Bloodborne é um dos jogos mais magníficos já feitos e um pilar incontestável de sua geração. É o tipo de jogo cujos defeitos são muitas vezes soterrados pela maestria dos acertos, então começo essa pequena análise-comentário citando tudo que me incomodou.

As reclamações das Calice Dungeons se sustentam muito. Os primeiros Cálices Pthumerianos são tediosos além do tragável, e por mais que a dificuldade posterior dos cálices mais avançados chacoalhe a estrutura, o senso de repetição nunca esvai. Alcançar a "Yharnam, Rainha Pthumeriana" é de um esforço muito mais mental do que de reflexos.

O chefe "Rom, a Aranha Inexpressiva" é meu nêmesis pessoal. Sinto que todo chefe desse jogo foi programado e conceitualizado em um nível de perfeição que dificilmente será replicada por outro jogo do gênero, porém Rom apela para uma quebra de pacing tão barata e mal dirigida que fecha a primeira metade do jogo de forma broxante. Sua lore e o motivo por trás de seu conceito como chefe é espetacular, mas a aplicabilidade em gameplay somada ao desempenho porco do PS4 deixa muito a desejar (famoso 20 fps fluidão).

Agora vamos falar do que FUNCIONA!
Primeiramente que esse jogo é uma grande pornografia arquitetônica. Creio que não há jogo moderno ou clássico cujo design geral seja tão belo, rico e envolvente como Bloodborne. Joga-lo é como se imergir totalmente em uma estética exponencializada ao extremo de seu conceito e do que a criatividade humana alcança sob sua direção. Há uma variedade imensurável de construções, estátuas e monumentos que nenhum outro jogo chega perto de replicar. Esse é, sem dúvida, o mundo digital mais rico já criado na mídia. Isso se soma ainda mais com o level desing, que apesar de não ser 100% estruturalmente interligado, é compacto de tal forma que nunca há uma quebra própria de onde você está, onde esteve e para onde vai. Todo espaço montado para pequenas, mas recompensantes sessões de exploração e combate tornam o pacing de Bloodborne perfeito, sem qualquer gordurinha.

O combate é o maior diferencial da formula souls (desconsiderando Sekiro, que é uma besta totalmente própria). Não há passividade pela ausência de escudos e pelo roll ser substituído por um dash. Há roll quando não há Z-Targeting, mas este não é 100% confiável, o que força o jogador a ser muito mais agressivo em combate direto e não depender tanto de aberturas. Some isso a uma mecânica de recuperação de HP pós dano e a um sistema de parry que é a forma defensiva de se tornar agressivo e pronto: o melhor da série souls. O combate é rápido, leve e exige muito mais foco do que qualquer memorização de padrão anteriormente apresentada pela série. Simplesmente fenomenal!
O outro maior acerto do combate foi a nova abordagem para as armas. Ao invés de um set pré-programado de diferentes armas cujas variações diretas são pequenos especiais (quase nunca uteis), Bloodborne possui apenas um número limitado de armamento, que é completamente original, único e com virtualmente infinitas aplicabilidades por conta de dois modos operantes e integração com diferentes builds. É simplesmente o mais expressivo combate da série, que se casa com a nova direção tal qual uma luva.

Os chefes de Bloodborne são tão bons que esse jogo poderia ser apenas uma grande boss rush. Tanto as grandes bestas como personagens menores apresentam um desafio violento e veloz que te prende num estado de foco que a segurança do roll nunca permitiria. Tanto o jogo base como a DLC apresentam confrontos desafiadores, marcantes e únicos.

A Lore é a mais rica e bem construída da From Software. Há aqui um argumento que difere muito do ponto apresentado pela série souls, que consegue ter um desfecho do que apresenta (mesmo esse desfecho sendo, em muitos pontos, um grande ciclo). Bloodborne aposta numa lore muito mais sombria, densa e interpretativa por conta da temática de horror cósmico, e todo ponto explicito é carregado de uma profundidade apaixonante.

Enfim, esse é um dos jogos essenciais do PS4 e de sua geração, e um que me vejo rejogando até o fim de minha vida. Ficar tentando listar tudo que gostei e o porquê gostei é de uma perda de tempo sem precedentes, pois jamais conseguirei totalmente expor meus sentimentos por essa obra.
Eu amo esse jogo.

Reviewed on Mar 02, 2024


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