Na década de 90 eu me apaixonei por adventure por mérito de alguns ícones como as aventuras de Putt-Putt, da Humongous, e Maldição da Ilha dos Macacos e Full Throttle.

O misto de uma bela história com uma progressão dependente da realização de quebra-cabeças me fascinou tanto que quando criança eu me sentia às vezes dentro de um point’n’click, chegando a brincar sozinho em situações oportunas que eu estaria progredindo em uma “cena”. Saudades de brincar sozinho com a imaginação.

Isso porque o acesso não era tão simples a esses jogos, tanto em questão financeira, como também linguística, já que eu não sabia tanto de inglês. E por isso diversos jogos que eu via sendo elogiados na época ficaram “para depois”. Pois chegou a hora de The Dig, um jogo que um dos meus melhores amigos é apaixonado.

Como todo adventure das LucasArts, The Dig tem seus momentos infâmes de quebra-cabeças com lógica fora da caixa e solução obtusa. Se houver uma necessidade de ilustrar, imagine um determinado item que ao ser utilizado retorna sempre a mesma mensagem de descrição EXCETO se você o utilizar em um determinado local, o que provoca a ativação de um evento que revela um item que você já rodou o mapa inteiro pra encontrar e ele estava literalmente invisível.

Esse naipe de puzzle sempre foi algo apontado por críticos, uma vez que a necessidade de tais soluções mirabolantes era vender guias, serviço de dicas ao jogador ou mesmo provocar trocas de experiências entre jogadores, algo que se fosse na era da Internet não teria razão de existir, exceto a troca de experiência, já que é o que mais fazemos em fóruns e redes sociais.

É algo que encaro um pouco como negativo, apesar de entender o motivo pelo qual existem, especialmente porque jogos adventure tem duração média de poucas horas quando o jogador sabe exatamente o que fazer. Algo que poderia durar meses e meses de experimentação e troca entre jogadores é factível em 2 horas, por exemplo, que é o que levo eu pra terminar Full Throttle do começo ao fim, o que o torna muito mais próximo da duração de um filme.

Tais puzzles foram feitos com o intuito notório de alongar a duração dos jogos. Imagine como jogador ou mesmo como desenvolvedor passar meses e meses sem lançar/jogar um jogo enquanto ele é desenvolvido para no fim ele durar 2-3 horas. Talvez fosse frustrante financeiramente também na década de 90 investir um alto valor em um jogo, após meses de espera, e ele durar pouquinhas horas porque seus quebra-cabeças são muito fáceis.
Penso que com isso em mente os devs de adventure da época se esforçavam para esticar a baladeira e pensar em quebra-cabeças dificílimos de serem resolvidos, o que hoje facilmente os criticamos pelo seu caráter altamente obtuso.

Este então é o único ponto relevante de se destacar em The Dig que possa diminuir sua magia. Trata-se de um roteiro hollywoodiano onde uma equipe de astronautas ao realizar uma missão para salvar a Terra acabando descobrindo muito mais do que imaginavam e são envolvidos em um mistério alienígena altamente estimulante, com muito sabor de ficção científica fantasiosa.

The Dig tem uma trilha sonora deliciosa, acompanhada de diálogos com atuação de voz completa, com direito a um mix de terror, suspense, humor e aventura em um só pacote.

Pra todos os efeitos, é o que tínhamos na época de mais cinemático em matéria de jogos e ainda fazem muito bonito hoje em dia com suas animações 2D em pixel art.

Reviewed on Sep 07, 2023


Comments