8/10 - Ótimo
Em fatores externos ao enredo (não qualificando-o como ruim), aqui se tem o ápice e início de Silent Hill. Há diversas coisas que são utilizadas de forma eficaz e inteligente apenas nesse título da franquia, o que o tornou o mais autêntico que a representa.

Seus gráficos envelheceram bem, se comparados com demais survival horrors do PlayStation. Os cenários são marcantes, únicos e inesquecíveis. O design dos monstros, somados com a cidade e os ambientes fechados excedem em qualidade. Tanto o Hospital Alchemilla, quanto a Midwich Elementary School e demais locais apresentam ambientação e caracterização únicas.
O "Otherworld", sensacional ideia usada de forma decente e infelizmente só nesse Silent Hill (ela retorna no terceiro jogo, recuperando um pouco da essência da franquia, porém ainda é superior no primeiro); muda de fato a cidade ao seu redor, os monstros, a atmosfera se torna mais macabra e com uma elevação na violência visual de determinados cenários (como o aumento de sangue nas paredes, corpos pendurados, tons de ferrugem constantes, inversão das pinturas nos quadros, etc).

A gameplay pode ser vista como datada em uma primeira análise, no entanto, após um tempinho com os controles tanques, o costume vem junto da imersão à obra. Há diversas armas brancas e de fogo como nos seguintes jogos da franquia, mas devo destacar que o martelo é de longe a melhor arma branca numa primeira zerada, e que fará uma diferença enorme em sua jornada.
Silent Hill, diferente dos seus sucessores, traz uma grande satisfação nos combates. Deitar um machado na cabeça de um cão, ou moer as enfermeiras na martelada é prazeroso demais. Como se trata de um survival horror, a munição e recursos são escassos, portanto é possível se esquivar e evitar muitos monstros do jogo com intuito de poupar recursos. Não há um "jeito certo" de se jogar, mas recomendo que use armas brancas como o pedaço de cano nos monstros, e guarde munições das armas de fogo para mobs como Air Screamer e bosses.

E falando neles, os bosses são os melhores da franquia toda. Não há batalhas extremamente repetitivas como em Silent Hill 2 (onde o máximo que tu faz é ir para o canto do quarto, atire, corra para outro canto, e repita esse processo em TODAS as lutas contra chefes), ou Silent Hill 3 (que com exceção do primeiro boss no shopping, todos os demais são patéticos, repetitivos, e maçantes), ou The Room (que praticamente abandona os bosses). Há lutas únicas e as formas de lidar com elas se diferenciam umas das outras, como o Lagarto, Minhoca, Mariposa, etc. Todos são diferentes uns dos outros (até com design bem distintos, diferente dos monocromáticos em SH2, que apesar disso, funcionam visualmente devido a proposta do jogo), se destacando e tomando a atenção o jogador.

Puzzles requerem concentração, atenção, e interpretação bem desenvolvida. O desafio neles é genial, e não beiram o impossível, pois lhe dão itens ou poemas que os descrevem e deixam o jogador dependente apenas de sua capacidade cognitiva. Falo isto, mas fui um dos que não conseguiu passar do piano sem dicas kkkkk. Mas creio que vale a pena dedicar-se para os mesmos, ao invés de recorrer a outros meios. Uns como o dos pratos coloridos, irão ser bem divertidos mesmo se precisar "quebrar a cabeça" para concluir estes quebra-cabeças.

A trilha sonora do incrível Akira Yamaoka é, em sua maioria, combinações de ruídos e batidas voltadas para suspense e/ou agressividade em momentos de tensão (como na cidade afora, ao ser invadida pelo otherworld). Com um clima bem atmosférico, ela funciona muito bem, trazendo grandes músicas em momentos necessários como na intro do jogo, Lisa no hospital, e nos diversos finais do jogo.
Algo que se tornou marca registrada de Silent Hill, e felizmente que seguiu esplendoroso nos próximos jogos (sendo a franquia com as melhores trilhas sonoras originais, que nesse quesito, compete com poucos títulos). Destaque para os músicas:
"Silent Hill"; "Claw Finger"; "Not Tomorrow"; "Tears of..."; "She"; "Otherside"; e a licenciada e presente no primeiro final de muitos como eu, "Esperándote".

O enredo é bom para a época, traz uma estória intrigante e misteriosa a respeito de tudo ao redor do ambiente e acontecimentos prévios do jogo. As cutscenes trazem algo que encaro como revolucionário: FMVs/cenas pré-renderizadas boas! Numa geração onde elas rapidamente foram de recurso narrativo para tática comercial tóxica e mal feita, Silent Hill traz as mais bem feitas FMVs do PlayStation, autoria do Takayoshi Sato. Lamentavelmente, Sato deixou a Konami após Silent Hill 2 (jogo em que aprimorou mais ainda seu trabalho, e trouxe as melhores FMVs da história, pelo menos em minha análise). É triste ter pessoas como ele na indústria dos videogames, e não ter o devido reconhecimento... Seria incrível ter o trabalho dele em obras atuais (não que tenha parado, mas nunca mais fez algo grandioso como em Silent Hill 1 e 2).

A construção do medo é magnífica! É como se os desenvolvedores tivessem entrado na mente do jogador, e terem tomado liberdade para controlarem a psique do mesmo. Um jogo de PS1 irá te fazer tremer de medo com os gráficos pontudos dele, enquanto as porcarias da atualidade necessitam de mil sustos (jumpscares) por segundo na tela para pelo menos serem considerados como terror.

Silent Hill é um dos precursores da revolução do gênero survival horror, junto de Resident Evil, usaram muito feito por jogos como Alone in the Dark e Clock Tower, transformando-os no ápice do próprio gênero, sendo referenciados e influenciando diversas outras franquias até hoje.

Este, se trata de um survival horror completo, logo, é cumprida a proposta de bons new game +. Há novas e ótimas armas como a Katana (melhor arma branca do jogo), a broca e a motosserra (ainda inferiores ao martelo), e não menos importante, o Hyper Lazer (melhor e mais poderosa arma da franquia). A adição destas armas com os diversos finais que dão conclusões diferentes do enredo do jogo (tendo apenas um canônico), e o final UFO (consolidando "finais comédia" extras na franquia), tornam o replay recheado de conteúdos ainda úteis e divertidos da obra, e que com certeza valem que você busque alguns dos outros finais diferentes do qual conseguiu em sua primeira zerada.

Silent Hill é o meu survival horror favorito até o momento em que redijo isso. Foi o meu primeiro jogo de terror (que só fui ter coragem para jogar depois de adulto), e não teve outra, foi amor a primeira vista! Recomendo muito, tanto esse quanto o segundo e terceiro jogo. Silent Hill poderia ter tido muitos outros títulos bons, mas a Konami decidiu fazer a palhaçada do The Room, e daí em diante, só demonstra que teria sido melhor enterrar a franquia de vez.

Esse marco dos survival horrors é ótimo!

Reviewed on Feb 10, 2023


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