeta em um ciclo infinito em que tudo foi literalmente deletado, restando apenas o protagonista e a vastidão da escuridão, que deve caminhar nessa jornada cíclica a fim de buscar recursos e reatar o que foi feito.

Apesar da narrativa do jogo ser bem simples, contada através de diálogos e algumas interações entre novos personagens que vão aparecendo, o grande brilho aqui é a gameplay. O personagem move-se em um mapa gerado proceduralmente e batalha contra inimigos de forma automática, ficando apenas a par de nós jogadores gerenciar recursos, construir estruturas que agregam variedade de itens e inimigos e atribuir equipamentos e melhorias ao herói. É preciso reconhecer o potencial do nosso herói e nossos recursos para que as cartas aqui sejam usadas com eficiência, afim de deixá-lo mais forte na medida que o mantêm vivo, enquanto bola estratégias e builds para enfrentar o chefão do capítulo quando ele aparecer. Você é basicamente um Game Master que dita a aventura, e a jornada está nas suas mãos.

Os perigos e adversidades mais difíceis geram loot melhor, mas é preciso usar com cautela pois isso pode acabar fortalecendo demais os inimigos ao longo dos ciclos. Um aspecto interessante é a interação das cartas e elementos entre si quando são postas no terreno, colocar uma mansão de vampiros perto de uma vila a transforma em uma “vila sitiada”, que traz inimigos novos e um ambiente mais hostil, assim como colocar várias rochas que te concedem hp máximo juntas gera um pico de montanha, mas que também spawna uma harpia que irá te atacar. É muito divertido ficar brincando com as interações, que acabam por variar bastante cada loop, mas o jogo conta com um pequeno número de cartas (32 ao total) e que, por consequência, limita as interações, além de que nem todas elas interagem entre si. Eu vejo muito potencial para futuras DLCs ou quem sabe até um Loop Hero 2 nesse sentido.

Depois de restaurar boa parte do cenário com as cartas, o chefe do capítulo aparece e apenas desejo boa sorte. Logo, para avançar, somos forçados a aumentar a dificuldade continuamente mas da mesma forma é importante também saber quando desistir, morrer longe de uma fogueira faz você perder grande parte dos recursos coletados. Após o final da run, você é levado para a parte de gerenciamento da sua base, algo como um hub, na qual você guarda ou usa os seus recursos coletados para construir ou melhorar elementos que irão ter impacto direto nas futuras runs.

Antes de dar ínicio a uma nova run, vem a parte da construção de deck: novas cartas são desbloqueadas e podemos construir diferentes conjuntos, que possibilitam diferentes estratégias e interações. O jogo conta com três classes (cavaleiro, ladino e necromante) com mecânicas bem distintas a serem dominadas, o que traz mais opções estratégicas. Entretanto, sinto que o número de classes poderia ser maior, casaria muito melhor com a variedade que o jogo propõe em trazer.

A estética retrô usada em Loop Hero é só mais uma evidência que esse estilo nunca sai de moda. O visual em pixel art mistura elementos simples com artes muito bem elaboradas e a música é repleta de composições ótimas tensas e até frenéticas e alguns momentos. Retrô sem deixar de ser moderno, obscuro sem deixar de ser agradável.

Apesar de ter gostado tanto das ideias inovadoras, é um jogo que tem seus problemas no que tange a repetição. Montar seu deck é legal mas se torna um problema quando você faz exatamente as mesmas coisas toda vez. Os mapas gerados também não trazem muita variedade já que são idênticos e só mudam o seu formato, sem nenhuma mecânica adicional ou algo que brincasse com o RNG. Para piorar, o ritmo é lento, é preciso um certo grind e as missões se arrastam mesmo duplicando a velocidade da ação. E como citado parágrafos acima, as classes e interações são ótimas e suprem isso até um ponto, mas que era preciso mais delas para ser suficiente.

Quero aproveitar o espaço e deixar algumas sugestões:
- Modo sandbox/construção de fase.
- Lançamento para smartphones e cross-save entre PC e celulares.
- Novas classes e cartas, com mais interações.
- Ser possível aumentar para velocidade para 3x e/ou 4x em capítulos já concluídos.
- Novos elementos nas fases geradas proceduralmente.

Conceitualmente Loop Hero é fantástico, viciante e funciona muito bem em diversos pontos mas peca na repetição que pode incomodar. Essa ideia de influenciar diretamente a jornada do herói me cativou muito e quero ver mais Loop Hero pela frente.

Reviewed on Feb 18, 2024


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