O melhor: Não é sobre poder escalar aquela montanha distante, é sobre QUERER escalar aquela montanha distante
O pior: Apesar de eventualmente acostumar, por vez ou outra o sistema de durabilidade ainda incomodava
Objeto dos sonhos: Sheikah Slate? Claro que não... estou me referindo à panela de comida instantânea!

Esse é apenas o segundo Zelda que jogo até o final, sendo que o primeiro, Link's Awakening (a versão DX de Game Boy Color), está com certeza entre alguns dos melhores jogos que já joguei na vida. E o mesmo acontece com Breath of the Wild, o que indica que talvez eu devesse explorar melhor o resto da série no futuro... Mas por enquanto seguem as impressões daquele que, entre todos os jogos já lançados que simultaneamente encerram o ciclo de um console, e iniciam o do seu sucessor, provavelmente é o melhor deles.

As horas iniciais de Breath of the Wild são muito impressionantes, pelo simples volume de conteúdo que é apresentado. Em pouco tempo, Link já possui suas quatro principais habilidades do Sheikah Slate e o seu planador, o objetivo principal é apresentado e vários elementos como a escalada, comida, durabilidade de equipamentos, clima, e a própria física que rege o mundo são demonstrados de formas naturais e intuitivas. Confesso que tinha uma preocupação inicial em relação aos Shrines, no sentido de que a exploração do mapa fosse resumida em "ache os pontos brilhantes", mas essa impressão passa rapidamente ao entender que vários lugares de Hyrule funcionam como puzzles próprios. O mapa é vasto, mas fácil de se localizar por pontos de referência espalhados em cada direção, e do entendimento do cenário e de como navegar por ele, utilizando tudo o que foi mostrado já desde o começo do jogo, é de onde vem muito da minha apreciação por essa obra.

Para uma história que te coloca no papel do herói, que tem como grande objetivo lutar contra as forças do mal e resgatar uma princesa, Breath of the Wild é, curiosamente, por muitas vezes melancólico. Se a ambientação "pós-apocalíptica" facilita o jogo ser um mundo aberto por questões técnicas, ela também traz uma constante lembrança dos eventos que precedem a história principal. Alguns desses momentos são apresentados através de breves cutscenes que podem até passar despercebidas para quem não tem o interesse de procurá-las, o que é uma pena pois os personagens retratados nelas (tanto os Campeões quanto a própria Zelda) são muito interessantes. Mesmo tendo jogado a ótima DLC The Champions' Ballad, sinto que eles poderiam ser ainda melhor explorados. É o constante conflito entre a narrativa e uma estrutura de jogo não linear, mas eu consigo apreciar o que é feito aqui, mesmo querendo mais.

Uma mesma apreciação vem justamente dos momentos mais únicos e épicos da jornada. As quatro Divine Beasts, que a história introduz como passos necessários para o confronto final, funcionam bem como os "arcos" de cada uma das regiões do mapa, muito únicas tanto em design quanto pelos diferentes e carismáticos personagens em que nelas vivem. Essas "dungeons vivas" são incríveis visual e mecanicamente, além de apresentarem alguns dos maiores desafios de combate do jogo. Falando em combate, é provavelmente nele onde mais ficam minhas (poucas) críticas ao jogo, principalmente quando é necessário abordar vários inimigos ao mesmo tempo. Sinto que, nessas situações, a mira e a câmera por vezes não entram em acordo, e o melhor a se fazer é tomar uma distância para ter um respiro (ou nem isso, já que alguns inimigos são bem rápidos). Num todo não foi algo que afetou minha experiência negativamente, já que é fácil evitar boa parte dos combates (ou resolver eles de formas mais criativas, o que acaba sendo mais divertido), apenas sinto que esse aspecto não está no mesmo (alto) nível dos demais. A durabilidade das armas, arcos e escudos acrescenta uma tensão maior em certos momentos, sendo que às vezes uma situação pode sair do controle bem rápido. Felizmente, não é difícil se equipar bem o suficiente para encarar a maior parte das ameaças das forças de Ganon, mas fica aquela sensação de que o ideal é não se apegar a uma determinada arma, o que pode ser um pouco chato.

The Legend of Zelda: Breath of the Wild é um dos poucos jogos que, mesmo após várias dezenas de horas, não tinha nenhuma pressa para terminar. Despertar curiosidade é um mérito, e o mapa de Hyrule faz isso constantemente, de modo que eu me importava menos se iria encontrar um Shrine, um baú, um Korok ou qualquer outra coisa, eu realmente só precisava chegar naquela montanha de formato único, naquela ilha mais afastada ou naquela planície de clima próprio. Há tantos momentos únicos que podem acontecer em uma jornada do ponto A ao ponto B (que geralmente vira do ponto A ao ponto C,D,E... sem previsão de chegar no B) que é curioso imaginar o quão diferente podem ser as memórias favoritas desse jogo para cada pessoa. Encontrar uma criatura fantástica ou um inimigo poderoso sem estar preparado, apreciar uma vista ao entardecer ou temer uma lua vermelha num mau momento. Para um jogo onde o ato de recuperar memórias passadas é apresentado como um dos desafios principais, a jornada pelo presente de Hyrule se torna nada menos que inesquecível.

Reviewed on Aug 21, 2023


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